O resultado foi um déficit atuarial de R$ 5,6 bilhões no Postalis, provocado por investimentos suspeitos, pouco rentáveis ou que não tiveram ainda rendimento repassado ao fundo
Por Lara Rizério
SÃO PAULO – Nesta semana, o déficit atuarial de R$ 5,6 bilhões do Postalis e como ele atingiu os funcionários dos Correios veio à tona. Em matéria publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, destacou-se que partiu do Conselho deliberativo do fundo de pensão dos funcionários que houvesse um corte de até 25,98% nos contracheques dos funcionários. O rombo será avaliado ano a ano, com base na evolução das operações.
E a medida para combrir o rombo, que é alvo de protestos por funcionários dos Correios, mostram uma série de investimentos pouco razoáveis para um fundo de pensão.
Dentre eles, aplicações atreladas à Venezuela e à Argentina, em companhias de Eike Batista e em bancos liquidados como o Cruzeiro do Sul e o Banco BVA.
Os investimentos no grupo EBX, de Eike Batista, correspondiam a 1,6% dos investimentos em renda variável do instituto, conforme informou o Postalis. Hoje, não há ativos do grupo em carteira. Assim, o Postalis também estava entre os vários fundos de pensão que perderam dinheiro quando o império de commodities e petróleo do então homem mais rico do Brasil, Eike Batista, veio abaixo. Muitas das empresas de Eike estavam listadas no Ibovespa.
Além disso, o Postalis era o único investidor de um fundo administrado pelo Bank of New York Mellon Corp. que mantinha uma cesta de títulos estruturados ligados à Venezuela e à dívida argentina. O investimento perdeu 65% de seu valor desde que a Argentina deu calote, em agosto. O fundo comprou as notas em dezembro de 2011, quando era gerenciado pela Atlântica Administração de Recursos Ltda.
A perda de dinheiro também aconteceu através de aplicações em papéis de bancos como o BVA e o Cruzeiro do Sul, além da financeira Oboé, que quebraram. O Postalis comprou letras financeiras ou investiu em fundos de bancos brasileiros de segunda linha que foram liquidados pelo BC em 2012 em meio a acusações de fraude e falta de capital.
Depois de acumular déficits todos os anos desde 2011, o Postalis tem um buraco de R$ 5,6 bilhões que ofusca seus R$ 5 bilhões em ativos, segundo dados públicos. Agora, o fundo de pensão, que foi criado em 1981, está pedindo para cerca de 100.000 funcionários dos Correios aumentarem suas contribuições por 15,5 anos como saída para equacionar o déficit.
O Postalis informou a Bloomberg, por e-mail, que está tomando as providências legais para reverter as perdas e está também reestruturando seu portfólio de investimentos para melhorar seu desempenho. O Postalis está cooperando com as autoridades e espera que a investigação o ajude a recuperar fundos, disse a segunda fonte com conhecimento do assunto. A Previc, o BC e a CVM não quiseram comentar sobre a investigação. O MPF não retornou e-mails e telefonemas em busca de comentário.
E os maus investimentos do Postalis remontam à crise de 2008. O fundo de pensão apostou em um fundo que adquiriu R$ 18 milhões em notas do Lehman Brothers em agosto de 2008, um mês antes de o banco entrar com pedido de falência, segundo dados da CVM.
O BNY Mellon, com sede em Nova York, disse em um comunicado por e-mail, na semana passada, que as acusações judiciais contra a instituição são “sem fundamento” e que o investimento foi feito pela Atlântica, gestora do fundo, que foi contratada pelo Postalis.
A série de investimentos do Postalis que está sob investigação foi realizada durante o período de seis anos, até 2012, em que Alexej Predtechensky foi CEO do fundo, segundo uma das fontes ouvidas pela Bloomberg. O advogado de Predtechensky, Luiz Otávio Villela, disse que seu cliente agiu de acordo com a lei e com as condições de mercado na época, segundo um comunicado enviado por e-mail.
(Com Bloomberg)
Fonte: InfoMoney