É PENTA, AGORA AGÜENTA

    Isto também se aplica a mim, com certeza. Eu tinha dúvidas sobre nosso sucesso, porém jamais torci contra e nem admitiria fazê-lo. Sempre disse que se chegássemos ao título, desta vez, seria muito mais pelo talento de alguns jogadores brasileiros, indubitavelmente, do que graças a eficientes esquemas táticos. Estes realmente não tivemos. Já o técnico Felipão jamais admitirá isto, lógico. Mas não se lhe pode negar  mérito também em mais este feito histórico do nosso futebol.  Torci e torci muito a cada jogo. Comemorei e comemorei bastante a cada vitória. Há gente em nossa crônica esportiva, entretanto, que em vez de comemorar deveria estar pedindo desculpas. Alguns escreveram tantas tolices, extrapolando o direito à crítica e a  sandejar. Não li em alguns deles, que agora se lambuzam e se babam à farta, juntando-se ao festejar da sofrida torcida brasileira, uma só indicação de crença em que o Brasil pudesse, ao menos, chegar à semifinal da Copa.  Ao contrário, do alto de sua cátedra e intocabilidade quase canonizada, nomeavam os cinco maiores favoritos e os mais condescendentes, “generosamente” destinavam à seleção brasileira um modesto quinto lugar. Na crônica “Ora bolas” eu contei que vi e ouvi o Pelé dizer, na televisão espanhola, na véspera da Copa, os seus prováveis cinco favoritos ao título. Nem falou no Brasil, acreditam?   Depois, claro, ele mudou o discurso, tal qual fazem os previdentes, ou prescientes, que vivem a fazer previsões ou os matemáticos que passam a vida a fazer cálculos de probabilidades, no futebol, sempre em cima do óbvio, que o próprio futebol faz questão de desmoralizar freqüentemente. E eles não aprendem nunca. Agora devem  estar também comemorando com as sobras da festa. Que  se empanturrem bastante.  Há ainda os carrancudos arautos do derrotismo incurável. Não cansaram de repetir em suas colunas, ou em suas falas na TV, que “o futebol brasileiro está decadente, faz tempo.” Pergunto eu: decadente, cara pálida apocalíptico? Explica, vai, explica que este cidadão de inteligência mediana não consegue alcançar o elevado sentido de análise de sua grandiloqüência.  A propósito, repito aqui o que disse o excelente comentarista, e quase meu vizinho, o Sérgio Noronha: “Como podem alguns afirmar que o futebol brasileiro está decadente se em 1994 fomos tetracampeões, em 1998 fomos à final novamente, e agora, em 2002, acabamos de nos sagrar penta?”  E eu faço outra pergunta: quem fez melhor do que nós? Só a Alemanha conseguira antes disputar, por 3 vezes consecutivas, o título mundial, mas ganhou apenas um desses três. No total ela continua tri, claro.  Os “brasileiros” que apostaram ora na Argentina, ora na França, ora na Inglaterra, ora na Itália, ora em Portugal, e até na Espanha acabaram tendo que acordar para a realidade e calcular seus prejuízos. Não entendo como eles conseguem. Mesmo em ano de eleições importantes, no Brasil, eu jamais torci ou torceria contra o meu País. Simplesmente não dá. Jamais escorregaria pela perfídia, pela traição.   Falo em eleições porque vi preocupações em pessoas bem intencionadas. Temiam que um sucesso total da nossa seleção fosse explorado pelo atual governo como uma “vitória sua”. Acharam que o povo, no porre de uma comemoração alongada, na ressaca da celebração incansável de um título tão esperado, em tal torpor, em tal alienação, poderia, nos meses que faltam até as eleições, não refletir com a seriedade e a lucidez necessárias para não se deixar iludir com o canto de sereia do planalto.  Bobagem que até  os candidatos da oposição, Ciro Gomes e Lula, fizeram questão de não dar guarida. O Lula foi bem enfático até ao dizer que estava torcendo e muito pelo Brasil. O resto merece outro tipo de apreciação. Como o povo vota eu vou abordar em outro trabalho que está em gestação com o título de: “A VOZ DE DEUS?”. E não tem nada a ver com o Brasil ser ou não ser penta.  Li um documento, na internet, onde o autor se dizia preocupado, ou decepcionado, com um eventual sucesso da seleção brasileira, pois entendia que em meio às comemorações ninguém apuraria mais nada das denúncias feitas naquela CPI do futebol. Lembrava que os clubes acabariam não pagando seus débitos com o INSS, dirigentes denunciados não seriam punidos etc e tal.  Ora, que conseqüências práticas trouxe a CPI do futebol, afinal? Isto, bem antes da Copa. Foi encerrada e devidamente arquivada no ostracismo da ética desnutrida e depauperada do nosso Congresso. Quem foi punido? Ademais, se os clubes têm elevados débitos para com o INSS, quem deve muito mais que eles é o próprio governo federal. E quem o obriga a saldar esta dívida?   No meu entender a CPI do futebol serviu mais foi para alguns políticos aparecerem constantemente na mídia com ares e poses de pessoas acima de qualquer suspeita. Pois nem todos ali eram tão insuspeitos assim, o resultado final da CPI o provou. E por isso eu não iria torcer pela nossa seleção na Copa do Mundo? Quanta bobagem.  