A TSUNAMI DO CAPITALISMO

     Todos que me lêem sabem que não sou economista, muito menos analista econômico, o que não me impede nem me censura no direito de opinar como um cidadão comum inserido neste contexto enlouquecido de uma globalização que acaba de explodir levando consigo a economia do mundo inteiro. Como disse outro dia o jornalista Carlos Heitor Cony, na rádio CBN: “Nem Karl Max previu que isso aconteceria com o capitalismo.” É verdade, amigos. E o “olho do furacão” desta economia agonizante, agora de pires na mão, está onde sempre esteve, nos EUA, ou na considerada mais forte e imbatível do planeta. Alguns poderão dizer que isto já aconteceu antes, há muito tempo, apenas agora se repete, talvez ciclicamente, mas eu penso diferente. Julgo, com licença dos senhores doutores em economia, que, se o “muro das finanças” americanas agora está a ruir deve-se muito mais à irresponsabilidade dos próprios integrantes desta ciranda financeira. Eles, por outro lado, acabam pouco ou nada perdendo, como sempre.  Afinal, usando a “chave do cofre”, o Sr. Bush distribui bilhões e bilhões de dólares numa espécie de “transfusão de verdinhas” para evitar que o sistema americano mergulhe no caos. E se alguém tinha alguma dúvida da incompetência de sua administração, acredito que agora esteja conseguindo finalmente enxergar o óbvio. Mas não é propriamente o capitalismo que está em julgamento e sim o tal de “liberalismo econômico” que de uns anos para cá foi tão difundido e aplicado inclusive aqui no nosso Brasil na era FHC. Hoje vejo pessoas mudarem de opinião e criticarem inclusive a que antes chamavam de “dama de ferro”, a senhora Margaret Thatcher, ex premier da Grã Bretanha.  Outros defensores do referido “liberalismo econômico”, também na União Européia, estão agora a virar judas de apedrejadores que no passado lhes atiravam flores e beijavam os pés. Oh, traiçoeira infidelidade. Na União Européia também alguns governos já vêm abrindo seus cofres tentando evitar o mergulho sem volta numa recessão das piores.  Diz o dicionário que liberação econômica… “É a Doutrina que enfatiza a iniciativa individual, a concorrência entre agentes econômicos, e a ausência de interferência governamental, como princípios de organização econômica.” Curioso, “ausência de interferência governamental…” bonito isso, não, ou seja, o oposto de estatitazação, estou certo, senhores entendidos? Não sou nem nunca fui defensor desta, mas fico de queixo caído ao ver agora governos como o americano a injetar dinheiro a rodo em Bancos, particulares, claro, mas tendo a “cautela” de informar que não se trata de estatização!! Se trata do que então, senhores economistas? Tenho amigos que o são, e competentes. Me expliquem, por gentileza.  A desculpa mais repetida é que os governos estão a pensar nos sérios prejuízos que seus cidadãos possam vir a ter (mas já estão tendo e muito) e por isso têm que colocar “novos alicerces” na estrutura bancária. Até entendo, só que já conheço essa história ocorrida nesta terra descoberta por Cabral quando FHC criou o “Proer”. Vocês se recordam? Uma “esmola da pesada” para banqueiros que não podiam falir, ainda que incompetentes ou irresponsáveis, porque arrastariam para o desespero milhões de cidadãos honestos, investidores que confiaram neles. Quando começo a escrever este texto leio e ouço pelo rádio que o Primeiro Ministro britânico afirma estar a Inglaterra à beira de uma recessão, quiçá de uma depressão assustadora. Logo eles, os ingleses, que até hoje têm a moeda mais forte do mundo e que, não querendo arriscar, se recusaram a trocá-la pelo Euro. Enquanto isso o nosso governo ainda posa de “super-homem”, afirmando que a tsunami de lá chegará por aqui apenas como uma… “marola”. É verdade que nosso sistema bancário está muito bem fortalecido, analistas sérios o têm reafirmado, mas resistirá ao avanço avassalador da onda de derrocada internacional?  Também temos que lembrar que neste mundo globalizado uma catástrofe na economia internacional certamente não poupará ninguém. Por que pouparia o Brasil de Lula? Talvez o nosso presidente ainda não tenha caído na real, ou, sem querer fazer trocadilho, julgue que o real não cairá diante do dólar. Aguardemos. Fico indignado com a origem deste “cataclismo financeiro”, desta “convulsão econômica”, justo na que todos sempre consideraram a mais forte economia do mundo. E sabemos que no cerne do problema está, e sempre esteve, um excesso de confiança que acabou ultrapassando os limites não só do bom senso, como da tolerância de recursos que, embora muito fortes, não são infindos.    Mas aí tenho que me colocar na posição daquele que tenho criticado, ou o nosso presidente Lula: onde estavam os tais senhores, com ares de doutores em cálculos e profetas do apocalipse financeiro, que sempre se puseram a fazer avaliações sobre as economias dos países do terceiro mundo, sendo críticos severos de tantos governos deste lado de cá, que não viram, que não avaliaram, que nunca desconfiaram do que se passava na economia, especialmente na americana? Para onde direcionavam sua atenção, seus inúmeros cálculos que hoje ponho em dúvida, para dizer que este ou aquele país, terceiro mundista, não era merecedor da confiança internacional? Parece-nos agora que o tal “fator de risco” sempre valeu apenas para nós. O que está a ocorrer não só põe em cheque a confiança nas regras daqueles senhores como, a meu ver, os desmoraliza.  Na maior cara de pau não apenas silenciaram quanto ao debacle de economias do primeiro mundo, como tivemos que ouvir o FMI apoiar “sem restrições” a decisão do belicista e incompetente Sr. Bush injetando fortunas para compensar a má gestão de financeiras americanas. E ainda deram “bênçãos” a procedimentos idênticos de governos da Inglaterra, da Alemanha, do Japão, etc. Dois pesos, duas medidas.  E agora vem o tal de FED e oferece recursos ao Brasil, sem juros, baseado apenas na oscilação das moedas, dólar e real, sem que tenham sido solicitados. Hummm… desculpem, mas vindo do FED, isso não me “cheira” bem. Acredito que deve vir muito mais trovoada por aí, porém os que tanto posaram de defensores ardorosos do tal “liberalismo econômico”, esses certamente estão a salvo de tudo. Se alguém tiver que morrer afogado, seremos nós, cidadãos comuns.     

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