As empresas vão sofrer pressões crescentes para detalhar informações financeiras que o mercado de capital necessita para avaliar riscos e oportunidades na transição para descarbonizar a economia.
Mark Carney, presidente do Conselho de Estabilidade Financeira (FSB, na sigla em inglês) anunciou na Conferência do Clima, em Paris, a criação de um grupo de especialistas (“task force”) para elaborar recomendações às empresas sobre como elas devem publicar suas exposições aos riscos climáticos. A ideia é ajudar os bancos, seguradoras, investidores e acionistas a compreenderem “esses riscos que tendem a crescer com o tempo”.
O grande regulador global do mercado financeiro, o FSB é composto de países que fazem 90% das emissões mundiais de efeito-estufa e acumulam 95% dos ativos financeiros. E sua decisão ocorre no rastro de alertas crescentes de especialistas sobre enormes consequências financeiras de um aquecimento descontrolado do planeta, elevando catástrofes naturais e seu impacto sobre as economias.
Também presidente do Banco da Inglaterra, Mark Carney já tinha advertido que investidores enfrentam enormes perdas potenciais com ações na área climática, com risco de ativos de petroleiras ficarem encalhados por regras mais duras para combater a mudança climática. Em Paris, ele foi além, sugerindo que as empresas precisam ter estratégias para se adaptar a um mundo na qual a poluição causada por combustível fóssil será eliminada progressivamente.
O grupo no FSB será presidido pelo bilionário Michael Bloomberg, ex-prefeito de Nova York, e será composto de 10 especialistas, a serem anunciados até março. E vai considerar três tipos de riscos: físico, ou impactos de eventos relacionados com o clima, como inundações, secas e tempestades; questões de responsabilidade decorrentes de investidores processando empresas por não divulgarem riscos ou partes que sofrem perdas exigindo indenização daqueles que julgam responsável pelos problemas, e questões de transição em que os ativos, especialmente reservas de combustível fóssil, são reavaliados devido à transição a uma economia de baixo carbono.
“Uma vez que você tem informações para fazer julgamentos sobre companhias e setores, e sua exposição à mudança climática, e suas estratégias, então o mercado pode se mover mais rapidamente”, afirmou Carney.
Analistas citam estudos indicando, entre as 250 maiores companhias do mundo, uma enorme variação e métodos sobre como dão informações sobre os riscos relacionados ao clima. As europeias são as que melhor informam sobre suas emissões de carbono. As companhias de petróleo e gás, por sua vez, estão entre as piores, enquanto as de transportes e entretenimento estão entre as mais transparentes.
O FBS insistiu que o grupo de especialistas vai desenvolver padrão voluntário, para corrigir o que Carney chama de “deficiência do mercado”. Na prática, porém, está sendo pavimentado o terreno para a imposição de regras mais rigorosas sobre riscos climáticos, que companhias e setor financeiro deverão seguir.
Cerca de 400 investidores institucionais representando US$ 24 trilhões em ativos endossaram um apelo global para os governos serem firmes na transição de suas economias para baixo carbono, e prometem investir mais em projetos sustentáveis.
Fonte: Valor Econômico