É hora de os operadores que lidam com “bitcoin” se prepararem para momentos difíceis. A moeda criptografada, que se caracteriza por sua volatilidade e cuja disparada – de 150% – neste ano atraiu todos, de banqueiros de Wall Street a idosas chinesas, poderia estar se encaminhando para um dos períodos mais turbulentos de sua história.
A culpa é da “guerra civil” do bitcoin. Após dois anos de enfrentamentos nos bastidores, grupos rivais de gênios da informática que têm um papel fundamental na manutenção da moeda virtual adotarão duas atualizações de software concorrentes no fim do mês. Isso levantou a possibilidade de o bitcoin se separar em dois, um acontecimento sem precedentes que provocaria um choque no mercado de US$ 41 bilhões.
Apesar de ambas as partes terem grandes incentivos para chegar a um consenso, a falta de uma autoridade central do bitcoin dificultou um acordo. Nem mesmo os operadores profissionais que têm seguido as alternativas desta disputa sabem como isso acabará. O conselho que eles dão é se preparar para a volatilidade e estar dispostos a agir com rapidez quando surgir um resultado claro.
Por trás do conflito existe uma divisão ideológica sobre a identidade do bitcoin. A comunidade debateu com veemência se a criptomoeda deveria evoluir para atrair empresas convencionais e tornar-se mais atraente para o capital tradicional ou se deveria atuar mais como um ativo como o ouro ou como um sistema de pagamento.
As sementes do debate foram plantadas há anos: para se proteger de ataques cibernéticos, o design do bitcoin limita a quantidade de informação em sua rede, chamada “blockchain”. Isto restringe o número de transações que ela pode processar – o chamado “limite do tamanho do bloco” -, justo quando a crescente popularidade da moeda está aumentando a atividade. Consequentemente, os tempos de transação e as taxas de processamento bateram recordes neste ano, limitando a capacidade do bitcoin de processar pagamentos com a mesma eficácia que serviços como a Visa. Duas escolas de pensamento surgiram para solucionar o problema.
De um lado, estão os chamados mineradores, que utilizam computadores caros para verificar transações e atuam como a espinha dorsal do blockchain. Eles propõem aumentar o limite do tamanho do bloco. Do outro lado, está o Core, um grupo de desenvolvedores fundamentais para a manutenção do software à prova de erros do bitcoin. Eles insistem que, para descongestionar o blockchain, uma parte dos dados deve ser administrada fora da rede principal. Para eles, não só reduziria o congestionamento, mas também permitiria que outros projetos, entre eles os contratos inteligentes, fossem acrescentados ao bitcoin.
Mas levar os dados para fora do blockchain diminui a influência dos mineradores, a maioria dos quais está na China e investiu milhões em torres de servidores gigantescas. Previsivelmente, a proposta do Core, chamada SegWit, suscitou resistência dos mineradores – o mais conhecido deles é Wu Jihan, cofundador da Antpool, a maior organização do segmento no mundo.
Contudo, depois do fracasso de várias contrapropostas defendidas por Wu, no mês passado os mineradores concordaram em assumir o compromisso de apoiar a SegWit em troca de aumentar o tamanho do bloco.