Diante do temor dos investidores de que as pressões políticas enfraqueçam a equipe econômica, o presidente interino, Michel Temer, vai reforçar o apoio ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, na definição do prazo de vigência do limite para o aumento dos gastos públicos. A perspectiva inicial de Meirelles era de que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC), que deverá ser encaminhada nesta semana ao Congresso, não definisse um período específico para que a alta dos gastos se limitasse à inflação do ano anterior. Mas um grupo palaciano começou a se movimentar para que a validade da PEC fosse de, no máximo, cinco anos, tempo considerado curto pelo ministro da Fazenda para fazer a dívida pública cair em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). A tendência de Temer é de fixar a vigência da medida entre sete e 10 anos.
“Não podemos emitir nenhum sinal de fragilidade da equipe econômica neste momento”, diz um dos mais próximos auxiliares de Temer. “Estamos falando do principal pilar de sustentação do governo, que ainda é provisório e está sujeito às chantagens do Congresso para aprovar o impeachment”, acrescenta. Segundo esse auxiliar, está claro para o presidente interino que existe hoje uma linha divisória dentro do governo. De um lado, está a equipe econômica, que é intocável; de outro, o resto, que se move de acordo com as perspectivas políticas e o andamento do impeachment de Dilma Rousseff no Senado. “Portanto, não há por que enfraquecer justamente o lado que está trazendo de volta a confiança e vai pavimentar a retomada do crescimento econômico”, frisa.
O governo identificou, nos últimos dias, um certo incômodo dos agentes econômicos com ruídos vindos da seara de Meirelles. O ministro teve que ceder em relação ao aumento dos servidores, que custará cerca de R$ 100 bilhões até 2019, e não conseguiu pôr em prática várias medidas, como o aumento de impostos, para arrumar as contas públicas por causa da necessidade de amplo apoio do Congresso a Temer. O quadro só não desandou porque o governo obteve vitórias como a aprovação em dois turnos, na Câmara, do aumento da desvinculação de receitas da União (DRU) e a ratificação do nome de Ilan Goldfajn para a presidência do Banco Central.
“Meirelles está ciente da pequena margem de manobra política do governo. Por isso, vem sendo compreensível. Mas isso não quer dizer que aceitará qualquer coisa. O prazo de vigência para o teto dos gastos tem que garantir a trajetória de queda da dívida”, afirma um aliado do ministro. “Disso, ele não abre mão.”
Ipiranga compra a rede Ale
A Ipiranga, controlada pelo grupo Ultra, informou ontem a compra de 100% da rede de postos de combustíveis Ale, a quarta do país, por R$ 2,17 bilhões. A conclusão da operação depende, porém, da aprovação prévia do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e da assembleia geral de acionistas do Ultra. Até o posicionamento do Cade, as companhias manterão suas operações totalmente separadas e seguirão atuando como concorrentes efetivas. A operação inclui a rede de postos e as bases da Ale, que tem sede em Natal (RN). A aquisição permitirá à Ipiranga ampliar sua presença no Nordeste, hoje bastante restrita. “O grupo Ultra tem uma visão de longo prazo no desenvolvimento dos mercados em que atua, especialmente no Brasil. Revendedores e clientes da Ale se beneficiarão da capacidade de investimento e dos reconhecidos modelos de gestão. Com a Ale, a Ipiranga terá maior presença em regiões com alto potencial de crescimento”, disse o presidente do Ultra, Thilo Mannhardt.
Fonte: Correio Braziliense