Desde que seu nome começou a ser cogitado para presidir o Banco Central, há poucas semanas, Ilan Goldfajn foi inúmeras vezes caracterizado como alguém de tendência mais branda na condução da política monetária – ou mais “dovish”, como se diz no jargão do mercado financeiro – na comparação com outros colegas também cotados para a função. Em grande parte, essa crença se formou porque o agora ex-economista-chefe do Itaú Unibanco, o maior banco privado do país, foi um dos primeiros no mercado a passar a prever corte dos juros neste ano.
Agora que Ilan está confirmado para o posto – dependendo ainda da aprovação pelo Senado -, começa a se formar no mercado uma percepção mais apurada. Quando se senta na cadeira da presidência da autoridade monetária, a ótica é completamente diferente. “Não se pode associar as atuações de Ilan como economista-chefe do Itaú e na presidência do BC. Ilan não é mais ou menos ´dovish´ do que outros economistas cotados para o posto”, diz um economista que trabalhou com Ilan no BC.
“Não acredito que a nomeação dele significa uma antecipação de corte de juros. Uma coisa é o analista traçando cenários em uma instituição financeira, outra coisa é o presidente do BC. São coisas completamente distintas”, comenta Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos, sobre a leitura de alguns agentes de mercado de que a nomeação de Ilan poderia significar um corte da Selic a partir de julho, como ele chegou a prever quando era economista-chefe no Itaú Unibanco. Ilan, que estava prevendo uma taxa Selic de 12,25% no fim deste ano, alterou a projeção antes da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em abril, passando a projetar cortes de juros no segundo semestre deste ano, sem se comprometer com o tamanho do aperto monetário.
Para Zeina, a capacidade do BC em trazer a inflação para a meta será limitada pelo ajuste fiscal a ser alcançado pela nova equipe econômica. Ela lembra que a inflação ainda está acima da meta, inclusive no longo prazo, apontando para 4,55% apenas em 2020. “Talvez sem o ajuste fiscal por enquanto, a política monetária tenha que ficar apertada por algum tempo”, diz.
Para o economista-chefe para mercados emergentes da Capital Economics, Neil Shearing, o presidente indicado ao Banco Central tende a ser mais “hawkish” no começo do novo governo, em uma tentativa de deixar claro aos mercados financeiros sua postura combativa contra a inflação.
Shearing vê espaço para queda dos juros no fim do ano, dependendo do progresso fiscal. Mas o economista duvida que a Selic será reduzida para “muito abaixo” de 13,75% ao ano até o fim de 2016.
Marcelo Kfoury, superintendente do departamento econômico do Citi Brasil, considera que cortes de juros podem começar em julho ou agosto. “Não esperamos que Ilan seja excessivamente dovish e corte a Selic cedo demais. Mantemos nossa expectativa de que o juro será reduzido em 150 pontos-base a partir de julho”, afirma Kfoury, que manteve a projeção para a Selic em 12,75% no fim do ano.
As instituições Top 5 da pesquisa Focus – as que mais acertam nas suas estimativas – projetam, na mediana de curto prazo, redução da Selicem 250 pontos em 2017. Assim, a taxa terminaria o ano em 11,75%. Para este ano, esse grupo vê corte de 50 pontos até dezembro, com Selic a 13,75% ao ano.
O maior comprometimento da nova equipe econômica com o equilíbrio das contas públicas e a injeção de credibilidade para a política monetária dada pela indicação de Ilan para a presidência do BC podem antecipar um pouco a redução de Selic, avalia Juan Jensen, sócio da 4E Consultoria. A estimativa atual da consultoria é que a redução de juros comece em outubro, mas caso o ajuste fiscal avance, é possível que a queda da Selic venha antes, na reunião de agosto do Copom. Para ele, é improvável alguma mudança já em julho, pois este seria o primeiro Copom presidido por Ilan. “Não acho que ele vá chegar e já reduzir os juros”, diz.
A economista Monica de Bolle vai na mesma linha e destaca que momentaneamente o grande problema da economia brasileira é o fiscal. “O Ilan Goldfajn é um excelente economista, mas o BC é irrelevante neste momento em que os problemas são de ordem fiscal.”
Monica destaca que seria importante estabelecer urgentemente um teto para o crescimento dos gastos públicos, como já foi proposto pelo próprio ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, fazer a desindexação de despesas e a desvinculação de receitas.
O entendimento do mercado é que, apesar do fraco crescimento econômico e queda das expectativas de inflação, a definição do tamanho do ciclo de afrouxamento monetário vai depender do ajuste fiscal. Os investidores aguardam o anúncio de medidas para ampliar as apostas na queda de juros.
Ontem, as taxas dos contratos futuros fecharam em alta na BM&F. O DI para janeiro de 2017 subiu de 13,60% para 13,65%, enquanto o DI para janeiro de 2021 avançou de 12,27% para 12,38%.
Já o dólar caiu 0,41% para R$ 3,4884, acompanhando o movimento no exterior. Após três pregões consecutivos sem atuar no mercado de câmbio, o BC voltará a ofertar hoje 20 mil contratos de swap cambial reverso, que equivalem a uma compra de US$ 1 bilhão no mercado futuro.
O mercado espera que o novo presidente do BC prossiga com a redução do estoque de swaps cambiais, que têm um custo fiscal. “O BC deve reverter o programa de swaps e evitar continuar com as intervenções no câmbio depois disso”, afirma o professor do Departamento de Economia da PUC-Rio, Márcio Garcia. A velocidade com a autoridade monetária deve se desfazer do estoque de instrumentos cambiais, segundo ele, vai depender da dinâmica do mercado.
Fonte: Valor Econômico