O presidente do Banco CENTRAL (BC), ALEXANDRE TOMBINI, e os dois economistas indicados para compor a diretoria da instituição, Tony Volpon e Otávio Damaso, alinharam ontem os discursos sobre a estratégia atual de política monetária da instituição.
A uma plateia de executivos, em São Paulo, TOMBINI afirmou que o BC “foi, está e continuará sendo vigilante” para que os efeitos do ajuste de preços relativos – tarifas públicas e desvalorização cambial – não se espalhem para o restante da economia. Já Damaso, durante audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, afirmou que “é importante a política monetária permanecer vigilante” pelo mesmo motivo.
Apesar de o presidente do BC não ter dado um sinal claro de desaceleração do ciclo de alta de juros, deixando a porta aberta para uma alta de 0,5 ponto percentual ou de 0,25 ponto na próxima reunião do Copom, em abril, alguns agentes do mercado viram a apresentação de TOMBINI como um pouco mais inclinada ao aperto monetário, ou “hawkish”, no jargão econômico.
Tal leitura veio da afirmação de TOMBINI que os avanços no combate à inflação “ainda não se mostraram suficientes”. Contudo, ele lembrou que o BC trabalha para “assegurar a convergência da inflação para a meta de 4,5% em dezembro de 2016, cujos benefícios, uma vez feito isso, deverão se estender para além do próximo ano”
A taxa do Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2016, que reflete a aposta para a Selic na virada do ano, reduziu a queda após o discurso de TOMBINI e fechou perto da estabilidade a 13,27% ante 13,27% da véspera.
Para o economista-chefe da Garde Asset Management, Daniel Weeks, a afirmação de que a inflação convergirá para o centro da meta em dezembro de 2016 é um dos fatores que tornaram as declarações do presidente do BC mais “hawkish”. “Depois do TOMBINI, voltei minha projeção para alta de 0,50 ponto”, diz Weeks, que havia alterado recentemente a estimativa para 0,25 ponto.
Ao longo dos vencimentos dos contratos futuros de juros, as apostas estão divididas entre um ajuste de 0,25 e 0,50 ponto percentual na reunião de abril.
“Acho mais provável o BC desacelerar o ritmo de alta e elevar a Selic em 0,25 ponto percentual, encerrando o ciclo, uma vez que a atividade econômica está muito fraca”, afirma Arnaldo Curvello, diretor de gestão de recursos da Ativa Corretora.
O tema meta de inflação também foi abordado por Tony Volpon, que vai para a diretoria de assuntos internacionais, na audiência da CAE. Ele disse que o trabalho do BC para levar a inflação à meta de 4,5% ainda não se mostrou suficiente. Contudo, ponderou que as ações já se refletem nas expectativas e, pelas projeções para a variação do índice de preços dos modelos econômicos, a convergência “é algo factível já em 2016”. Ele disse ter “forte convicção” de haver condições para cumprir esse objetivo.
Volpon, que até a indicação era diretor da Nomura Securities, foi questionado por senadores sobre declarações críticas que fez no passado à autonomia do BC já sob. Ele disse que, de fato, criticou a parte final do ciclo de queda de juros entre 2011 e 2012, quando a Selic foi a 7,25% ao ano. “Mas, o que acho importante é que houve correção da política monetária, que continua neste momento. Apoio o que está sendo feito e quero trabalhar para que as taxas de juros sejam as menores possíveis, tendo a inflação na meta”, disse, no Senado.
TOMBINI falou ainda sobre o efeito potencializador do ajuste fiscal sobre as ações de política monetária. “Os resultados apresentados pelas estatísticas fiscais para o primeiro bimestre deste ano ainda não foram plenamente sensibilizados pelas medidas [de ajuste fiscal], cujos efeitos plenos deverão se materializar nos próximos meses de acordo com os prazos legais de cada medida”, disse.
Damaso e Volpon disseram acreditar que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, vai cumprir a meta de superávit primário de 1,2%. “Se ele está falando, ele vai cumprir. Não tenho a menor dúvida, nem motivos para dúvidas, de que ele não vai conseguir a meta que ele está prometendo”, disse, Damaso, lembrando que já trabalhou com Levy na Fazenda. Indicado para a diretoria de regulação, ele também parafraseou TOMBINI, dizendo que quanto mais fiscal, melhor para o BC.
TOMBINI voltou a classificar 2015 como um “ano de transição, com vistas a construção de bases mais sólidas para a retomada do crescimento econômico sustentável à frente”. Para ele, a expectativa é de um desempenho fraco da economia no primeiro semestre, “com ligeira melhora a partir da segunda metade e um desempenho mais favorável em 2016.”
A CAE aprovou as indicações dos nomes dos novos diretores do BC, pelo placar de 22 a 2. (Coloborou Silvia Rosa)
Fonte: Valor Econômico