DO ANTIGO HOJE SOU REI

    <!– /* Font Definitions */ @font-face {font-family:Verdana; panose-1:2 11 6 4 3 5 4 4 2 4; mso-font-charset:0; mso-generic-font-family:swiss; mso-font-pitch:variable; mso-font-signature:536871559 0 0 0 415 0;} /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-parent:""; margin:0cm; margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:12.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-font-family:"Times New Roman";}@page Section1 {size:595.3pt 841.9pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:35.4pt; mso-footer-margin:35.4pt; mso-paper-source:0;}div.Section1 {page:Section1;}–> Certo dia, no começo de dezembro do ano passado, recebiesta pequena, mas significativa mensagem, vinda a mim pela lista do bom amigo,conterrâneo, e excelente poeta Alberto Cohen.   Li e reli, senti não só o lamento, não só um toque deamargura, como a força dos versos de um poeta. Me emocionei. Mergulhei fundo nas palavras, no sentido do desabafo, natristeza mal escondida nas entre linhas, numa espécie de despedida que meassustou. Achei que eu não alcançara o verdadeiro sentido daquele pequeno textoem prosa que, se posto em versos, talvez até fizesse mais justiça ao seu autor. Mas ele não queria justiça, não, ele desejava mesmo eraextravasar o que lhe doía na alma, o que lhe tocava forte no coração sofrido,carregando também uma pesada saudade do passado. Foi o que me pareceu. Lendo e relendo novamente aquelas linhas percebi mais aoseu final uma ponta de esperança, um orgulho sem vaidade, porém como dignidadepessoal, um auto reconhecimento merecido pelo talento com que sempre escreveutanto em prosa quanto em verso.  Eu diria, um poeta completo, reconhecido, aplaudido,premiado… e meu amigo. Me orgulho de ter sua amizade. Vamos então ler o queme escreveu este meu grande amigo e conterrâneo, amizade que vem desde nossainfância:   “Nem sei mais sevale a pena. Estou muito cansado, não disputo nada, nada. Sou apenas um desaída e o que vai ficar não importa. Sou apenas “pregonauta” de tantosdias que foram, de dias que não ficaram, de dias que não verei. A vaidade é coisatola. A ambição é coisa antiga. E do antigo hoje sou rei.” Claro que vai valer a pena sempre, meu bom amigo, sempre.O que tem valor, o que é verdadeiro, o que já foi consagrado pelo teu talento,será eterno não apenas enquanto dure, como disse Vinicius de Moraes, mas aeternidade te saudará sempre. O teu caso de amor com a poesia e com a própriavida jamais poderá ser apagado ou esquecido por quem te conheceu e tereverenciou.  O cansaço é natural da vida, do longo caminho que vamospercorrendo. Não precisas disputar mais nada, mesmo, até porque nada maisprecisas provar a ninguém. Já escreveste a tua história de poeta, dos melhores,resta agora que aqueles que ainda se mantêm calados, quebrem o seu silêncioinjusto e te cubram com as glórias a que fazes jus de há muito.  Não fala aqui só o amigo de tantas décadas, fala o coraçãode quem é fã do teu maravilhoso trabalho já consagrado em tantos livros etantas premiações.  Ainda é cedo para te julgares “saindo de cena”, meu bompoeta. Perdoa se discordo aqui do que dizes, com todo o respeito, o que vaificar importa, e importa muito, pois quando realmente partires, como todos ofaremos um dia, terás deixado uma obra digna de muitos aplausos.  Quantos irão aprender com teus versos? Quantos irão poetarporque lhes deixaste o caminho aberto? Quantos lamentarão então, quem sabe, nãoter te conhecido?  Tua veia poética também te ditou … “de tantos dias que foram, de dias que não ficaram, de dias que nãoverei.” Demonstraste, na minha modesta visão, uma certa saudade do passadoe uma preocupação com o futuro. Para este teu “passeio” no tempo criaste umapalavra, “pregonauta”, mas e daí? Quantos mestres já não o fizeram, na poesia,na prosa, na música? Drummond é um desses exemplos.  A mim revelaste a intenção de, no sentido figurado, tecolocares como um “pregador astronauta”. Afinal o verdadeiro poeta quandoverseja deixa não só falar o seu coração como navega num cosmo que o envolvenum etéreo de elevada e sublime inspiração. Falo dos verdadeiros poetas, comotu.  Pregador o és, sim, mas no sentido da palavra que visa adefender e a semear o belo, aquilo em que acreditas, o amor que te alimenta oviver, a natureza que te rodeia e te saúda, a força que te dá coragem edisposição para não desistires nunca, e mesmo a dor quando grita mais alto queo silêncio dentro do peito.  Um D. Quixote moderno que me faz entender claramentequando afirmas… “Do antigo hoje sou rei”… A vaidade venceste há muito tempo, a ambição jamais te seduziu, osucesso sempre mereceste, só que lamentavelmente o reconhecimento costuma serlento. Mas, amigo, já estás consagrado.  

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