Ben Leubsdorf e Kate Davidson | Dow Jones Newswires
A presidente do Fed (Federal Reserve, Banco Central dos EUA), Janet Yellen, defendeu a regulação bancária promulgada na esteira da crise financeira que começou há uma década, ao mesmo tempo em que manteve a porta aberta para moderadas mudanças nas regras pós-crise.
O discurso pronunciado pela banqueira central no simpósio anual de Jackson Hole, na sexta, organizado pelo Fed, acontece num momento em que o governo de Donald Trump e os republicanos no Congresso procuram reverter a regulação que, dizem eles, tornou mais difícil para famílias e empresas tomar dinheiro emprestado, prejudicando a economia. Yellen rejeitou em grande parte esses argumentos.
“O saldo de nossas avaliações sugere que as principais reformas que implementamos aumentaram substancialmente a resiliência sem limitar indevidamente a disponibilidade de crédito ou o crescimento econômico”, disse Yellen. Mas, acrescentou, o Fed está “empenhado em avaliar onde as reformas estão funcionando e onde melhorias são necessárias, para manter de forma mais eficiente um sistema financeiro resiliente”.
Esta pode ter sido a última aparição de Yellen em Jackson Hole como presidente do Fed, uma vez que seu mandato termina no início de fevereiro de 2018. O presidente Trump disse que ela está entre os candidatos considerados para o posto. Outro nome é o do diretor do Conselho Econômico Nacional de Trump, Gary Cohn. A nomeação depende de confirmação pelo Senado.
A “defesa apaixonada da regulação pós-crise financeira não será particularmente bem assimilada pela Casa Branca” e isso poderá aumentar as chances de que Cohn venha a ser nomeado presidente do Fed, disse Paul Ashworth, economista especializado em EUA da Capital Economics.
Trump assumiu como uma de suas prioridades a reversão das regras bancárias, e os republicanos há muito criticam a lei de reforma financeira Dodd-Frank de 2010, promulgada após a crise e a recessão de 2007 a 2009.
Trump nomeou Randal Quarles, um gestor de fundos de investimentos e ex-diretor do Tesouro, para o posto de vice-presidente de supervisão do Fed, um cargo poderoso criado em 2010, mas nunca formalmente preenchido por Barack Obama. Daniel Tarullo, executivo do Fed ocupante “de fato” do cargo, renunciou ao mesmo no início deste ano. Quarles, que disse aos legisladores no mês passado que a regulação financeira pós-crise necessita de “algum ajuste”, está aguardando sua confirmação pelo Senado.
Yellen não é a única autoridade do Fed que está considerando os custos e benefícios das regras do pós-crise. Jerome Powell, integrante do conselho executivo do Fed, disse aos legisladores em junho que poderia ser apropriado aliviar os testes anuais de estresse aplicados aos grandes bancos. O vice-presidente do Fed, Stanley Fischer, porém, argumentou que seria perigoso para o governo americano abandonar a regulação bancária.
Yellen, em seu discurso de sexta-feira, disse que as reformas financeiras do pós-crise foram uma resposta necessária aos eventos da década passada. As novas regras deixaram o sistema financeiro americano “substancialmente mais seguro” e mais bem posicionado para absorver choques futuros sem causar uma recessão econômica generalizada, disse.
“Devido às reformas que fortaleceram o nosso sistema financeiro – e com o apoio das políticas monetárias e outras -, o crédito está disponível em boas condições e os empréstimos avançaram amplamente em linha com a atividade econômica nos últimos anos, contribuindo para a vigorosa economia que temos hoje.”
A executiva reconheceu que as regras pós-crise podem afetar um pouco a liquidez do mercado, mas disse que “nenhum fator único” está se fazendo sentir. Ela também afirmou que “o crédito pode estar menos disponível para alguns tomadores, especialmente compradores de casas com histórias de crédito menos do que perfeitas e, talvez, pequenas empresas”, mas que “muitos fatores” provavelmente estão afetando a contratação de financiamentos habitacionais.
De todo modo, o Fed está empenhado em “avaliar os efeitos da regulação para o mercado financeiro e considerar os ajustes adequados”. Ela também disse que um conjunto mais amplo de mudanças no novo quadro regulatório talvez mereça consideração.
Fonte: Valor Econômico