Após dois pregões consecutivos de queda, o dólar subiu ontem e retomou o patamar acima de R$ 4,00 diante da preocupação com um novo rebaixamento do rating soberano, aversão a risco no exterior e o fato de o Banco Central não ter realizado nenhuma atuação adicional no mercado de câmbio.
A moeda americana avançou 3,39% fechando a R$ 4,1085, maior alta em termos percentuais desde 21 de setembro de 2011.
Apesar do avanço do dólar, o BC se manteve fora do mercado e realizou apenas o leilão de rolagem de 9.450 contratos de swap cambial do lote de US$ 9,458 bilhões que vence em outubro. A ausência de uma atuação mais firme do BC, como a adotada na semana passada, ajudou a intensificar a valorização da moeda americana, com os investidores testando novos níveis para ver se a autoridade monetária anunciaria alguma ação extra. “Acho que o BC vai agir de acordo com a demanda e volatilidade. Se ele quisesse derrubar a cotação ele teria entrado no mercado ontem, mas não acho que essa seja a intenção dele”, afirma Henrique de la Rocque, gestor de renda fixa e derivativos da Brasif Gestão, destacando que as moedas emergentes no exterior também tiveram um dia de desvalorização.
Após o fechamento dos mercados, o BC informou que ofertará hoje até US$ 2 bilhões por meio de dois leilões de linha de dólar com compromisso de recompra, além de oferecer mais US$ 1 bilhão em leilão extra de swap cambial.
Ontem, a moeda americana ampliou a alta no fim do pregão, quando chegou a alcançar a máxima de R$ 4,11, após declarações do diretor-geral da Fitch Ratings no Brasil, Rafael Guedes, de que a meta de superávit primário de 0,7% do PIB no ano que vem depende de medidas que sofrem resistência no Congresso e que a previsão de déficit para 2016 coloca nova pressão sobre o rating brasileiro.
O diretor da Fitch ressaltou, no entanto, que a agência tradicionalmente não faz ajuste de dois degraus, o que indica a chance da Fitch rebaixar a nota de crédito do Brasil, mas manter o selo do país em grau de investimento.
Para o BNP Paribas, a venda de dólares no mercado à vista teria impacto positivo mais direto e extenso sobre o real neste momento. O banco sugere que o BC venda uma pequena quantidade das reservas internacionais, algo entre 5% a 10% do estoque de mais de US$ 370 bilhões. “Como o Brasil não tem um problema de balanço de pagamentos ou falta de dólares, uma intervenção direta no mercado à vista seria mais eficiente em nossa visão”, apontam os analistas em relatório.
Investidores mantêm a cautela na semana de agenda carregada, que inclui a reforma ministerial, dados fiscais e a votação dos vetos a pautas-bomba.
Ontem, as taxas dos contratos futuros de juros também subiram acompanhando a alta do dólar e o ambiente negativo no cenário doméstico.
O Tesouro Nacional não aceitou nenhuma proposta no leilão de Notas do Tesouro Nacional – série F (NTN-F), que faz parte do programa de leilões diários anunciado na semana passada e que se estenderá até o dia 2 de outubro. Isso contribuiu para a alta taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI). O DI para janeiro de 2016 subiu de 14,63% para 14,91%, enquanto o DI para janeiro de 2021 avançou de 15,73% para 16,42%.
Fonte: Valor Econômico