Pressionado a tomar medidas que sejam capazes de tirar a economia do atoleiro, o governo estuda usar as reservas internacionais do país, administradas pelo Banco Central, para reduzir o montante da dívida pública, informou ontem o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner. A medida é controversa. Pra muitos economistas, em vez de representar uma saída para a crise, ela pode agravar os problemas econômicos, aumentando o descontrole das políticas monetária e fiscal.
Ao fazer uma análise ontem das manifestações populares do domingo contra o governo e a corrupção, o ministro avaliou que um dos principais fatores que motivou as pessoas a saírem às ruas foi a crise econômica, com o crescimento da inflação e do desemprego. “O mau humor das ruas tem a ver com o mau desempenho da economia. Não há como restaurar o bom humor das pessoas sem recuperar a economia”, disse ele.
Aventura
Jaques Wagner afirmou, contudo, que o governo não pretende dar uma “guinada” na política econômica nem “tirar um coelho da cartola” ou embarcar numa “aventura”. Ele descartou, ainda, a possibilidade de usar as reservas cambiais, que somam atualmente US$ 372,5 bilhões, para fazer investimentos, como defende o PT. “Se for o caminho, elas serão empregadas para pagar dívida, mas não há nenhuma decisão a respeito; por enquanto, é apenas uma reflexão”, explicou.
Na opinião de Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio, não tem sentido usar as reservas para reduzir a dívida bruta. Ele explicou que, hoje, o Banco Central faz operações compromissadas, de curto prazo, para controlar o nível de moeda em circulação na economia, usando como lastro títulos públicos. “Se essa ideia for colocada em vigor, significaria que o BC, via Tesouro Nacional, vai resgatar as operações compromissadas para baixar a dívida bruta pública. Isso, porém, não é viável, porque pode dar a impressão de que o país ficará mais vulnerável na área externa”, destacou.
Freitas observou que as reservas funcionam como um seguro em caso de problemas no balanço de pagamentos, e que não é hora de abrir mão dessa proteção. Apesar de custarem caro ao país, manter reservas em volume elevado traz vantagens, destacou. “Elas garantem que o país vai continuar recebendo dólares. E existem alternativas para reduzir a dívida pública sem mexer nas reservas”, explicou o economista. Para isso, bastaria o BC e o Tesouro chegarem a um acordo para diminuir as operações compromissadas, e criar em seu lugar um depósito remunerado. “Não tem sentido usar reservas, não é solução. O que é preciso é gerar a expectativa de que a dívida é sustentável ao longo do tempo”, resumiu.
Decisões
Wagner mencionou outras medidas para melhorar o ambiente econômico. Até o fim do mês, disse, deve ser concluída a renegociação da dívida de estados e municípios com a União. Além disso, o governo pretende dar prosseguimento ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). “Para animar a economia, tem de botar obra pública para rodar, porque ela emprega, gira mercado e aumenta a massa salarial”, justificou. Ele garantiu, porém, que o ajuste fiscal não saiu dos planos do governo. E afirmou que o Planalto pretende submeter ao Legislativo projeto que estabelece um teto para os gastos públicos.
Fonte: Correio Braziliense