O aumento da inadimplência das empresas e dos consumidores tem levado os bancos a aumentar as taxas de juros para restringir a oferta de operações de crédito. Dados do Banco Central (BC) mostram que em janeiro o nível de calotes das companhias chegou a 4,7%, o maior desde o início da série histórica, em março de 2011. Já o percentual de dívidas com mais de 90 dias de atraso das pessoas físicas alcançou 6,2%, o pior resultado desde julho de 2013.
Os juros médios de operações de crédito atingiram 31,5%, para pessoa jurídica, e 66,1%, para consumidores. Nos dois casos, as taxas são recordes. E para piorar a situação, quase todas as modalidades de financiamento para empresas e pessoa física ficaram mais caras em janeiro. A do cheque especial cravou 292,3% – a maior desde julho de 1994 – e a do cartão de crédito rotativo a 439,1%, a mais elevada desde março de 2011.
Essa elevação, apesar de a Selic estar estável em 14,25% ao ano desde julho de 2015, segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel, ocorre porque as instituições financeiras estão temerosas com a possibilidade de aumento do calote e de retração mais acentuada da atividade econômica.
A alta da inadimplência e o aumento dos juros levaram a uma queda de 0,6% do estoque total de crédito. Setores como o de eletrodomésticos e de móveis estão entre os mais afetados porque dependem dos financiamentos. Maciel avaliou que a tendência para os próximos meses é de elevação do nível de calote. De acordo com ele, esse movimento é comum em períodos de retração econômica, e ressaltou que o atraso no pagamento de dívidas tem sido maior pelas empresas.
Na opinião do economista João Morais, especialista em mercado de crédito da Tendências Consultoria, a tendência é que o nível de calote continue em alto e que os bancos elevem os juros por restringir as operações. Segundo Morais, é difícil projetar o quanto a inadimplência crescerá e este movimento preocupa o mercado.
Pelos cálculos da economista-chefe da Rosenberg Associados, Thaís Marzola Zara, as concessões de crédito recuaram 21,7% em janeiro, em termos reais. Para ela, esse é um dos iniciadores que confirmam o encolhimento do mercado e que esse movimento deve se intensificar em 2016. “As perspectivas são pouco alvissareiras. Esperamos retração real do estoque da ordem de 8% até o fim do ano”, comentou.
Restrições
O chefe do Departamento Econômico do BC ressaltou que as condições de financiamento estão mais restritivas tanto do lado da demanda quanto da oferta. Um sinal desse movimento é que o estoque de crédito das instituições financeiras privadas nacionais caiu 1,1% e das estrangeiras 2%.
No caso dos bancos públicos, o volume permaneceu estável. Contudo, as taxas de inadimplência e as provisões aumentaram. Apesar disso, ele acha que ainda é cedo revisar as estimativas da autoridade monetária para o ano. O BC projeta uma alta de 7% no estoque de crédito em 2016.
Emprego em queda
Como consequência da desaceleração da economia, o emprego industrial continua em queda. O índice de evolução do número de empregados ficou praticamente estável, passou de 41,5 para 41,4 pontos – abaixo dos 50 pontos, limite usado na Sondagem Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI). “Esse patamar indica que a queda está generalizada em todos os setores e portes de empresas: tanto as grandes, quanto as médias e pequenas. E fevereiro aponta na mesma direção. Somente quando atingir 50 pontos, consideraremos que o emprego estará estável. Quando ultrapassar essa marca, significará que voltaram a contratar”, afirmou o economista da CNI Marcelo Azevedo.
Refletindo o cenário de elevada ociosidade, as intenções de investimento seguem baixas. O índice registrou a segunda queda consecutiva e alcançou 39,8 pontos. É a segunda vez na série que o índice fica abaixo dos 40 pontos (a anterior foi em setembro de 2015).
A expectativa para os próximos seis meses, de acordo com a Sondagem Industrial, é de pessimismo. O sentimento é de que não haverá evolução da demanda nem compras de matérias-primas ou aumento do número de empregados. “Se houver uma retomada, acreditamos que esse processo não será tão rápido e, portanto, haverá tempo para treinamento dos novos funcionários. Hoje, a necessidade de contratação está em 6%. Em 2010,batia 30% a falta de mão de obra especializada”, pontuou.
Fonte: Correio Braziliense