COMIGO NÃO, VIOLÃO!

            Tento variar o assunto dos textos, porque avalio que nem no cinema, à exceção do Indiana Jones, os desdobramentos mantém o padrão do original. Considero essas histórias de releitura, revisita, nova roupagem, nova direção, falta de coragem para se arriscar em novidades.        Na tentativa de desmoralizar a minha própria opinião, estou voltando a divagar sobre a vida moderna num tempo que não é o meu, porque a cada dia aumentam os sintomas desse descompasso. O pior é que, apesar de conhecer o diagnóstico, não combato as causas do conflito: a teimosia em aceitar ou me interessar pelas novidades tecnológicas.          O meu instrumento de trabalho é um micro-computador, com o qual tento manter uma convivência pacífica. Mas, nossos gênios são definitivamente incompatíveis. Os momentos mais vexatórios desses desacertos acontecem quando ouço de um amigo, a quem recorro nos meus piores momentos cibernéticos, de que “em matéria de informática, sou uma eterna criança”.         Para tentar embarcar no bonde da modernidade, concordei com a sugestão das minhas filhas de participar de uma comunidade existente no Orkut de pessoas saudosas de Friburgo. As meninas tomaram todas as providências deixando-me apenas a incumbência de dar continuidade. Não sei se por desconfiança, insegurança, incompetência ou preguiça, abri a caixa de entrada somente uma vez, registrei a existência de numerosas mensagens de boas-vindas, não abri e conseqüentemente, também não respondi a nenhuma.            Mas o pior problema tecnológico que enfrento é o de teimar em não possuir telefone celular. Causo o espanto de um ET! Pode ser apenas coincidência, mas sempre que estou participando de alguma conversa em grupo, aparece alguém – sem motivo aparente – para perguntar qual é minha operadora. Desconfio até de um conluio familiar e de amigos a respeito.        Outro dia, fui almoçar e nesse intervalo o chefe pediu que as secretárias me contatassem. Pelo ar desarvorado que estampavam no rosto quando retornei, não adiantou a explicação de que eu não possuía celular: para ele, elas é que não tiveram o cuidado de anotar em suas agendas o meu número… E agora aconteceu essa: para ler a edição eletrônica do JB apareceu o aviso que seria preciso me cadastrar. Preenchi os espaços para os quais eu tinha resposta. Finalizei e apareceu a mensagem alertando que os itens assinalados por asteriscos deveriam – obrigatoriamente – serem respondidos: nº do celular, operadora e provedor. Julgava que celular fosse opção… Como vivo do passado, toda vez que sou instado por amigos e familiares para me render à modernidade tecnológica dos dias atuais – adotando prioritariamente um telefone celular – socorro-me de um valioso bordão utilizado pela minha mãe em “priscas eras” que, por seu enigmático conteúdo, tem o poder de manter os opositores na defensiva: “Comigo não, violão!”. 

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