Às vésperas da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que anunciará na quarta-feira sua decisão sobre a taxa básica Selic, oBanco Central mudou o tom do discurso diante da redução da meta de ajuste fiscal, que surpreendeu negativamente os investidores e provocou um forte estresse nos mercados.
O dólar comercial atingiu seu maior patamar em 12 anos na última sexta-feira. A moeda americana subiu 1,58% e fechou a R$ 3,3459. Já a Bovespa zerou os ganhos no ano e registrou sua pior semana em 2015, com perda acumulada de 5,91%, recuando até os 49.245 pontos.
O menor esforço fiscal do governo e a forte escalada do dólar frente ao real reduziram, na visão de analistas, a chance de o BC desacelerar o ritmo de alta de juros na próxima reunião, levando os investidores a reverter as expectativas no mercado de juros futuros e voltar a apostar na continuidade do ritmo de aperto monetário.
Essa expectativa foi reforçada pelo discurso do diretor de política econômica do Banco Central, Luiz Awazu Pereira da Silva, na sexta-feira, que disse que há “novos riscos” para a inflação de 2016 que podem afetar o longo prazo e que o progresso no combate à inflação precisa ser “balanceado” diante de “riscos recentes”. Awazu afirmou ainda ser preciso continuar cauteloso diante da conjuntura e que a política monetáriaprecisa refletir o balanço de riscos atuais e continuar “adequadamente calibrada”.
O diretor do BC repetiu que o objetivo é garantir a convergência da inflação para o centro da meta, de 4,5%, no fim de 2016 e que a política monetária está e deve continuar “vigilante”.
Para o economista-chefe do Besi Brasil, Jankiel Santos, o discurso do diretor do BC representa um ajuste da comunicação da autoridade monetária, dada a mudança de cenário para a política fiscal. “O Awazu reforçou a expectativa de que o BC vai continuar no mesmo passo.” Obanco mantém a previsão de um aumento de 0,5 ponto da taxa Selic pelo Copom nesta semana e espera uma alta adicional de 0,25 ponto em setembro.
Pelas indicações do mercado futuro, aumentou a chance de o BC manter o ritmo de aperto monetário: a curva de juros reflete a probabilidade de 79% de chance de um aumento de 0,50 ponto percentual na taxa Selic, segundo cálculos da gestora Quantitas, além de alta adicional de 0,25 ponto em setembro.
A revisão da meta fiscal, segundo Jankiel, tende a trazer um impacto inflacionário, ao aumentar as incertezas sobre o ajuste fiscal e pressionar para cima a taxa de câmbio, o que pode atrapalhar o processo de convergência das expectativas de inflação nos anos à frente verificado nas últimas semanas.
Em evento na FGV na sexta-feira, o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, afirmou que o mercado considera a variação cambial na projeção de inflação, mas que o movimento atual é “de curto prazo” e que pode se reverter. O ministro ainda destacou que a política fiscal continua contribuindo para o controle da inflação. (Colaborou Téo Takar)