Peço desculpas ao autor daquele texto, mas isto seria um disparate. Nossos atletas foram dignos, sim, do nosso respeito e não seria justo atirar sobre eles a indiferença, o desprezo, a repulsa que merecem alguns dos homens que dirigem o futebol em nossos clubes. Misturar as coisas seria um imperdoável equívoco e uma grande injustiça. Se alguns jogadores pisaram na bola antes, agora se redimiram.  Em outro longo texto, que já circulara também pela Internet, pessoas que se escondem na sombra do anonimato, demonstrando a sua poltronice, voltaram a atacar os  internautas incautos às vésperas da decisão. Êta patriotismo!. Apresentam uma longa denúncia tentando explicar a grande “maracutaia”, segundo eles, que foi a “entrega” do título mundial pelo Brasil, em 1998.   Chegam ao requinte de apresentar várias cifras elevadíssimas que teriam comprado consciências. Falam de acordo entre a Nike, a Fifa e a CBF, e outras presepadas mais. Você me pergunta: apresentaram provas, evidências? Claro que não. É o Brasil que estamos vivendo, onde qualquer irresponsável, qualquer pessoa mal intencionada, simplesmente escreve o que bem entende, diz o que lhe vem à cabeça sobre pessoas ou entidades, não prova nada e ainda sai impune. Um dia isto vai acabar.  O mais criminoso desta mensagem, é que, ao final da mesma o autor pergunta: “Garantiu (Blatter) ao Sr. Ricardo Teixeira, através de seu sogro, João Havelange, que o Brasil teria seu caminho facilitado para o pentacampeonato de 2002…E agora?..E se o Brasil ganhar essa Copa? Vai ser por mérito, ou….. hhuuummm…..”  Quanta estupidez, amigos! Por que não assumem e assinam o documento?  A esses pobres de espírito, que subestimam os feitos de nossos atletas, e super estimam os de nossos adversários, eu faço uma pergunta que certamente não vão poder responder: “Se estava tudo ‘armado’, como têm a petulância de afirmar, como explicar que contra a Inglaterra tivemos, nós, o melhor jogador em campo, Ronaldo Gaúcho, expulso, e mal expulso? Não seria o caso de o árbitro expulsar o melhor dos ingleses?!” Não têm resposta, pois foge à lógica de sua argumentação mentirosa.  Como contestar uma vitória maiúscula com 10 jogadores, contra uma Inglaterra que até o Juca Kfouri, excelente jornalista de S. Paulo, garantiu na RedeTV, que derrotaria o Brasil? Mais: qual foi a “ajuda” que deram ao Brasil na vitória duríssima na semifinal, contra a Turquia? Deve ter sido a inteligência do Ronaldo ao usar o bico da chuteira, numa modéstia própria de quem está muito acima desses medíocres que tentam enlamear seu próprio país e seus atletas.  Para esses falsos “brasileiros e brasileiras” eu invoco o saudoso poetinha Vinicius de Moraes para dizer: Ora vão para “a tonga da mironga do cabuletê”. E o grande tricolor, Nelson Rodrigues, se vivo fosse, quem sabe a eles diria: “A inveja mata, mas o despeito apátrida causa aversão, auto-repugna e mergulha o ser no extremo de um ridículo irreparável que ruboriza até a belzebu.”    Mas, chegamos a outro título inédito. Pelo caminho desfaleceram grandes favoritos como a França, que quebrou os saltos altos e não fez um só golzinho em 3 jogos, a Argentina, que errou o passo ao dançar tango com os ingleses, a Itália, que culpou árbitros, mas não explicou os tantos gols desperdiçados, Portugal, que naufragou na primeira fase, e a Alemanha, que teve ao menos o mérito de chegar à final, mas a primeira vez que ela enfrentou o Brasil numa Copa, ela não vai esquecer, com certeza.  Andaram dizendo que os americanos não se interessam por futebol, que a deles é basquete, baseball, golf etc. Me engana que eu gosto. Então porque contrataram técnicos e até grandes craques brasileiros no passado? Por que formaram uma Liga, disputam campeonatos e se interessam em estar na Copa do Mundo? Até sediaram a Copa de 1994, quando fomos tetra, certo? Sabiam que os EUA são campeões mundiais de futebol feminino? Pois é. O despeito da eliminação, nesta Copa, falou mais alto pela soberba, pela arrogância congênita e inata de quem não sabe perder.  Só para lembrar: o Brasil ganhou 5 mundiais, todos fora de casa. A Argentina ganhou um de 2, em casa, e houve de tudo. Já esqueceram o gol, com a “mão de Deus”, do Maradona e a entrega vergonhosa do Peru, que se deixou vencer por 7×0 para eliminar o Brasil? A Alemanha, quando venceu em casa, também foi muito favorecida, valeu até gol que não entrou, na decisão. Já esqueceram ou não eram nascidos? O título da Inglaterra, conseguido em casa, também não foi nenhum exemplo de lisura. Então, por favor, respeitem o futebol brasileiro. É penta, agora agüenta.  E eu vou comemorar, depois a gente trata de política. Cada coisa a seu tempo.   

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