A presidente Dilma Rousseff ainda resiste a mudanças no comando do Ministério da Fazenda, mas, informalmente, já começou a sondar nomes para uma possível substituição de Joaquim Levy. A petista sabe que o momento é muito perigoso para mexer na equipe econômica,mas tem a clara noção de que, com os ataques que vem recebendo do PT e, em especial, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro pedirá para sair.
Levy tem dito a seus interlocutores que sabe que ela está procurando alguém para o cargo. Nos últimos dias, ele deixou claro que, mantido o fogo amigo, dará por encerrada a sua contribuição ao governo. Dilma, em viagem à Suécia, reforçou que o titular da Fazenda não está deixando a pasta. “Ele (Levy) não está saindo do governo. Ponto. Eunão tratomais desse assunto”, afirmou ela, ontem, em Estocolmo. “O Brasil precisa aprovar a CPMF para que a gente tenha um ano de 2016 estável, do ponto de vista do reequilíbrio das nossas finanças”, completou.
A troca de comando na Fazenda é dada como certa entre integrantes da equipe econômica e parlamentares da base aliada. E, paraos técnicos,isso só não aconteceu ainda porque a Dilma não tem um sucessor em mente. Mas não é só. Ela precisa convencer o escolhido de que dará toda a autonomia para fazer os ajustes necessários na economia. Foi com esse discurso que a presidente seduziu Levy a embarcar na canoa do governo que, agora, ele admite estar furada e pode afundar a qualquer momento.
A pressão para Levy deixar o governo já se instalou na família dele e entre os amigos mais próximos, que não veem razão para ele aceitar tanta humilhação pública. Ontem,diante das declarações do presidente do PT,Rui Falcão, à Folha de S. Paulo, de que, caso não aceite fazer mudanças na política econômica, titular da Fazenda deve sair, as pessoas mais próximas do ministro estão cobrando uma reação. “O desrespeito passou dos limites”, disse um assessor do ministro. Dilma, por sua vez, disse na Suécia que “a opinião do presidente do PT não é a opinião do governo”.
No Ministério da Fazenda, o clima é de tensão e de fim de festa. “Estão todos arrasados. Levy estava cheio de ótimas intenções para o país. Desdobrou-se para tentar resgatar a confiança no governo ao propor um ajuste fiscal consistente,mas foi sabotado por gente do próprio governo”, acrescentou o mesmo técnico.
Orçamento
Segundo ele ,o envio para o Congresso da proposta do Orçamento de 2016 com deficit de R$ 30,5 bilhões foi o início do descontentamento de Levy que, agora, chegou ao ápice. “Nunca vi o ministro tão cabisbaixo. Ele sentiu o baque do fogo amigo que não para de atacá-lo”, emendou.
Analistas demonstram preocupação com a fato de que o Planalto não está conseguindo governar devido à baixa popularidade de Dilma. As apostas de um substituto de Levy estão abertas.
Nomes como o diretor do Banco Central Tony Volpon, ganham força, mas fontes próximas a Lula dizem que ele não abandonou a ideia de indicar o ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, um desafeto de Dilma. Fontes do governo acham muito difícil que ele aceite o convite porque ele sabe que não terá autonomia. “Neste momento, o governo precisa de uma pessoa com perfil parecido com o do atual ministro mas com experiência e visão do setor produtivo. Para que o país faça a travessia que o governo alguém com esse perfil, que não venha do setor financeiro”, disse um membro da base aliada.
Com Levy quase fora do governo,acreditam integrantes da equipe econômica, será praticamente impossível aprovar qualquer medida de ajuste fiscal. O ministro vinha tentando, nos últimos dias, convencer os parlamentares sobre a importância de apressar a votação das medidas que foram encaminhadas ao Legislativo há mais de um mês. Mas, desprestigiado dentro do governo, o chefe da Fazenda perdeu seu papel de âncora da estabilidade.
O pior, admitem técnicos, é que não existe hoje no entorno de Dilma ninguém com capacidade para fazer a interlocução política com o Congresso, que, como a presidente, só tem olhos e ouvidos para o impeachment. O economista Carlos Thadeu de Freitas Gomes, chefe da Divisão Econômica da Confederação Nacional do Comércio (CNC), faz um alerta sobre os riscos que o país corre se não arrumar logo as contas públicas. “Levy representa a âncora fiscal. Perder essa âncora prejudica o quadro, a não ser que Dilma encontre uma nova figura com apoio político”, disse.
Para o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, a saída de Levy reflete mais uma necessidade de encerrar essa “angústia” com o downgrade do Brasil pelas agências de classificação de risco. “Para o mercado, interessa a saída do Levy porque já rebaixa logo e mostra que tudo está horrível mesmo. Quem possui o kit terror – vendido em bolsa e comprado em dólar – lucraria com essa saída”, ressaltou ele, lembrando que não acredita na saída do ministro porque ele ainda consegue passar para as agências que algum tipo de ajuste será feito nos próximos anos e que a crise política é que está atrasando o processo.
No entender do economista José Luis Oreiro, professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a saída de Levy é inevitável. Mas ele acredita que será difícil para Dilma encontrar um substituto para o cargo dentro do partido ou no governo, pois o rol é muito limitado. “Se ela escolher alguém que o mercado não respeita, será pior. O país entraria em uma espiral de pessimismo auto alimentadora”, alertou. (Colaborou Celia Perrone)
Fonte: Correio Braziliense