Recessão vai se agravar

    A corrosão do mercado de ações na China deixou o Brasil em situação bastante complicada. Em caso de alastramento da crise das bolsas de valores, a moeda chinesa, o yuan, poderá ser desvalorizada, provocando efeitos catastróficos sobre a economia brasileira. Os produtos exportados para o país asiático ficarão mais caros, inviabilizando os negócios e agravando o quadro de recessão. Com as vendas em queda, a oferta de dólares cairá, os preços da moeda norte-americana subirão, a inflação disparará, exigindo mais aumento de juros, o que impulsionando o desemprego. 

    “Trata-se de um quadro gravíssimo”, admitiu o economista Carlos Eduardo de Freitas, ex-direto da Área Internacional do Banco Central. No governo brasileiro, a apreensão é geral. Questionado sobre os impactos da crise chinesa sobre a economia brasileira, o presidente do BC,Alexandre Tombini, limitou-se a dizer, na Rússia “que está acompanhando” a situação. 

    Para os especialistas, é importantíssimo que o governo da China retome as rédeas, antes que o estouro da bolha acionária contamine outros setores, como o imobiliário, que já sofre com a desaceleração da atividade. Na avaliação do economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, “será importante monitorar os próximos passos do governo chinês, já que há espaço para a bolsa continuar caindo e o PIB (Produto Interno Bruto) do país, do segundo trimestre, que será divulgado na próxima semana, ficar abaixo de 7%”. 

    Quem acompanha diariamente a economia chinesa aposta em sérios problemas, pois o sistema financeiro da segunda economia do mundo está fragilizado. Muitos bancos concederam empréstimos a setores que estão com dificuldades de gerar recursos para pagar só débitos. Aliado ao excesso de endividamento, há instituições que atuam em um mercado paralelo, cobrando juros elevadíssimos, que só estimulam a onda de calotes.

     

    Commodities

    Na avaliação de Freitas, “caso a crise da China se agrave e o Brasil tenha perdas nas exportações, a economia brasileira voltará, paulatinamente, ao que era em meados da década de 1990: exportadora de manufaturas e commodities para os Estados Unidos e Europa, mas perdendo os ganhos comerciais com um grande parceiro, que é o mercado chinês”. 

    A professora Lia Valls Pereira, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), vai além. “O novo modelo da economia chinesa está pautado mais no consumo interno, o que provoca queda na demanda por matérias-primas, como o minério de ferro (que ontem caiu 11%, voltando aos níveis de 10 anos atrás). Caberá ao Brasil diversificar mais a pauta de exportação e não depender tanto das commodities”, disse. (RC)

     

    Fonte: Correio Braziliense

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