Copom mantém Selic com placar dividido

    O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), manteve pela quinta reunião consecutiva a taxa básica de juros, a Selic, em 14,25% ao ano. E pelo terceiro encontro seguido não houve consenso dentro do colegiado presidido por Alexandre Tombini, igualando o maior período de dissidência do Copom que havia ocorrido em 2007. Os diretores Tony Volpon (assuntos internacionais) e Sidnei Corrêa Marques (organização do sistema financeiro) voltaram a pedir uma elevação imediata de meio ponto percentual.

    O resultado veio em linha com o previsto pelo mercado. Pesquisa do Valor com 32 economistas apontou que todos trabalhavam com manutenção da taxa, que está no mesmo patamar desde setembro do ano passado.

    O comunicado da decisão é praticamente uma repetição do apresentado após a reunião de janeiro. O BC cita que levou em conta o cenário macroeconômico, as perspectivas para a inflação e o atual balanço de riscos. Também foram consideradas “as incertezas domésticas e, principalmente, externas”. Em janeiro, o BC falou em “elevação” das incertezas domésticas e externas, termo condizente com a conjuntura daquele momento.

    Para os analistas os dois votos dos diretores favoráveis à alta dos juros serviram para esfriar a expectativa do mercado financeiro de que a taxa possa cair no curto prazo. Entretanto, a contrariedade deles à manutenção dos juros não é suficiente para retomar o debates sobre uma elevação da taxas.

    Para a economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour, nos últimos dias, o BC vinha reforçando a mensagem ao mercado de que os juros deveriam ficar estáveis por um tempo prolongado. “Acho que agora a comunicação ficou um pouco prejudicada, pois esse placar coloca de volta à cena a ideia de que, em algum momento, o BC pode subir os juros”, afirma. Ela disse que acha importante os diretores terem um discurso uniforme. “Esperava que a decisão fosse unânime, mas parte do mercado já apostava na divisão”, disse.

    O consenso de estabilidade para esse encontro do Copom acabou sendo construído após um esforço de comunicação que envolveu Tombinie diretores em eventos reservados com economistas e discursos para investidores. A indicação dada foi de que a Selic ficaria estável por um longo período de tempo e que apesar da forte contração da economia e eventos externos em tese deflacionários, o elevado nível da inflação corrente, expectativas longe da meta e mecanismos inerciais não permitem um corte.

    A manutenção dos juros mostrou que o BC não deve brigar contra a inflação, que parece ser hoje uma fonte de receita importante para um governo que não consegue viabilizar o ajuste fiscal, segundo João Luiz Mascolo, professor do Insper e sócio da SM Managed Funds. “A razão para a manutenção dos juros parece ser a necessidade de receita inflacionária, que pode ser equivalente à arrecadação pretendida com a CPMF”, disse. Ele avalia que essa postura mostra que o governo já perdeu o respeito pelo sistema de metas de inflação, que pressupõe um quadro fiscal sob controle.

    Apesar de a decisão não ter sido unânime, Tatiana Pinheiro, economista do Santander, afirma que o BC manteve o viés de corte de juros em algum momento, dadas as incertezas em relação ao crescimento econômico, que segue muito fraco. “Até a próxima reunião, em abril, já teremos os dados de inflação de março que devem mostrar uma queda em relação a fevereiro, o que deve levar os diretores dissidentes a votarem pela manutenção da taxa Selic“, disse.

    O Santander espera um corte de 1,25 ponto da Selic, iniciando com uma queda de 0,25 ponto no segundo semestre, com a taxa básica encerrando ao ano em 13%. “Vemos um afrouxamento monetário no segundo semestre, quando o movimento de queda de inflação vai ser mais claro e quando a sensação de recessão econômica vai estar mais latente entre os agentes econômicos”, diz.

    Já o economista da Garde Asset Management, Daniel Weeks, considera que a manutenção do juro foi um erro, já que nas suas projeções a inflação deve ultrapassar a meta neste e no próximo ano. “O problema é que mesmo com a atividade econômica fraca, a inflação está alta”, disse ele. Weeks era um dos defensores de um aumento da Selic nesta reunião para que a inflação convergisse para a meta mais rápido.

    Reforçada a ideia de que não há margem para corte da Selic, se espera uma manutenção ou mesmo breve elevação do juro real, que é o que realmente importa em termos de política monetária. Se a taxa de juros esperada recua junto com as expectativas de inflação, o juro real cai, deixando a política monetária menos restritiva mesmo com o juro nominal estacionado.

    Tal movimento está em marcha nos últimos dias, com a taxa real caindo de 7,1% no começo da semana para 6,95% na tarde de quarta-feira. O ajuste se deu no swap de 360 dias que caiu de 14,3% para 14,08%, conforme o IPCA projetado em 12 meses segue em 6,67% (dado do último Focus). Quando o BC parou de subir a Selic em setembro do ano passado, a taxa real beirava os 9%.

    Por ora, o objetivo declarado pelo BC continua sendo manter a inflação dentro do limite de tolerância do regime de metas de 6,5%, neste ano, e fazer a convergência para 4,5% em 2017.

    No mercado, as expectativas ainda estão longe disso. O último boletim Focus mostra o IPCA de 7,57% em 2016 e de 6% em 2017, teto da meta para o ano. Não se enxerga convergência para meta nem em 2020. Esse desvio das expectativas pode ser visto como uma das justificavas para o voto dos diretores dissidentes.

     

    Fonte: Valor Econômico

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