CULTO ÀS CELEBRIDADES

             Estou lendo, aqui no jornal, que as atrizes Carolina Dieckmann, Débora Secco e Flávia Alessandra, cobram cachês de R$25 mil, R$15 mil e R$ 10 mil para comparecerem, por 40 minutos, numa festa. Imagino que, além disso, conforme o caso, devem exigir passagens, camarins decorados, mesas de frutas, água mineral francesa, 305 toalhas de rosto perfumadas, limusine para se deslocarem e “otras cositas más”.         Não consigo uma explicação para esse mórbido prazer que possuem algumas pessoas de fazerem questão da presença, em suas festas, dessas supostas “celebridades” que, se não fosse o estímulo financeiro, fariam questão de não passar nem na porta.          Também fico imaginando o quanto devem ser longos esses quarenta minutos para a “convidada” suportar sua exposição para quase todos os convidados e como deve ser rápida a passagem para os anfitriões desse mesmo tempo.          Isso sem contar que nessas circunstâncias é quase impossível que não aconteça alguma “saia justa”, constrangedora para uma das partes ou para ambas.  Mas, como diz uma outra “celebridade” revelada pelo BBB, “faz parte”.          Outra realidade que me deixa pasmo é de como a vida de artistas se tornou quase que uma mania nacional.         Na van em que venho trabalhar diariamente, onde os passageiros são certos, a animada conversa matinal versa, invariavelmente, sobre os mesmos temas: o que aconteceu nas novelas da noite anterior e discussões detalhadas sobre a vida de artistas. Como não dou a mínima para artistas e novelas, venho ouvindo notícia no MP3 e imaginando o quanto devo ser considerado esnobe.         Existe uma verdadeira indústria atrás dessa idolatria. Todo programa de rádio que se preze tem uma fofoqueira de plantão contando a vida dos “famosos”. Na TV, em qualquer canal, você encontra algum programa “discutindo” os rumos dos personagens das novelas como se fossem realidade, ou algum (des)relacionamento artístico mais complicado e se houver “barraco” considerado relevante o assunto ganha “status” de notícia internacional.         Uma olhada nas prateleiras das bancas de jornal é outro bom sintoma de como o mundo artístico está presente na vida nacional. A maioria das revistas, seja de moda, culinária ou crochê, não deixam de ter estampadas em suas capas uma “celebridade”. E o que existe de publicações contando a vida íntima de artista é uma festa. Sinal do sucesso das vendas.             O novelista Gilberto Braga, quando escreveu a novela “Celebridade”, afirmou que no País só existiam cinco pessoas dignas da adjetivação: Paulo e Oscar Niemayer, Ivo Pitangui, Fernanda Montenegro e Pelé.  Também penso da mesma forma. Contudo, tanto eu quanto ele, estamos longe do pensamento brasileiro de que, deixamos de ser uma república das bananas para nos tornarmos o paraíso das celebridades, mesmo que forjadas da noite para o dia.

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