Resistência de Dilma a troca na Fazenda freia exigências de Meirelles

    A troca de Joaquim Levy por Henrique Meirelles no Ministério da Fazenda está sendo discutida no governo há mais de três meses, mas não saiu até agora por resistência da presidente Dilma Rousseff. Ela hoje se mostra menos refratária à ideia, no entanto, se Meirelles voltar ao governo não deve esperar carta branca da presidente tanto na substituição ou escolha de pessoal como para medidas econômicas.

    Fontes que participaram das negociações contaram ao Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor, que a única certeza, no momento, é a saída do ministro Levy. Ainda sem data marcada. O ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles é o nome mais forte, tem padrinhos e lobbies poderosos, mas a presidente não bateu o martelo. E pode até sair com uma surpresa.

    A narrativa da novela ajuda a entender um pouco a falta de uma decisão, até agora.

    Na primeira semana de novembro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu desanimado de uma conversa que teve com a presidente Dilma Rousseff, na qual tratou da crise econômica e da substituição de Levy.

    Dilma mostrou-se menos refratária que de outras vezes à ideia da substituição de Levy pelo ex-presidente do Banco Central de Lula, Henrique Meirelles. Mas não deu abertura para as supostas exigências que Meirelles estaria fazendo para aceitar o cargo.

    Entre essas exigências estaria a indicação de novos nomes para o Ministério do Planejamento, atualmente ocupado por um afilhado de Lula e Dilma, o economista Nelson Barbosa, e para o Banco Central (BC), comandado por Alexandre Tombini.

    Havia outras exigências. Algumas delas, na realidade, teriam deixado Dilma aborrecida, pois se referiam a intervenções que ela nunca fez nem pelo ex-presidente Lula, o padrinho político a quem deve sua eleição para a Presidência da República.

    Em conversa com um integrante do núcleo de governo, a presidente Dilma já havia avisado que não é sua intenção demitir Barbosa. Mas nada foi dito sobre o futuro do presidente do BC, Alexandre Tombini – a combinação de juros altos e inflação na faixa dos dois dígitos conspiram contra o ministro.

    A conversa que deixou Lula desanimado ocorreu na primeira quinta-feira de novembro. O ex-presidente foi convidado, mas não queria ir a um café da manhã no Palácio da Alvorada. Acabou indo, convencido pelo novo chefe da Casa Civil, Jaques Wagner. Além da anfitriã e de Wagner, estiveram presentes o ministro Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) e o assessor especial Giles Azevedo. A conversa inteira girou em torno da economia e da troca de Levy.

    A vinda de Meirelles é vista no governo como um fator de resgate da credibilidade – o país corre o risco de sofrer novos rebaixamentos de notas por agências de classificação de risco. Já a posição de Levy é considerada insustentável, criou caso para a nomeações políticas em sua pasta (Susep) e não consultou ninguém para a desastrada reunião que teve com um grupo de senadores na última terça-feira.

    No café da manhã, Lula afirmou que só a recuperação da economia é capaz de resgatar a popularidade da presidente da República e consequentemente do PT, nas próximas eleições. Para o ex-presidente, Meirelles é o fator de resgate da responsabilidade – um enunciado, aliás, que não é compartilhado por boa parte do PT que hoje se opõe às medidas de Joaquim Levy.

    Para dirigentes do PT, a chegada de Meirelles ao governo não é exatamente para o ministro fazer o que o ex-presidente quer. É possível recuperar a credibilidade e não ter resultados que permitam ao PT dizer ´olha, a base social e eleitoral do partido não gosta do Meirelles, mas ele acertou a economia”.

    A troca de Joaquim Levy por Henrique Meirelles no Ministério da Fazenda só não saiu até agora porque a presidente não quis. Seu candidato ao cargo era o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, nome que voltou a ser mencionado nas últimas conversas palacianas.

    A eventual volta de Meirelles não será uma decisão fácil para a presidente. O ex-presidente do Banco Central não tem a simpatia da presidente, mas até o ex-ministro Antonio Palocci entrou no circuito. Ele foi a Brasília para fazer uma análise da conjuntura econômica para a presidente. E aproveitou a conversa para “amaciar a hipótese Henrique Meirelles”.

    Um dos primeiros interlocutores a ouvir que Dilma pensava mudar Levy ficou sabendo quase por acaso. Dilma disse que tiraria Aloizio Mercadante da Casa Civil. O interlocutor quis saber o que ela faria com Levy. A presidente não se fez de rogada e respondeu que ele deveria ser mudado. “A senhora vai colocar o Nelson Barbosa [Planejamento]?”, entusiasmou-se o interlocutor. “Não, eu não vou colocar o Nelson. Eu estou procurando”. E encerrou a conversa.

    Quase ao mesmo tempo, Lula procurava reforçar a posição de Meirelles. O ex-presidente também achava que o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) deveria sair do governo. Mas disse que não tocaria mais no assunto, porque sabia que Dilma Rousseff não iria trocar o ministro.

    Ao relatar as conversas que teve com Dilma, depois que voltou para São Paulo, Lula voltou a insistir que ficara desanimado. “Não vou tocar mais nesse assunto [recuperação da economia]. O que eu tiver que dizer agora vou falar para fora”.

    Não deixa de ser uma mudança de humor do ex-presidente. Há algumas semanas, segundo testemunhos da conversa, Lula teve o seguinte diálogo com Dilma: “E o Meirelles?”. “Você sabe que eu não gosto dele”, respondeu a presidente. “Então já melhorou, porque antes você não queria nem falar dele”, arrematou Lula.

    Fonte: Valor Econômico

    Matéria anteriorEuforia com Meirelles pode se mostrar injustificada
    Matéria seguinteLevy sinaliza que quer deixar o governo