Seis anos de inflação longe da meta

    Banco Central assume que custo de vida ficará acima de 4,5% em 2016, levando o governo Dilma a nunca ter fechado com o índice desejado

    Após jogar a toalha e admitir que não entregará a inflação de 2016 na meta, de 4,5%, o Banco Central, no governo Dilma Rousseff, acumulará seis anos sem conter os aumentos anuais dos custos de vida. Para piorar a situação, o presidente da autoridade monetária, Alexandre Tombini, pode ser obrigado a se submeter ao constrangimento de escrever, por dois anos seguidos, cartas ao ministro da Fazenda para explicar o fato de a carestia ter superado o teto de tolerância para inflação, de 6,5%. 

    A primeira delas será entregue ao chefe da equipe econômica em janeiro de 2016. Isso ocorrerá porque o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) até outubro já acumula alta de 8,49% e, em 12 meses, de 9,77%. No mercado, os analistas estimam que a carestia ultrapassará os 10%. Somente uma queda brutal nos preços de produtos e serviços em novembro e dezembro evitará que Tombininecessite esclarecer os motivos do aumento do custo de vida. Mas a probabilidade de que isso ocorra é ínfima. 

    O risco de o chefe da autoridade monetária ter que repetir em janeiro de 2017 o ritual que atesta o fracasso do governo no combate àinflação é grande. Analistas estimam que, com o aumento do dólar e o encarecimento da energia elétrica, as empresas serão obrigadas a repassar os custos para produtos e serviços, mesmo com a economia em frangalhos. Assim, o IPCA terminará 2016 mais próximo de 7%.  Sem munição para conter a escalada do custo de vida, porque um aumento de juros aprofundaria ainda mais a recessão econômica, o BC se manterá de braços cruzados enquanto o governo não executa o ajuste fiscal. 

    O reequilíbrio das contas públicas, fundamental para conter a trajetória de alta da dívida pública, está distante e, com isso, a tendência é que os investidores mantenham as posições em dólar para evitar prejuízos com aplicações no país, pressionando ainda mais a carestia. Em março de 2011, o BC estimou, por meio do Relatório Trimestral de Inflação, que a elevação do custo de vida seria de 5,6%. Em dezembro daquele ano, o IPCA chegou a 6,5%. No ano passado, a autoridade monetária estimou que o indicador chegaria a 6,1%, mas o resultado foi pior: 6,41%. Procurada, a autarquia informou que o regime de metas para a inflação foi estritamente cumprido entre 2011 e 2014. 

    Expectativas

    Na avaliação do economista-chefe da INVX Global Partners, Eduardo Velho, sem a execução do ajuste fiscal, a inflação do próximo ano caminha para um piso de 7%. Para ele, além das pressões oriundas do encarecimento do dólar, haverá a da alta da conta de luz, que subirá significativamente, na opinião dele. “As empresas serão obrigadas a repassar prejuízos acumulados aos consumidores mesmo com a recessão econômica. Com isso, o custo de vida não dará trégua”, comentou.

    Velho ressaltou que o governo enfrenta uma crise de credibilidade que impede uma melhora do cenário macroeconômico. “Quando eles sinalizam que deixaram o regime de metas anuais e dizem que vão trabalhar com um horizonte maior, criam mais desconfiança. Somente em países com inflação baixa e forte reputação foi possível consolidar esse modelo”, afirmou.

     

    Fonte: Correio Braziliense

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