A NATUREZA CHOROU NOVAMENTE

    Quem me acompanha nessa coluna há muitos anos sabe que vez ou outra eu conto fatos verdadeiros ocorridos aqui em casa no âmbito da Natureza que nos rodeia. Nem sempre posso falar de alegria, mas a vida é assim mesmo.   Recordo-me de que uma vez, quando eu ainda morava em minha casa no Braga, encontramos no pátio do segundo piso um passarinho caído no chão. Ele parecia doente, pois nem tinha forças para voar.   Nós o trouxemos para dentro de casa e Lena fez de tudo para reanimá-lo, acariciando-o enquanto o conservava entre suas mãos. Ao lado dela eu também estava triste já que temos em cada ser da Natureza uma extensão de nossas vidas, e um amigo. Talvez nem todos entendam este sentimento, eu sei.   Lena chegou a levá-lo a uma vizinha que era veterinária na tentativa de ver se ela poderia de alguma forma ajudar a dar uma sobrevida àquele pequeno ser. Após examiná-lo a médica disse que ele não viveria muito tempo. E assim aconteceu.   Estávamos os dois observando o passarinho deitado num pano nas mãos de Lena e confesso que choramos quando percebemos que já partira dessa vida. Nós nunca passáramos por tal experiência.   Anos depois, também contei em outra crônica, Marlene cuidava de nosso quintal quando se deparou com um filhote de rolinha caído ao chão. Felizmente nossos cachorros não o haviam visto ainda. O pequeno ser ainda estava vivo, mas resistiu pouco tempo.   Lena chegou a arrumar um pequeno vaso, forrou com um pano e o colocou numa de nossas árvores na esperança de que seus pais o viessem socorrer. Percebemos que as aves estavam agitadas a voar de um lado para o outro e a piar num canto triste bem diferente do que habitualmente temos aqui.   Após uma noite bastante fria, na manhã seguinte fomos ver nosso amiguinho e logo reparamos que sua curta vida se apagara. Passávamos pela segunda experiência triste com seres da Natureza que nos ensinavam, de alguma forma, que a vida física pode não ser o fim, mas é sempre muito difícil aceitarmos esta separação.   Outro dia novamente Lena encontrou um passarinho caído no jardim. Ele não conseguia voar e nem andar. Suas perninhas pareciam talvez bem machucadas por algum motivo. Ele fazia um grande esforço para se arrastar, porém era triste assistir àquela cena, muito triste.   Lena o trouxe até mim no computador e o deixou num pequeno espaço onde nossos cachorros não o pudessem ver nem alcançar. Qualquer gesto de carinho nosso para com ele o assustava. Preferimos deixá-lo só sem o molestar. Ele já sofria bastante e sabíamos que seu fim não deveria demorar.   Por diversas vezes a pequena ave doente tentava se mexer, mas pouco conseguia. Já mais à noite Lena a colocou numa parte alta, na garagem, sobre uma toalha antiga e a deixou lá até o dia seguinte.   O passarinho sequer conseguia comer ou beber água. Fomos dormir sabendo que a cena provavelmente iria se repetir: na manhã seguinte ele já deveria estar sem vida. Não havia fé nem esperança que pudesse sobrepujar aquele infortúnio e realizar digamos um “milagre”. Bem que gostaríamos de estar enganados.   No outro dia fomos tomar o café da manhã e demos um tempo. Ao nos aproximarmos do local onde o havíamos deixado na noite anterior outra pequena lágrima nos acometeu. Mais uma cena que não desejaríamos presenciar.   Por coincidência, naquele dia amanheceu meio nublado e até serenou de manhã. O poeta diria que novamente a Natureza chorou.   E a vida seguiu em frente com a passarada voltando a cantar como o fazem toda manhã em volta de nossa casa. Não bastasse a felicidade que de quando em vez nos dão entrando sem qualquer cerimônia, passeando pelas dependências da casa e saindo apenas quando desejam. Jamais os agredimos.   Logo descobriremos outro ninho em uma de nossas árvores e assim a vida continuará. Nós nos consideramos felizes por viver em casa e termos a bênção da mãe Natureza a dividir o espaço conosco. Assim seja sempre.   Francisco Simões. (Maio / 2012)

    Matéria anteriorONDE HÁ LOMBADA FALTA EDUCAÇÃO
    Matéria seguintePROCURA-SE