A BELEZA QUE ME ENCANTA

    Este teu olhar profundo me fez mergulhar em um mundo de recordações, rever toda uma vida sempre vivida com muito amor, muita paixão, sentindo pulsar um velho coração que jamais sobreviveria sem amar. Alguns declaram que amor só se tem uma vez na vida. Desculpem, mas eu discordo. Desde jovem, muito jovem eu não só namorei, não só tive aventuras tão naturais da mocidade como, em verdade, o amor e a paixão ajudaram a escrever uma trajetória de histórias plenas de romances e aventuras tantas. Desde o primeiro beijo, os lábios trêmulos, indecisos, mas ávidos do contato que em sonhos pareciam tão fáceis, e que naquele momento ansiavam por encontrar os da primeira amada. Se existe algo como o céu que descrevem, eu me vi nele com pouco mais de dez anos de idade.  O primeiro abraço com aquele toque suave ao sentir os virgens seios, já vencendo a inocência e me enlevando em desejos que esperavam o momento mais próprio, o instante mais cúmplice, para sentir os carinhos mais ousados do toque que me arrebatava para um mundo em que mal eu me iniciava. Tive a felicidade de me iniciar no amor ainda muito jovem, numa precocidade que me ajudou a amadurecer mais cedo. Os encontros às escondidas no porão, à noite, nos quais Ana, a morena primeira da minha vida, não apenas me oferecia sexo, mas muito carinho, e um amor que me marcou para o resto da vida. Quantas noites que nunca mais esqueci em todos os meus dias.  As namoradinhas, a mão na mão, os encontros ao luar, ou embaixo de frondosas árvores que acolhiam, em noites de luar, a nós e nossas sombras que se cruzavam, se fundiam num aconchego que só quem viveu aqueles tempos saberá compreender. A gente não “ficava”, a gente trocava amores e juras eternas acreditando que cada uma delas seria a única. Nunca foi, mas era bom sonhar. E como eu sonhei, era uma espécie de vida dupla, a da realidade e a dos meus sonhos, esta sempre correndo atrás daquela, mesmo sabendo que sonhando quem mandava era nossa imaginação. Tudo podia, valia o que o coração ditasse, sempre.  Entre aquele passado, hoje tão distante, e este futuro em que me encontro agora amores ficaram pelo caminho, amores aos quais eu sempre soube dar o melhor de mim. Por isso hoje não carrego arrependimentos, somente saudade, muitas saudades e recordações que nos ajudam a manter vivos. E de repente vejo tua imagem tão serena, tua pele sedosa, teus cabelos morenos, teus lábios à espera do que não veio, tuas mãos em pausa de carinhos que certamente já dedicaste ao corpo que te mereceu.  Paro em frente à tua imagem e volto a ela de quando em vez, porque realmente me trazes tantas lembranças mesmo sem teres vivido no meu passado. Mas, estás agora, no meu futuro, porém no fulgor dos teus encantos, da tua beleza, sabendo-me tão distante de teus sonhos, de teus pensamentos, dos teus dias e noites, porém curtindo a felicidade de contar com tua amizade.   Peço-te desculpas pelo que não fiz por não te conhecer antes, pelo tempo que não estive presente, pelo que posso ter pretendido sem o merecer, pelo que alimentei em pensamentos sem ter este direito, pelo que levei aos meus sonhos sem tua permissão, por tudo que sinto de bom no absconso dos meus mais profundos e secretos segredos.  De mansinho teus olhos pousaram nos meus, com a complacência desta virtualidade que te trouxe de muito longe e me ofertou esta dádiva. Obrigado por existires, obrigado por me achares.  Na minha longa existência reguei e continuo regando muitas flores que formam um imenso jardim que acompanha esta caminhada na estrada da vida. Ao longo dela algumas se destacam, porém todas integram o meu viver.  Sempre dediquei e continuo dedicando o mesmo amor a cada flor, a cada planta, sentindo agora, neste teu olhar profundo e sereno que me chega, mais uma beleza que me encanta. 

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