Empresários, sindicalistas e políticos – não todos – deveriam dedicar ao combate da inflação a mesma energia que dispensam à taxa de juro porque, no Brasil, o juro real não serve para quase nada, hoje. A Selic, por esse ângulo, é quase a correção monetária da inflação que neste ano cola em 10% pela variação do IPCA. O juro brasuca tem uma grandeza nominal, mas não cumpre um papel ante uma inflação igualmente alta exatamente porque sua potência é destruída pela força dos preços.
Existem basicamente dois conceitos de taxa de juros real: a esperada e a efetiva. A esperada, superior a 8%, torna o futuro assustador. A efetiva, em torno de 3%, torna o presente também assustador. A inflação brasileira é a prova cabal de que a economia está em total desequilíbrio.
O juro real esperado é a diferença entre a expectativa dos agentes econômicos para o juro futuro e a inflação futura. Essa taxa esperada é relevante para decisões de investimento, pois empresários comparam a expectativa de retorno do investimento com a rentabilidade esperada em títulos do governo.
O juro real efetivo é a diferença entre a taxa de juro nominal e a inflação observada em determinado período. É a taxa de juro real efetivamente observada. Esse juro efetivo é relevante para distribuição da renda e custo efetivo da dívida do governo – da dívida pública – entre outros custos.
Tendo a Selic como juro observado e confirmando sua manutenção em 14,25% ao ano pelo Copom na reunião de outubro e provavelmente na terceira semana de novembro, quando ocorrerá o último encontro do colegiado neste ano, a Selic efetivamente observada em 2015, em termos nominais, será de 13,26%. Considerando inflação mediana de 9,9%, o juro real estará ao redor de 3%. Inflação acima de 10% neste ano, como projeta o time Top 5 da pesquisa Focus, do BC, torna 3% teto de juro real.
Essa taxa é quase a metade da vista no ano passado e a menor em 11 anos de PT no Palácio do Planalto. A exceção é 2012, quando o juro real foi de 1,54%. Essa taxa foi apontada por muito tempo como uma das causas da resistente inflação brasileira porque foi resultado de um ciclo de afrouxamento monetário intenso e prolongado, que teve início subitamente, no fim de agosto de 2011.
Depois da entrevista do diretor de Política Econômica do Banco Central, Altamir Lopes, na semana passada, indicando que a convergência da inflação para a meta de 4,5% se dará em 2017 e todo esforço será feito para que o indicador não ultrapasse o teto de 6,5% em 2016, entra no radar a possibilidade de o juro real efetivo subir a 6,29% no ano que vem, caso a Selic permaneça em 13,25% o ano todo.
Pior, muito pior, será se o Copom decidir manter a taxa nos atuais 14,25% ao ano para a mesma inflação de 6,5% em 2016. Neste caso, o juro real efetivo no Brasil saltaria de cerca de 3% para mais de 7%.
Fonte: Valor Econômico