Apesar de PIB negativo, Goldman Sachs prevê inflação resistente

    O impacto negativo do ajuste macroeconômico em curso sobre a atividade vai se intensificar nos próximos meses, mas a piora do crescimento e do mercado de trabalho não deve ser suficiente para que a inflação no Brasil convirja rapidamente para o centro da meta, de 4,5%. A avaliação é de Alberto Ramos, diretor de pesquisa econômica para América Latina do Goldman Sachs. 

    Em relatório divulgado para clientes da instituição na segunda-feira, Ramos reviu sua estimativa para o recuo do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre deste ano, de 0,45% para 0,8% sobre os três meses anteriores, feitos os ajustes sazonais. Para a média de 2015, a expectativa é que a economia brasileira encolha 1,1%. 

    Apesar do cenário mais negativo para o crescimento, a previsão para a alta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no período foi mantida em 8,1%, taxa que deve diminuir para 5,4% em 2016. 

    Segundo Ramos, a despeito do aprofundamento da dinâmica recessiva do “setor real” da economia e do aumento do hiato do produto – ou seja, da distância entre o PIB efetivo e o PIB potencial – hoje em campo negativo, a inflação deve continuar resistente devido a uma série de fatores. Entre os principais, ele cita as expectativas inflacionárias ainda desancoradas em relação ao centro da meta, o repasse da depreciação cambial expressiva aos preços, a transmissão do choque de itens administrados à inflação de preços livres e, ainda, o avanço da inércia inflacionária. 

    “Nossos resultados sugerem que, apesar do enfraquecimento da atividade econômica e da deterioração das condições do mercado de trabalho, aumentos de custos relacionados à resistência do crescimento nominal dos salários podem continuar pressionando a inflação em 2015 e 2016”, observa o economista. 

    De acordo com modelo econômico construído por Ramos, a variação dos salários tem respondido menos à trajetória do desemprego e da economia em geral nos últimos quatro anos. Em uma fórmula que relaciona, entre outros itens, expectativas inflacionárias, taxa de desemprego, taxa básica de juros e efeitos defasados da inflação e da taxa de juros, o economista conclui que a aderência da inflação de salários ao desemprego subiu entre 2004 e 2010, mas caiu bastante de 2011 a 2014. 

    Para o chefe de pesquisa do Goldman, esse movimento pode ser explicado por distorções provocadas pelas inúmeras medidas econômicas heterodoxas tomadas pelo governo no período, mas também pelo aumento recente da formalização do mercado de trabalho brasileiro. “Salários em mercados formais são por natureza mais rígidos, já que são fixados por contratos e geralmente sujeitos a cláusulas coletivas negociadas pelos sindicatos.” 

    Ramos ainda menciona que há vários outros mecanismos formais e informais de indexação que também devem contribuir para que os salários continuem resistentes, ainda que em menor grau. A regra atual do salário mínimo – que corrige o piso nacional de acordo com a inflação do ano anterior mais a variação do PIB de dois anos antes – é um desses instrumentos. O Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) para 2016, enviado ao Congresso na semana passada, contempla um reajuste de 8,4% do mínimo no exercício. 

    “Este e outros mecanismos informais de indexação devem manter pressões de custos dos salários relativamente altas por um tempo, apesar da economia enfraquecida e da deterioração do mercado de trabalho e, portanto, justificam uma política monetária bastante vigilante no médio prazo”, afirma Ramos.

     

    Fonte: Valor Econômico

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