O que você faria no lugar do ministro da Fazenda, Joaquim Levy? A pergunta foi respondida de maneira bem diferente por Samuel Pessôa, pesquisador do Ibre/FGV, da Fundação Getulio Vargas, e Luiz Gonzaga Belluzzo, professor da Unicamp e da Facamp, em evento organizado pela Folha de São Paulo. O pessimismo, porém, foi geral.
Para Pessôa, não há reparos a fazer nas medidas tomadas até aqui por Levy – por quem reforçou ter “profunda admiração” -, mas a situação é dramática e de “descalabro fiscal” e para isso não há solução fácil. A implementação do pacote se tornou muito difícil porque a política econômica do governo se fundou em uma “grande mentira”. “A mudança na política econômica com a saída do Mantega e a entrada de Levy é estelionato eleitoral de A Z”, disse Pessôa.
Belluzzo vê um desequilíbrio fiscal que deve ser levado em conta e tratado, mas não descalabro. À frente da política econômica, Belluzzo manteria a política de subsídios do BNDES diante da inviabilidade de financiar a segunda rodada de concessões em um cenário de juros em alta. “Não vai funcionar”, disse. Para ele, mantendo-se a política de subsídios, o investimento acontece e o efeito líquido do ponto de vista fiscal é positivo porque a economia cresce.
Apontado como a grande preocupação de Belluzzo, a retração da indústria da transformação não foi obra de apenas um governo, disse, mas da perda de capacidade de fazer política de longo prazo e do câmbio valorizado por mais de 20 anos. O grande erro do governo Dilma, emendou, foi não ter levado adiante o programa de concessões, ao tentar controlar a taxa interna de retorno. “Como é que você vai ser presidente da República se não conversa com seus parceiros sociais?”. Belluzzo disse não ter direito de ficar bravo com a presidente, eleita com voto popular, pois seria “arrogância”. Mas depois de ter cometido esse erro [nas concessões], o governo fez uma campanha eleitoral que não tem nada a ver com o que está fazendo agora e isso introduz um descrédito no processo democrático que é muito ruim”, disse, em momento de rara concordância com Pessôa.
Para o pesquisador do Ibre, além das medidas já tomadas por Levy, a retomada do dinamismo econômico viria com a elevação da carga tributária em 2 ou 2,5 pontos percentuais do PIB apenas para “tapar o buraco” criado nos últimos três anos. Seria preciso também desfazer excessos da chamada nova matriz econômica, como a participação mínima de 30% da Petrobras no pré-sal e a política de conteúdo nacional, retomando o caminho da liberalização da economia do período cunhado por Pessôa de “Malocci” – os oito anos do período Malan e três de Palocci. Por fim, seria necessário refazer o “contrato social”, de modo que a taxa de crescimento do gasto público ao menos se igualasse à taxa de crescimento da arrecadação.
Sem essas medidas, disse Pessôa, o Brasil deve, em dois ou três anos, perder o grau de investimento, passar por mais um episódio de forte desvalorização cambial e por um novo surto inflacionário, com a inflação na casa dos 12% ou 13%. “É uma lista de maldades muito grande e não sei se a Dilma vai ter combustível político para negociar tudo que precisa. Eu acho que não”, disse. “O custo ficou muito alto para arrumar. Não dá mais”.
Mesmo sem falar em descalabro, Belluzzo dá como certo o apuro em entregar o superávit primário prometido, pois a trajetória econômica é recessiva, com grande elasticidade da receita tributária em relação ao PIB, além de juros altos. Para ele, o déficit nominal vai a 8%, a dívida pública bruta a 70% do PIB e a inflação, após passar dos 8% neste ano, deve cair, mas à custa dos “de sempre”, com “tremendo desemprego e queda da renda”, lamentou. “É uma trajetória grega”.
Fonte: Valor Econômico