Contas. Agravamento da crise, com mais uma derrota do governo no Congresso, levou a uma forte alta ontem tanto do dólar quanto dos juros futuros e do risco País; para tentar conter a moeda americana, Banco Central vai colocar mais dólares no mercado
O dólar subiu 1,35% e encerrou a quinta-feira cotado a R$ 3,536, maior patamar desde 5 de março de 2003. Foi a sexta sessão seguida de alta.
O mau humor que paira sobre o País deu seus primeiros sinais com o anúncio da revisão das metas fiscais e o aumento do risco de o Brasil perder o grau de investimento, mas se intensificou desde o início desta semana com a reabertura do Congresso.
Na madrugada de ontem, o Plenário da Câmara aprovou uma proposta de Emenda à Constituição (PEC)que reajusta o salário de várias carreiras. A medida provoca um custo para a União de R$ 2,45 bilhões num ano de ajuste fiscal. O PDT e o PTB também anunciaram a saída da já desunida base governista, reduzindo ainda mais o apoio do governo no Legislativo. Por fim, a fragilidade do governo foi apontada por uma pesquisa do instituto Data folha, que mostrou uma reprovação de 71% ao governo Dilma Rousseff, a maior para um presidente desde que o levantamento começou a ser realizado, em 1990.
“Quase todo esse movimento de piora tem sido causado por essa turbulência política. Nos últimos dias, claramente o ambiente se deteriorou ainda mais, especialmente desde a abertura do trabalho no Legislativo. Em dois, três dias, as coisas pioraram drasticamente”, diz Silvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria Integrada.
Nesse cenário de deterioração, os juros futuros para 2021 subiram para 13,67%. Entre junho e julho, estavam oscilando entre 12,50% e 12,60%. O risco País medido pelo Credit De-fault Swap (CDS) – um papel que funciona como um seguro contra o calote de uma dívida -chegou a 325 pontos. Países com mesmo patamar de rating – BBB- pela Standard & Poor’s -têm um CDS oscilando abaixo dos 200 pontos (leia abaixo).
“Depois que ficou claro que não será possível cumprir a meta fiscal neste ano nem em 2016, houve uma onda de pessimismo”, afirma José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator. “Há uma incerteza extrema.”
Intervenção. Diante da sinalização dos investidores, o BC decidiu intervir no mercado de câmbio de forma mais intensa, ao ampliar de 6 mil para 11 mil a oferta de contratos de rolagem de swap cambial. O uso desse instrumento financeiro, na prática, fará com que o BC coloque mais dólares no mercado a cada dia para tentar conter a alta da moeda americana.
O BC, dessa forma, também volta atrás da decisão anunciada há seis dias de fazer a rolagem de apenas 60% dos contratos de swaps que estão para vencer em setembro. A instituição elevou para 100% o porcentual a ser reposto. O total é de cerca de US$ 10 bilhões. Antes, com leilões diários de 6 mil contratos, o BC deixaria de rolar cerca de US$4bilhões.
A mudança é um sinal claro de que o BC está desconfortável com a disparada mais recente da moeda americana, que pode agir como mais um fator de pressão sobre a inflação.
Antes do anúncio da medida, o diretor de Política Monetária do BC, Aldo Mendes, já havia ido a público tentar acalmar o mercado financeiro “no gogó”. Segundo ele, o nível atual de câmbio está “muito além ou acima” do que seria explicado pelos fundamentos econômicos do Brasil. “Mesmo considerando delicado o momento político do País, o preço do dólar está claramente esticado”, afirmou.
A tendência de elevação da moeda não é nova. Em 12 meses, já há uma alta de 55,74%. Chama atenção, no entanto, a “empinada” vista em prazos mais curtos: apenas em 2015, a elevação está em 33,18% e em 12,38% nos últimos 30 dias. / CÉLIA FROUFE, FABRÍCIO DE CASTRO, LUIZ GUILHERME GERBELLI, VICTOR MARTINS E AYR ALISKI