Embora o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tenha prometido “deitar e rolar” em cima da lei Dodd-Frank, parte central da legislação federal americana para o setor financeiro adotada após a crise de 2008, as autoridades nomeadas para as agências reguladoras serão provavelmente agentes de mudança mais eficazes do que o Congresso, que permanece empacado em questões legislativas.
O governo Donald Trump nomeou ontem uma das principais figuras em sua cruzada para aliviar a carga de regulação, apontando Randal Quarles para vice-presidente de supervisão financeira no Fed (Federal Reserve, Banco Central dos EUA).
Os banqueiros estão torcendo para que Quarles reverta a abordagem “linha dura” à supervisão bancária e, em particular, aos padrões de capital desenvolvidos após a crise financeira por Daniel Tarullo, um ex-dirigente do Fed que foi o principal fiscal do Banco Central, mas que nunca formalmente ocupou tal papel.
Aqueles que o conhecem, descrevem Randal Quarles, ex-funcionário de George W Bush, fundador e diretor-gerente de uma empresa de private equity chamada The Cynosure Group, como pragmático, em vez de um “cruzado ideológico” combatente por mais desregulamentação.
E embora suas declarações passadas sugiram que ele irá examinar detidamente as regras para descobrir maneiras de aliviar os encargos que, suspeita ele, restringem o crescimento, mudanças radicais são muito mais difíceis de implementar dentro da complexa e densa trama regulatória do que pode parecer.
Uma reestruturação dependerá das relações entre o Fed e outras agências competentes com as quais o Fed tem de cooperar. O que Quarles conseguir mudar dependerá fortemente do equilíbrio de poder entre os membros do Fed: Janet Yellen, a presidente, apoia firmemente a abordagem de Tarullo, e Trump ainda poderá nomeá-la para um segundo mandato.
O presidente Donald Trump ainda terá de fazer outras duas nomeações para o conselho do Fed, o que também influenciará o rumo das deliberações do Banco Central dos Estados Unidos.
Hal Scott, um professor de Harvard que também estava na disputa pelo posto no Fed, afirmou que a escolha de Quarles foi excelente. Mas ele acrescentou: “Não é como se ele fosse o czar; ele é o vice-presidente. Ele tem que obter o apoio do conselho para qualquer coisa que venha a fazer”, completou.
No passado, Quarles advertiu que aumentos dramáticos no capital dos bancos significariam Juros mais altos e criticou as autoridades monetárias que se concentram nos perigos de que bancos fiquem grandes demais.
Um amigo previu que Quarles estaria particularmente focado em diminuir o peso dos testes de estresse do Fed, que são usados para avaliar a capacidade dos bancos de enfrentar choques econômicos hipotéticos.
Com as memórias da crise começando a desaparecer, os defensores da reforma financeira estão torcendo para que eventuais tentativas de diluir o regime pós-crise seja rejeitada.
Marcus Stanley, do Americans for Financial Reform, um grupo que faz campanha por uma regulação mais rigorosa para os bancos de Wall Street, atacou a nomeação como uma nomeação “de volta para o futuro”. “Ele faz parte da mesma equipe que minimizou a ideia de que tínhamos um problema em Wall Street. Eles deixaram a bomba armada para explodir. Ela explodiu e provocou um colapso na economia mundial. Agora estamos colocando um membro dessa mesma turma de volta no comando”, disse ele.
O Fed já se comprometeu a reduzir encargos regulatórios considerados desnecessários e simplificar determinadas regras, injetando maior transparência no processo de aplicação de testes de estresse, além de examinar mudanças na proibição, segundo a chamada Regra Volcker, que visa evitar que os bancos façam apostas muito arriscadas com seu próprio dinheiro.
Jay Powell, o membro do Fed que atualmente supervisiona a regulação, também disse ao Congresso que o Fed está aberto a fazer com que os bancos apresentem seus “testamentos em vida” apenas uma vez a cada dois anos.
No entanto, o Tesouro de Trump apresentou propostas de política que vão muito além do que o Fed sugeria. O Tesouro sugere mudanças nas regras dentro dos limites da Dodd-Frank, de um afrouxamento da regra de Volcker à redução da severidade do processo de testes de estresse e os padrões de capital e liquidez para os maiores bancos americanos.