Mendes, do BC, esfria expectativas de corte de juro

    O diretor de política monetária do Banco Central (BC), Aldo Mendes, tirou da mesa, por ora, a possibilidade de redução da Selic, fixada em 14,25% ao ano, e reafirmou o objetivo do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a inflação abaixo do teto de 6,5% em 2016 e fazer a convergência para a meta de 4,5% em 2017.

    Em discurso a investidores em São Paulo, Mendes explicou que a inflação atual elevada, as expectativas fora da “zona de convergência” e a inércia inflacionária “não deixam espaço para uma flexibilização das condições monetárias”.

    A fala de Mendes pode ser vista como mais um movimento do BC em reconstruir o canal de comunicação formal e informal com o mercado, depois da nota divulgada pelo presidente, Alexandre Tombini, no primeiro dia de reunião do Copom de janeiro, alertando para revisões nas projeções de crescimento do FMI. A nota gerou diversas críticas, conforme reorientou as expectativas para a estabilidade da Selic na véspera da decisão, após diversos acenos de alta.

    No decorrer da semana, os diretores do BC e o próprio Tombini tiveram encontros com agentes do mercado que ajudaram a consolidar a expectativa de estabilidade da Selic por longo período. Agora, Mendes consolida a orientação e complementa que ainda é cedo para pensar em corte do juro básico, mesmo considerando “o ambiente externo com nítido viés de menor crescimento e a abertura do hiato do produto doméstico”.

    Mendes também reiterou que “manter a vigilância é fundamental para fortalecer o cenário de convergência da inflação para a meta”, mesmo diante da expectativa de redução da inflação nos próximos meses. Tal postura vigilante se faz necessária, pois o BC não pode descuidar dos mecanismos de indexação e do estado das expectativas inflacionárias, longe da meta de 4,5%.

    Para o diretor, o pico da inflação acumulada em 12 meses já foi atingido e nos próximos meses os índices vão recuar em função do menor ajuste de preços administrados e da própria dinâmica da economia.

    O diretor lembrou que o BC tem atuado para conter a perenidade da inflação e voltou a lembrar que a economia tem “mecanismos inerciais”, que fazem com que choques de custo tenham repercussão maior na inflação. As reiteradas menções à inércia e à indexação podem ser vistas como uma resposta às críticas de parte do mercado de que o BC estaria minimizando esses vetores ao fazer projeções sobre a inflação em 2016 e 2017.

    Mendes também deu um recado aos colegas responsáveis pela política fiscal, ao afirmar que o BC acredita no cumprimento da meta de superávit primário de 0,5% do PIB em 2016 e dizer que essa é a “hipótese básica de trabalho em suas projeções”.

    Em diversas ocasiões, Tombini disse que “quanto mais fiscal, melhor” e que embora independentes, as políticas fiscais e monetárias são complementares.

    A avaliação feita por Mendes sobre o quadro externo não difere muito daquela já externada pelo Copom. O ambiente global tornou-se mais complexo e menos previsível. Além disso, a queda no preço das commodities tem impacto adverso sobre produtores, mercados e denota “riscos para a estabilidade financeira global”. Citando o presidente do BC da Inglaterra, Mark Carney, Mendes lembrou que as condições financeiras globais se deterioraram notavelmente.

    Mendes também lembrou que a resposta dos BCs de países desenvolvidos à desaceleração do crescimento contribui para o aumento das incertezas globais.

     

    Fonte: Valor Econômico

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