É sob o olhar vigilante da presidente afastada Dilma Rousseff, cujo retrato se mantém afixado nas paredes dos gabinetes, que o time político escalado pelo presidente em exercício Michel Temer vai traçar estratégias e alinhavar acordos no Palácio do Planalto.
Os pontas-de-lança de Temer, que terão assento no quarto andar do palácio e despacharão diariamente com o pemedebista, são dois amigos de longa data: Eliseu Padilha, na Casa Civil, e Geddel Vieira Lima, na Secretaria de Governo. No comando do Ministério do Planejamento, Romero Jucá completa a equipe de jogadores de Temer.
“Os três jogam na linha de frente, mas com Temer sempre na retaguarda, para dar segurança aos acordos”, detalha um auxiliar presidencial. “Temer é um presidente político, foi três vezes presidente da Câmara dos Deputados, é ele quem define a estratégia”, ressalta a fonte.
O secretário-executivo do recém lançado Programa de Parceria para Investimentos, Wellington Moreira Franco, e o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o general do Exército Sérgio Etchegoyen, completam a equipe de novos inquilinos do palácio até o desfecho do julgamento do impeachment no Senado.
Amigos de “Michel” – como se referem ao presidente em exercício na intimidade -, há mais de 20 anos, Padilha e Geddel terão a prerrogativa de adentrar o gabinete presidencial no terceiro andar sem bater antes na porta, tal qual era a relação entre Dilma e Jaques Wagner, ex-chefe da Casa Civil. E se um deles flagrar “Michel” sem sapatos, de meias e com os pés sobre a mesa, manterão segredo. “Essa cena não sairá nos jornais”, avisa Geddel. “Nossa relação é de amizade e confiança absoluta”, definiu ao Valor.
Geddel acrescenta que não haverá “intrigas palacianas” entre ele e Padilha porque são amigos há duas décadas. Eles desembarcaram em Brasília nos anos 90, com mandatos de deputados federais pelo PMDB, ele pela Bahia, Padilha pelo Rio Grande do Sul. Na ocasião, dividiram um apartamento funcional. Segundo Geddel, Padilha sempre foi o mais organizado, sistemático com as contas, e por isso, tem perfil para conduzir a Casa Civil. “Eu deixava coisas espalhadas, ele colocava no lugar, mantinha as contas em dia”, relembra.
É o perfil metódico e disciplinado de Padilha, advogado de formação, que começou a carreira num escritório de contabilidade, que o alçou para a Casa Civil. Conhecido no núcleo próximo de Temer como o “homem das planilhas”, Padilha errou por apenas um voto o placar final da votação do impeachment no plenário da Câmara.
A missão prioritária de Padilha na equipe de Temer será “governar o governo”, em sua própria definição. Cinco vezes deputado federal e ministro de Estado pela terceira vez, Padilha também fará política, mas sua tarefa principal será a gestão, enquanto Geddel e Jucá farão a interface diária com o Congresso.
Jucá será o “homem dos números” e articulará a aprovação dos projetos e emendas relacionados à recuperação do equilíbrio fiscal, com interlocução direta com a Comissão Mista de Orçamento, Câmara e Senado. Economista de formação, e líder de três governos, de Fernando Henrique Cardoso até Dilma Rousseff, Jucá projetou-se como o raro parlamentar dotado de habilidade política e destreza com os números.
O “dream team “de Temer tem implicações na Operação Lava-Jato. Enquanto Jucá responde a um inquérito no Supremo Tribunal Federal e a outro relativo à Operação Zelotes, Geddel, Padilha e Moreira foram apenas citados nas investigações. Todos negam com veemência qualquer irregularidade. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) argumenta que políticos investigados na Lava-Jato não deveriam ocupar ministérios. Mas, professor de direito constitucional, Temer avalia que apenas os réus em ações penais não podem ser ministros. A verdade é que a perda de qualquer um desses auxiliares deixaria manco o governo provisório.
Fonte: Valor Econômico