O Banco Central tentou, sem sucesso, quebrar a dinâmica de alta do dólar que, após cada anúncio de leilão, renovou máximas históricas. A visão de especialistas é que a estratégia adotada pelo BC foi limitada e que, agora ele terá de atuar com mais firmeza, seja por meio de ofertas líquidas de contratos de swap cambial, que equivalem a uma venda de dólares no mercado futuro, seja por meio da venda de divisas das reservas cambiais no mercado à vista.
“O BC operou muito mal diante de um mercado que está buscando proteção. Mas, como mostrou a cara, vai ter que ir mais firme para quebrar essa dinâmica negativa”, afirma um gestor de um grande fundo de São Paulo, que prefere não ser identificado. Para ele, o mais adequado seria fazer uma oferta mais robusta de swaps, observar a reação do mercado e, então, definir os próximos passos.
Ao ver o dólar disparar, o BC fez dois leilões de linha de dólar e ofertou 20 mil contratos de swap cambial – em que vendeu apenas 4,4 mil unidades (US$ 220 milhões) -, retomando a oferta líquida desse instrumento, suspensa desde o fim de março, quando ele encerrou o programa de venda diária desses derivativos. E já anunciou um segundo leilão com as mesmas características para hoje. Antes dessas operações, tentou atuar por meio de declarações do chefe da mesa de operações, Alan Mendes, que veio a público dizer que, “apesar da volatilidade, não está havendo saída de moeda do país”.
Para o economista-chefe da Opus Gestão de Recursos e professor da PUC-RJ, José Márcio Camargo, ainda que o equilíbrio do câmbio dependa de notícias do lado fiscal, o BC deve agir. Por causa do seu custo fiscal, a substituição dos swaps por reservas pode ser uma boa opção, embora seja uma estratégia arriscada. “A questão é que ninguém sabe como o mercado reagiria”, diz. Ainda assim, o economista acredita que a venda de dólares à vista pode ser mais adequada neste momento.
O BNP Paribas também acredita que BC pode ter de recorrer à oferta de reservas cambiais, de forma a quebrar a dinâmica negativa na qual se encontra o mercado. “Essa intervenção direta teria um impacto maior em termos de sinalização e tem vários outros impactos positivos para a perspectiva fiscal “, afirma o BNP, em relatório.
Já para a Capital Economics, ao repetir a mesma dose de oferta de swaps hoje, o Banco Central indica uma retomada do programa de “ração” diária, que envolveu a venda de mais de US $ 90 bilhões desses contratos entre agosto de 2013 e março de 2015, em um esforço para conter a queda do real. A consultoria observa que, entre ontem e hoje, o BC está ofertando US$ 2 bilhões em swaps, o mesmo volume vendido semanalmente na primeira fase do programa. De todo modo, essa estratégia não deve ser suficiente para estabilizar a moeda. “Perdas em contratos de swap de câmbio já têm inflado o déficit do Orçamento do governo em mais de 1% do PIB este ano, aumentando as preocupações com as perspectivas fiscais “, alerta a Capital Economics, em relatório. Para a consultoria, se o real continuar sob pressão, é possível que o ciclo de aperto da taxa de juros seja retomado na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) no próximo mês (20 e 21 de outubro).
Para diretor operacional da Tullett Prebon, Christiano Clemente, o mercado entrou em uma dinâmica de disfuncionalidade que pode exigir uma estratégia de intervenção ainda mais firme, tanto da parte do BC quanto do Tesouro. “A atuação do BC mostra que ele desistiu de esperar que o mercado se equilibre, mas talvez a ação tenha que ser mais firme”, diz. Para ele, o BC deveria pensar em ofertar reservas – prática que não adota desde 2 de maio de 2012. “O argumento de que não tem demanda não convence. Se não tivesse demanda, não estaria em R$ 4,10.”
Fonte: Valor Econômico