Vice-presidente, que deve assumir o Planalto com o afastamento de Dilma Roussef, tem o desafio de cortar pastas e, ao mesmo tempo, acomodar a base de apoio
A dois dias de assumir o Planalto, com o provável afastamento da presidente Dilma Rousseff após votação do impeachment no Senado, o vice-presidente Michel Temer praticamente fechou a equipe ministerial que assumirá com ele no fim de semana. Pressionado pela opinião pública, que cobrava reduções drásticas no campo administrativo, Temer reuniu pastas, tirou status de alguns ministros e reduziu a Esplanada em praticamente 10 ministérios.
Ontem, as últimas equações foram fechadas. Com o desgaste após a oferta do Ministério de Ciência e Tecnologia para o PRB – a comunidade científica considerou absurdo um bispo assumir a pasta -, Temer fundiu o Ministério com as Comunicações, que será ocupada por Gilberto Kassab.
Só que o vice-presidente não pode ser dar ao luxo, neste momento, de abdicar de 22 votos na Câmara. Em um primeiro momento, o peemedebista ofereceu ao PRB o Ministério do Esporte. Irritou o PMDB do Rio, que pressionava pela indicação do atual líder da bancada na Câmara, Leonardo Picciani. No fim do dia, veio a solução: Picciani vai para o Esporte, o PRB vai para o Turismo, e Henrique Eduardo Alves assumirá o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. (Mdic).
O Mdic, por sinal, esteve à beira da extinção. A parte relacionada ao Comércio Exterior seria incorporada pelo Ministério das Relações Exteriores, comandado pelo tucano José Serra. E a política industrial iria para o Planejamento, de Romero Jucá, rebatizado de Planejamento, Desenvolvimento e Gestão. Mas a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) e a Confederação Nacional da Indústria (CNI) vetaram a mudança. Henrique assumirá a pasta, enquanto Serra e Jucá terão ministérios mais modestos do que queriam inicialmente.
Temer ficou desgastado após sucumbir à pressão dos parlamentares, especialmente os deputados, em busca de cargos em troca de votos no parlamento. O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), demonstrou preocupação de que o atual governo começasse com “a mesma cara do anterior, sem critérios de mérito na escolha dos ministros”. O PSDB resolveu manter o apoio parlamentar no Legislativo e não indicar nomes para o primeiro escalão.
O diretório tucano decidiu, contudo, que, caso Temer quisesse a colaboração do partido, que indicasse os nomes desejados. Dessa forma, ficou acertada a participação, além de Serra, do deputado Bruno Araújo, em Cidades (ligado a Aécio), e do atual secretário de Segurança de São Paulo, Alexandre de Moraes (ligado ao governador Geraldo Alckmin), para o Ministério da Justiça.
O presidente do PPS, deputado Roberto Freire (SP), decidiu abdicar da própria indicação para a Cultura. Com isso, abre espaço para dois movimentos.
O primeiro foi a incorporação da Cultura ao Ministério da Educação, cujo indicado é o deputado Mendonça Filho (DEM). O segundo foi a retomada da possibilidade de Raul Jungmann (PPS-PE) assumir o Ministério da Defesa. Indicado por Nelson Jobim, o primeiro cotado para o posto, e bem-visto pelos comandantes militares, Jungmann estava com dificuldades de ter o nome emplacado porque Temer não estava disposto a dar dois ministérios para o PPS, que tem uma bancada de apenas nove deputados.
Com a decisão de Temer de transferir Alexandre de Moraes para o Ministério da Justiça, a tendência é que o cargo de advogado-geral da União seja assumido por um servidor de carreira. O vice também está à procura de um nome para o Ministério da Transparência, que englobará a Controladoria-Geral da União (CGU).
Depois de muitas idas e vindas, o PP conseguiu acertar seus dois ministeriáveis. Para a Agricultura, a legenda vai indicar o senador Blairo Maggi (MT), que atualmente está no PR. Para a Saúde, o escolhido deve ser o deputado Ricardo Barros (PP).
Responsável por dar o tom da equipe econômica, o futuro ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, terá carta branca para nomear a equipe econômica, incluindo o Banco Central, o Tesouro Nacional e o comando dos bancos públicos. A única dúvida é se Meirelles criará óbices à nomeação de Gilberto Occhi, ex-ministro da Integração Nacional e servidor de carreira da Caixa Econômica Federal, para a presidência da estatal.
O time do vice
O ministério que deve entrar em campo quando o vice assumir o Planalto:
Casa Civil
Eliseu Padilha
Secretaria Especial para Investimentos
Moreira Franco
Transportes + Portos + Aviação Civil
Maurício Quintella Lessa
Planejamento
Romero Jucá
Relações Exteriores
José Serra
Secretaria de Governo
Geddel Vieira Lima
Social
Osmar Terra (3)
Educação e Cultura
Mendonça Filho (DEM)
Justiça e Cidadania
Alexandre de Moraes (2)
Meio Ambiente
Sarney Filho
Comunicação,
Ciência e Tecnologia
Gilberto Kassab
Agricultura
Blairo Maggi
Banco Central
Ilan Goldfajn
Turismo
Indicação do PRB
Fazenda
Henrique Meirelles (1)
Cidades
Bruno Araújo
Indefinidos
Defesa Raul Jungmann, PROVÁVEL
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Henrique Eduardo Alves, PROVÁVEL
Saúde Ricardo Barros (PP), PROVÁVEL
Esporte Leonardo Picciani, PROVÁVEL
Integração Nacional Fernando Bezerra Filho, PROVÁVEL
Minas e Energia Indicação do PMDB do Senado
Trabalho PTB Sem nome definido ainda
Ministério da Transparência Indefinido
Perdem status de ministério
Advocacia-Geral da União, Secretaria de Comunicação Social e chefia de Gabinete da Presidência
(1) Incorpora o Ministério da Previdência Social
(2) Incorpora a Igualdade Racial e os Direitos Humanos
(3) Incorpora Desenvolvimento Social e Desenvolvimento Agrário
Fonte: Correio Braziliense