No primeiro dia de depoimento semestral no Congresso americano, a presidente do Federal Reserve (Fed), Janet Yellen, enfrentou algumas questões que eram previsíveis por parte dos legisladores republicanos. Mas, logo de saída, os mercados comemoraram a interpretação “dovish” (inclinada ao afrouxamento) de seu discurso introdutório divulgado antes de sua chegada ao Capitólio.
Um primeiro ponto notado pelo mercado foi sua reavaliação do cenário de fraqueza da inflação, reconhecendo haver mais incertezas sobre as projeções de alta de preços. Porém, a comandante do Banco Central dos EUA reafirmou ver a desaceleração como transitória e ressaltou que a inflação deve voltar para o rumo em direção à meta de 2% ao ano do Fed “até que fatores temporários desapareçam”.
A comandante do BC reiterou que a autoridade está observando de perto e cuidadosamente a inflação e que isso terá papel nas futuras decisões de política monetária. Ademais, refutou a possibilidade de a meta de inflação ser elevada, dizendo que não há debates sobre este tema.
Sobre sinalizações em relação ao “timing” de novas altas de Juros e da redução do balanço, Yellen apenas repetiu o que já se sabia: tudo dependerá da economia. Mas, ao dizer que as taxas nominais não teriam que subir muito mais para chegar a uma posição “neutra”, apontou para um ciclo muito mais curto de aperto do que os anteriores, agradando aos investidores. No entanto, Yellen lembrou que, no longo prazo, a taxa necessária para manter a economia em equilíbrio provavelmente aumentará e que “altas graduais adicionais provavelmente serão apropriadas nos próximos anos”.
Em resposta a questionamentos de parlamentares, Yellen reafirmou que o início do processo de redução do massivo balanço da instituição de US$ 4,5 trilhões será feito “relativamente em breve”, mas que o Fed poderia reverter o plano se houver necessidade. No mais, o balanço não será usado como elemento de constrangimento à política monetária.
Do ponto de vista político, a defesa pelos republicanos de uma definição de regras matemáticas e estatísticas para orientar o movimento dos Juros, como a Regra de Taylor, foi avaliada pela presidente do Fed como um risco. Não que modelos não sejam usados pelo BC americano, mas “tais prescrições não podem ser aplicadas de forma mecânica”, já que requerem julgamentos cautelosos quanto aos insumos aplicados e atenção a outros pontos que não são considerados nas equações.
Nessa linha, o presidente dos EUA, Donald Trump, indicou nesta semana Randal Quarles para a vice-presidência de supervisão do Fed, cargo criado pelo Congresso americano em 2010 e que nunca foi oficialmente ocupado durante a gestão de Barack Obama. Extraoficialmente a função foi exercida por Daniel Tarullo nos últimos anos. Quarles já expressou simpatia pela determinação de regras para a política.
Sobre a regulação bancária, que Trump quer amolecer, houve várias perguntas, mas para a reavaliação de uma regra de “sobretaxa” de capital que só se aplica aos bancos maiores e mais complexos, disse ser uma medida “apropriada” e “justificável”. Também defendeu o endurecimento da regulação após a crise, como algo necessário para dar segurança à economia.
Perguntada se ficaria à frente do Fed, caso o presidente Trump pedisse, Yellen saiu pela tangente. A presidente do Banco Central apenas reafirmou que pretende cumprir o termo de seu mandato até o fim e seu foco está na busca pelos dois objetivos da instituição, máximo emprego e estabilidade de preços.