FMI vê Brasil como fator de risco para AL

    A péssima situação econômica do país Brasil é um fator de risco para a América Latina. A conclusão é de relatório do Departamento do Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre o panorama econômico da região.

    Segundo a instituição, uma deterioração mais profunda da situação no Brasil poderia provocar mudança repentina na avaliação dos ativos regionais, menor demanda de exportações entre os sócios comerciais da região (em particular Argentina, Paraguai e Uruguai) e em maiores prêmios de risco. O fundo recomenda a adoção de medidas fiscais de curto prazo no país.

    “Os principais riscos internos para o Brasil estão vinculados às contínuas tensões políticas que estão afetando a capacidade do governo de aprovar reformas, inclusive as necessárias para restabelecer a sustentabilidade das finanças públicas, e que, de maneira geral, estão intensificando a incerteza com respeito às políticas”, diz o documento divulgado ontem.

    O FMI alertou que é essencial formular uma “estratégia de consolidação orientada para restabelecer a sustentabilidade fiscal, assim como comunicá-la e executá-la de maneira sistemática”. A instituição advertiu que o país está com níveis crescentes de dívida -a estimativa é atingir 91% do PIB em 2021 – e com grandes déficits fiscais, superiores a 5% do PIB.

    O Brasil teria agora espaço limitado para cortes discricionários e necessita adotar medidas de curto prazo, diz relatório. “Mas o desafio mais importante é tratar da rigidez dos gastos, incluindo o sistema de seguridade social. É importante resistir às pressões para dar estímulo, dada a falta de espaço fiscal.” A implementação de um programa de concessões foi apontada como chave para respaldar o crescimento no médio prazo.

    O FMI diz que um aumento nas taxas de juros poderia ajudar a frear as “persistentemente altas expectativas de inflação”, mas adverte que a economia segue em contração. “Em conjunto, a redução da inflação à meta de 4,5%, em 2017, vai requerer uma política monetária apertada.”

    Para o fundo, as perspectivas econômicas no país estão “dominadas por uma combinação de fragilidades macroeconômicas e problemas políticos”. “A atividade econômica se contraiu devido à pouca confiança das empresas e dos consumidores, ao nível elevado de incerteza a respeito da política interna, à debilitação dos preços das exportações, ao aperto nas condições financeiras e à pouca competitividade.”

    O FMI avalia que a confiança foi derrubada pela dinâmica da dívida pública e pela deterioração da política fiscal, especialmente pelas seguidas reduções das metas de ajuste a partir de 2015, o que levou a um aumento das taxas de juros no mercado e à perda do grau de investimento.

    A instituição ressaltou que a atividade se contraiu em 3,8%, em 2015, e que espera desaceleração no mesmo ritmo neste ano. Apesar dessa situação, a previsão para 2017 é que haja crescimento sequencial, pois muitos dos choques já foram absorvidos e a fragilidade da moeda deve auxiliar nas exportações. A projeção é de crescimento igual a zero no ano que vem.

    O fundo advertiu que, mesmo com indicadores de solidez financeira, as tensões econômicas permanentes podem afetar o desempenho dos devedores. De maneira geral, a deterioração da economia brasileira aumentou o risco para as empresas, segundo o documento.

    O FMI prevê que a inflação pode baixar no país, dada a retração da atividade econômica, mas diz que o movimento poderia ser gradual, “especialmente se a transferência dos ajustes do tipo de câmbio aos preços internos for mais forte do que o esperado”.

    Fatores internos, como a deterioração da situação fiscal, o aperto monetário e a ausência de condições políticas para realizar reformas, continuam dificultando o crescimento do Brasil, avalia o FMI.

    A instituição ressaltou que o país sofre não apenas de fatores externos, como a queda nos preços das commodities e a expectativa de um aperto monetário gradual pelo Federal Reserve, o banco central dos EUA. A incerteza política local e as dificuldades de realizar um ajuste fiscal contribuem para a difícil situação do Brasil, com perspectiva de recessão de 3,8% para este ano.

    “No Brasil, há a deterioração da dinâmica fiscal, em meio a sinais de políticas inconsistentes e de dificuldades para implementar o ajuste, condições financeiras mais apertadas e grandes aumentos nos preços de energia que foram necessários para corrigir os erros prévios de política, além da incerteza política”, afirma o relatório.

    Em algumas partes do documento, o FMI aponta que, apesar das dificuldades na América Latina, há alguns pontos positivos, como, por exemplo, baixas taxas de desemprego e manutenção de taxas positivas de crédito do setor privado em relação ao PIB. Mas, em ambos os casos, o Brasil é apontado como exceção, com desemprego crescente e redução de crédito.

    Fonte: Valor Econômico

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