AMIGOS, AMIGOS, VIDA VIVIDA

    São três amigos que a vida um dia reuniu para muitas jornadas de trabalho comun. Com o tempo outros chegaram, e assim formou-se um elo imenso de amizades que estavam destinadas a ter uma linda história que todos assinariam. Hoje, porém, quero lhes falar apenas dos três que se conheceram primeiro com a responsabilidade de participar de uma tarefa que era pioneira no Banco do Brasil: treinamento do pessoal em vários níveis. O Departamento foi crescendo, começando a atingir os seus principais objetivos. Os três seguiram juntos com tarefas semelhantes, ministravam aulas e eventualmente coordenavam cursos. Eles eram casados, suas esposas igualmente se tornaram amigas e companheiras, estavam os três casais sempre juntos em eventos como os coquetéis de encerramento de cursos e outras reuniões sociais, fosse o aniversário de um deles, fosse de suas mulheres, ou mesmo de algum outro amigo integrante do grupo que àquela altura já se contava por dezenas de corações e mentes unidos pelo trabalho.   Por iniciativa de alguns, o grupo inteiro passou a se reunir, sempre às quintas-feiras, para um almoço em algum restaurante, na cidade, onde afinal trabalhavam. Não se tratava de nenhum pacto, ou convenção, ou mesmo obrigação social, não, o prazer de se encontrarem, de estarem juntos fora do trabalho para conversar, contar histórias, trocar idéias, era alimentado pela amizade que os unia.  Podem não acreditar, mas as reuniões de almoço das quintas prevalece até hoje, isto desde o começo dos anos 70. Com o passar do tempo alguns já não iam porque, como diz o Rolando Boldrin, “partiram antes do combinado”, outros porque acabaram mudando de cidade, etc. Ainda que compareçam apenas três, ou quatro, ou cinco, eles jamais deixarão morrer aquela idéia que virou um símbolo de eterna amizade. Hoje em dia isto é coisa muito rara, podem crer.   Mas, voltando aos nossos três personagens que só identificarei ao final desta narrativa, eles criaram também um hábito de regularmente, sem prazo determinado, se encontrarem para um jantar em determinado estabelecimento, perto da Praça N. Sra. Da Paz, em Ipanema, bairro em que os três casais acabaram morando.  Eu sou um deles. Costumava chegar por primeiro no Chaika e logo me dirigia a um dos garçons amigos pedindo que reservasse, bem no final do salão, uma mesa para seis pessoas. Ele já sabia do que se tratava. Quando os outros dois casais chegavam a mesa da amizade já estava pronta, arrumada, nos aguardando. A pauta, além do jantar, era sempre muito grande. Assuntos: futebol, política, Banco do Brasil, etc. Essa pauta incluía, muitas das vezes, as opiniões de nossas esposas, mas elas tinham lá igualmente um roteiro de assuntos só delas, claro. Aquele compromisso se repetiu por muitos, muitos anos. Não havia prazo determinado, marcávamos quando nos apetecia e era conveniente a todos. Dois casais moravam bem perto do local e eu e minha então esposa, andávamos até lá uns 7 quarteirões apenas. Era muito prazeroso.  A reunião se estendia normalmente até por volta das 21 horas. Mas, como não há bem que sempre dure, como diz um velho ditado, de repente a vida nos pregou uma peça daquelas que não desejo nem a qualquer inimigo, se o tiver. Um ano e meio de muito sofrimento e acabei viúvo. Decidi me mudar definitivamente para Cabo Frio onde já tinha uma casa há décadas. Porém a vida, ou o destino, ou lá o que seja, tinha mais outra terrível surpresa para nós. Apenas três meses após eu ter ficado viúvo, a esposa de outro dos bons amigos igualmente faleceu. Passamos a ser então apenas quatro, sendo que eu fiquei mesmo em Cabo Frio, cidade que amo muito e onde me sinto mais feliz. Dizem que nada é melhor que o tempo para curar ou aliviar sofrimentos. É verdade, amigos, isto se conseguimos sobreviver a eles. Conseguimos, tanto eu como o outro amigo viúvo. Quis o destino que a meu lado, cuidando de mim e de minha casa, estivesse uma pessoa que já convivia comigo e minha falecida esposa por cerca de mais de 20 anos. Ela já se divorciara.  Para dar melhor sentido à minha vida e à dela também, decidi casar novamente. Isto ocorreu em abril de 2008. Só passamos a vir ao Rio três vezes ao ano e apenas por duas semanas. Neste mês de Setembro, estando aqui em Ipanema, e apoiado pelos mesmos amigos, resolvi reeditar aquele encontro que já não acontecia há muitos anos. Todos aderiram. O ritual foi o mesmo. Cheguei por primeiro com Lena ao Chaika e pedi ao garçom para reservar a nossa mesa bem no fundo do salão. Logo depois chegavam os outros personagens dessa linda história de amizade eterna. Chegou o amigo Floriano Albuquerque com sua esposa, D. Veridiana, e uns minutos após o bom Renato Campos, acompanhado de seu filho Reinaldo que eu já conhecia e com quem trabalhara no BB por certo período. Afinal éramos seis novamente, na forma como quis a vida ou o destino. Estávamos na mesma mesa, no mesmo local, e no mesmo horário de antes. A pauta novamente esteve cheia, e os assuntos: futebol, política, muita política, BB, e temas da atual realidade como violência, drogas, etc e tal. Houve debates que provaram ainda estarmos em forma, todos três, inclusive o Reinaldo, para trocarmos opiniões, ora coincidentes, ora contrárias, mas sempre com o respeito de cavalheiros e amigos com uma história escrita para sempre, como digo, em nome de uma eterna, franca, e leal amizade. D. Veridiana e Marlene também se entenderam muito bem. Sei que devo estar a despertar a curiosidade de alguns. Você me perguntaria qual a nossa idade?? Olhe, eu lhe garanto, prezado leitor e amigo, que quando Cabral chegou a Porto Seguro nós ainda cá não estávamos. Vale a resposta? Pois muito bem.  Nosso reencontro se estendeu até pouco mais das 22 horas. Nova despedida, abraços, olhares emocionados, sorrisos de felicidade por mais uma oportunidade que a vida nos proporcionou de estarmos juntos, de matarmos muitas saudades. Quando será o próximo reencontro? Não sei, mas espero que não demore muito. Logo retornarei a Cabo Frio, porém antes do fim deste ano ainda deverei voltar ao Rio, a Ipanema, com Marlene. Meus bons amigos Renato, Floriano, D. Veridiana, Reinaldo, como diria o saudoso Odorico Paraguaçu, interpretado pelo fantástico Paulo Gracindo: “Hoje estou de alma lavada e enxaguada”… Estou realmente muito feliz. Amigos, amigos, vidas vividas…  e muito ainda a viver.

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