Dilma propõe ´convivência institucional´ com vice

    A presidente Dilma Rousseff e o vice-presidente Michel Temer combinaram, ontem à noite, que vão manter uma “relação pessoal e institucional profícua, sempre considerando os maiores interesses do país”. Foi este o teor da nota divulgada pelo PALÁCIO DO PLANALTO após o encontro, que durou cerca de 40 minutos. Diante das câmeras de tevê, Temer deu uma declaração na mesma linha: a relação será “o mais fértil possível”. Foi o primeiro encontro de ambos desde a divulgação da carta que o vice enviou a Dilma, na segunda-feira, onde afirma que a presidente “não tem confiança” nele nem no PMDB.

    Após a reunião, Dilma foi jantar no Palácio da Alvorada com os ministros da Casa Civil, Jaques Wagner, da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, e da Justiça, José Eduardo Cardozo. Temer, por sua vez, encaminhou-se ao Palácio do Jaburu, residência oficial da vice-presidência, acompanhado de aliados. O Valor apurou que a conversa foi boa, sem momentos de tensão. Temer ponderou que, como presidente do PMDB, não podia contemplar nenhum lado no processo de impeachment e que busca equilibrar as divergências no partido. Mas ressaltou que não há “rompimento” da sigla com o governo.

    A relação entre ambos deteriorou-se após a revelação da correspondência, onde Temer desfia queixas e elenca situações onde ele e seus aliados teriam sofrido desfeitas. Ele decidiu redigir a carta após sentir-se constrangido pela pressão da própria Dilma e de ministros de seu entorno para que declarasse apoio à presidente em face do impeachment.

    Ontem interlocutores de ambos os lados fizeram gestos durante o dia para distensionar o ambiente. Wagner avaliava, no final do dia, que a carta era mais um “desabafo” que um aviso de rompimento. “Mágoas existem, mas não são incontornáveis”, define uma fonte do Planalto que acompanha a crise de perto.

    Os sinais, contudo, são de que nessa convivência “institucional”, Dilma e Temer cuidarão cada um de si na batalha do impeachment. Enquanto a presidente se empenhará em mostrar que o governo está em pleno funcionamento – investindo em agendas como a entrega de residências do Minha Casa, Minha Vida – Temer vai percorrer o país para ouvir o PMDB e tentar reunificar o partido.

    Dilma decola hoje para a posse do novo presidente da Argentina, Maurício Macri. Já o vice Michel Temer aterrissa em Porto Alegre (RS), ao lado do ex-ministro Eliseu Padilha. Na capital gaúcha, Temer se reúne com o governador Ivo Sartori, do PMDB. Depois, expõe a empresários gaúchos o documento “Uma ponte para o futuro”, conhecido como “Plano Temer” para a economia. O encontro com Sartori faz parte da articulação de Temer para ouvir as lideranças da sigla. Ele está se reunindo com os governadores do PMDB: na semana passada, esteve com Paulo Hartung, do Espírito Santo.

    Ontem, na primeira declaração à imprensa desde a abertura do impeachment, Temer afirmou a legitimidade da decisão da Câmara dos Deputados, que autorizou o voto secreto e a formação de chapas avulsas para a composição do comissão especial. O ato foi suspenso por liminar do Supremo Tribunal Federal.

    “A Câmara ontem [anteontem] tomou uma deliberação no exercício legítimo de sua competência”, disse Temer. “Em face de medida judicial, o Supremo suspendeu preliminarmente, temporariamente, essa medida para exame posterior do plenário. Isso revela exatamente que vivemos no regime de uma normalidade democrática extraordinária.”

    No meio da tarde, o ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, rebateu o vice ao afirmar que não considera legal o procedimento que norteou a composição da comissão especial. “Eu não concordo com os procedimentos da eleição da comissão, não há razão para acreditarmos em chapa avulsa, quando lemos o texto da lei e conhecemos o funcionamento do Congresso”, afirmou. Sobre a divergência com Temer, o ministro ressalvou que “isso é democrático e legítimo, não tem governo monolítico”.

     

    Fonte: Valor Econômico

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