Por José de Castro e Lucas Hirata | De São Paulo
Os investidores terminaram julho evitando grandes ajustes de posições na renda fixa para o primeiro evento de agosto: a divulgação da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). De forma geral, a expectativa é que o documento confirme o comunicado levado a público pelo colegiado do Banco Centralpara explicar a decisão de política monetária da semana passada. Na ocasião, a meta Selic foi reduzida em 1 ponto percentual, para 9,25% ao ano.
Dito isso, a questão é se o mercado terá estímulo à venda adicional de Juros futuros caso não haja surpresas. Para o gestor sênior de renda fixa da Absolute Investimentos, Renato Botto, se a ata confirmar o tom do comunicado, o mercado vai interpretar como um caminho livre a mais posição vendida em taxa de Depósito Interfinanceiro (DI). Ele cita que a curva a termo projeta Selic de 7,85% ao fim deste ano. Em seu cenário-base, o dólar terá força limitada, enquanto a economia seguirá ainda em ritmo lento. Esse pano de fundo levará o IPCA a 3,3% neste ano e provavelmente para baixo de 4% em 2018. “Portanto, só tem um caminho para o BC: cortar mais os Juros“, diz Botto, não descartando taxa de 7,25% já para o fim de 2017.
Com a política monetária com potencial para render surpresas, as taxas de Juros de vencimentos mais curtos ainda se mostram mais atrativas que os DIs de longo prazo, diz o gestor. “Os Juros longos só vão cair de verdade quando for retomada a discussão sobre a Reforma da Previdência.”
O J.P. Morgan considera que os Juros de mercado podem ir a patamares ainda mais baixos à medida que o Banco Central levar a Selic a um nível menor que o projetado pelos analistas. Baseado nessa expectativa, o banco americano mantém recomendação de venda de DI com vencimento em janeiro de 2020. E também segue com apostas de queda do juro nominal acumulado entre julho de 2022 e janeiro de 2023.
Na pesquisa Focus divulgada ontem, o Banco Central revelou que, pela mediana das previsões, o mercado ainda espera juro básico de 8% para este ano.
Com estimativa de Selic a 7,25% até o fim de 2017, o Bank of America Merrill Lynch segue recomendando posição vendida em DI para janeiro de 2021. De forma geral, o banco se diz “na média do mercado” em relação ao Brasil, com os “atuais e amplos retornos compensando os riscos”.
Flávio Serrano, economista sênior do Haitong, espera que a ata funcione como um “reforço” ao discurso do BC no comunicado da decisão da semana passada. Na avaliação dele, o que pode contribuir para o debate em torno da trajetória da Selic é a possível divulgação de projeções de IPCA para 2019. “Precisamos entender como está a dinâmica do IPCA projetado para entender até onde a Selic pode ir”, diz Serrado. Em 2019, a meta de inflação passa a ser de 4,25% e cai para 4% em 2020, ante os atuais 4,50%. O Haitong não descarta possibilidade de o BC levar a Selic a 7,25% ao fim do ciclo.
Uma variável que tem fortalecido apostas de novas quedas dos Juros é a taxa de Câmbio – que não só zerou as perdas acumuladas desde o estouro da crise política de meados de maio como passou a operar em patamares ainda mais fortes. Ontem, o dólar caiu 0,51%, a R$ 3,1182. Com isso, o real fechou julho no topo da lista das melhores com melhor desempenho, em alta de 6,30%. É o melhor mês desde junho do ano passado e a maior alta para julho desde pelo menos 1999, quando o regime de Câmbio passou a ser flutuante.
Além de sustentar recomendação vendida em Juros, o J.P. Morgan sugere compra de reais. A instituição entende que as posições a favor da moeda brasileira ainda não estão “excessivas” e destaca melhora nos termos de troca na esteira do salto dos preços do minério de ferro.
Fonte: VALOR ECONÔMICO