A expectativa de que a inflação continue a surpreender para baixo combinada com alguma esperança de melhora nas contas públicas ditou um novo dia de redução de prêmios de risco no mercado doméstico de renda fixa. Num dia em que o exterior trouxe poucos gatilhos, investidores se voltaram para o noticiário local, já à espera do IPCA-15 de julho, a ser divulgado hoje, e também de eventual anúncio de aumentos de impostos.
O entendimento é que, com a inflação ameaçando romper o piso determinado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), elevações de tributos não conduziriam os índices de preços a patamares que limitem novos cortes de Juros pelo Banco Central. E aumento de impostos seria positivo do ponto de vista fiscal, o que poderia levar o mercado a calcular um juro neutro mais baixo para o futuro. “Acho que pode até ter havido algum exagero nessa reação à chance de aumento de imposto. Mas isso reflete o estado de um mercado que quer ansiosamente qualquer notícia boa para o fiscal”, diz o operador de renda fixa de uma corretora.
A inclinação entre as taxas dos contratos de DI para janeiro de 2023 e janeiro de 2019 – uma espécie de medida de percepção de risco para o longo prazo – ficou em 156 pontos-base, ainda em torno de mínimas em um mês.
Além do provável anúncio de aumento de tributos, o mercado aguarda para hoje o IPCA-15 de julho, para o qual analistas esperam taxa negativa. Ontem, a segunda prévia de julho do IGP-M fortaleceu o entendimento de que o cenário para os preços segue mais benigno que o esperado. O índice caiu 0,71%, acelerando a deflação após taxa negativa de 0,61% na segunda prévia de junho.
Num indicativo da convicção dos agentes na manutenção da Selic em patamares mais baixos, uma medida do risco à política monetária para 2018 caiu a patamares anteriores ao vazamento de áudios contra o presidente Temer gravados pelo empresário Joesley Batista, da JBS. A inclinação entre os DIs para janeiro de 2019 e janeiro de 2018 recuou para -17 pontos-base, leitura mais baixa desde 16 de maio, quando marcou -18 pontos. Quanto menor esse número, menos o mercado vê risco de o BC precisar apertar a política monetária no ano que vem. Em 17 de maio, última sessão antes da eclosão da mais recente crise política, a inclinação estava em -15 pontos.
Se ontem o ambiente externo trouxe poucos elementos de peso, hoje a decisão de política monetária do Banco Central Europeu (BCE) pode mexer com os ativos financeiros. Os mercados emergentes entraram em junho numa espiral de baixa após o BCE sinalizar a possibilidade de redução de estímulos. Uma moderação de tom do próprio BCE e posteriormente reduzidas expectativas de altas de Juros nos EUA, no entanto, voltaram a dar suporte a ativos de risco.
Esse cenário permitiu que o dólar completasse ontem o nono pregão seguido de queda frente ao real. A moeda americana cedeu 0,24%, a R$ 3,1491, nova mínima em dois meses. O real teve o quarto melhor desempenho da sessão ontem, numa lista encabeçada por divisas fortemente correlacionadas às commodities.
A perspectiva de entrada de recursos também tem sido citada como fator a explicar a boa performance do real nas últimas semanas. O Valor apurou que 55% dos investidores que participaram da oferta inicial de ações do Carrefour, inicialmente avaliada em R$ 4,45 bilhões, são estrangeiros, sobretudo de perfil de investimento para o longo prazo.
Os ganhos recentes do Câmbio, porém, já despertam alguma cautela. O Goldman Sachs decidiu encerrar uma de suas principais recomendações de 2017: compra de moedas emergentes com “bons retornos” – entre elas o real. Para o banco, o espaço para altas adicionais da moeda brasileira é agora limitado. Apenas em julho, o real avança 5,25%, melhor desempenho entre as principais divisas.