Tensão retorna: dólar dispara e bolsa desaba

    Moeda norte-americana sobe 3,58%, para R$ 3,89 %u2014 a maior alta em um único dia desde setembro de 2011. Desaceleração da China e crise política interna aumentam o nervosismo e levam a Bovespa a ter o pior pregão do ano, com queda de 4%

    Depois de uma semana de bonança, os mercados voltaram à dura realidade. Ontem, o dólar subiu 3,58%, na maior alta em um dia desde 21 de setembro de 2011, fechando a R$ 3,894. E o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa), recuou 4%, encerrando o pior pregão do ano em 47.362 pontos. O tombo, o maior desde 1º de dezembro de 2014, veio depois de um rali de nove altas seguidas, com valorização de 12,24%.

    As explicações para o mau humor generalizado estavam dentro e fora do país. O economista-chefe do Banco Modal, Álvaro Bandeira, destacou o problema doméstico. “O que mais atrapalha é o estresse político”, afirmou. Ontem, o Supremo Tribunal Federal (STF) concedeu liminar que dificulta uma possível decisão para o início de um processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

    O economista sênior do banco Haitong, Flávio Serrano, também viu na política o fator preponderante para a turbulência. “Temos um quadro de indefinição, o que é muito ruim”, disse. “O dólar poderia seguir para R$ 3,80 em um contexto de tranquilidade, mas não é isso que temos”, afirmou.

    Para o economista-chefe da AZ FuturaInvest, Paulo Nogueira Gomes, “a única certeza é que os mercados vão continuar com muita volatilidade”. Na sua avaliação, o cenário externo foi a principal motivo do comportamento do câmbio e das ações ontem. O que mais causou tumulto no mercado global foram a queda de 20% nas importações da China em setembro, ante expectativa de redução de 15%.

    Gomes explicou que esse dado, que mostra desaquecimento da segunda economia global, emite sinais ambivalentes, ampliando a volatilidade. De um lado, traz pessimismo com a recuperação da atividade e da demanda. De outro, aumenta as apostas de que o Fed (Federal Reserve, autoridade monetária dos Estados Unidos) vai deixar para o próximo ano a decisão de elevar os juros – algo que, quando ocorrer, vai provocar saída de recursos de países emergentes.

     

    Desafios 

    Os analistas da Coinvalores Felipe Silveira e Daniel Liberato destacaram a repercussão na bolsa de declarações de membros do Fed, que mencionaram a possibilidade de elevação dos juros ainda em 2015. “A inflação ainda está muito baixa nos EUA. No entanto, alguns dirigentes acham que é possível a autoridade monetária subir juros já na reunião de dezembro”, afirmou Silveira. Na avaliação de Liberato, a queda nas importações da China foi responsável por derrubar a Bolsa. “Isso abala sobretudo os países que vendem muitas commodities, como o Brasil, porque derruba os preços dos produtos”, explicou.

    Liberato ressaltou que, após o rali de nove altas seguidas no Ibovespa, os investidores aproveitaram para realizar lucros, vendendo ações que se valorizaram nos últimos pregões.

    Um fator determinante foi a queda dos papéis dos quatro maiores bancos do país – Banco do Brasil, Itaú, Bradesco e Santander -, depois que o Credit Suisse reduziu a recomendação dessas ações, avaliando que as instituições devem enfrentar desafios diante das dificuldades da economia brasileira. Em conjunto, elas perderam ontem R$ 23,66 bilhões em valor de mercado.

    Outro componente que contribuiu para a queda das ações foi o fato de ter sido o primeiro pregão depois de um feriado. Na segunda-feira, ações de empresas brasileiras negociadas na Bolsa de Valores de Nova York tiveram forte queda, algo que foi incorporado aqui, ontem, ao preço dos papéis. (Colaborou Simone Kafruni)

     

    Prejuízos

    As intervenções do BC no mercado por meio dos contratos de swap cambial já custaram R$ 74 bilhões aos cofres públicos entre janeiro e agosto. Em setembro, o custo pode ter chegado a R$ 30 bilhões, na estimativa do economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito. Para ele, o BC poderá diminuir a rolagem desses contratos, que equivalem à oferta de dólares no mercado futuro. Ele acha que a divisa terminará o ano abaixo da cotação atual, a R$ 3,80.

     

    Fonte: Correio Braziliense

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