FALSO BRILHANTE

    Bem falante, poliglota, alto, sarado, boa pinta, amante do vôlei e da caça submarina, o capitão Claudio Coutinho foi preparador físico da seleção brasileira de 70, campeã do mundo. Sabia pouco de futebol, mas, sem muito esforço, em pouco tempo, começou a “ditar cátedra”. Promovido a técnico de futebol, criou termos como  "overlapping" e "ponto futuro". Em 1978, dirigiu o Brasil na copa da Argentina, onde se disse “campeão moral”. Com uma baita sorte, viu cair no seu colo o último timaço do Flamengo. Esperto, não inventou e ganhou vários títulos. Morreu em 1981, aos 42 anos.Apesar de conhecer o seu currículo, nunca soube defini-lo com precisão, até que, há pouco tempo, numa conversa, o meu interlocutor foi na mosca: era um falso brilhante. Quando o Rio foi escolhido sede do Pan, o prefeito César Maia, arrotando empáfia e dinheiro em caixa, prometeu, em decorrência dos jogos, novas linhas do metrô e de transporte, alargamento de avenidas, despoluição da Baía da Guanabara, enfim um ganho social e esportivo sem precedentes. Por sua inépcia, o prefeito foi veladamente afastado do comando das obras – assumidas e bancadas pelos governos estadual e federal – e contentou-se com um apagado papel de coadjuvante. Se, “no social”, os jogos não foram o que se esperava, pelo menos serviu para acabar de desmistificar César Maia na sua autoproclamação de brilhante administrador de uma metrópole em que atua de forma cosmética nos bairros nobres, e que se faz presente nos demais por e-mail. Arnaldo Jabor é outro falso brilhante. Cineasta frustrado aproveitou a cultura obtida por anos de leitura da VEJA e transformou-se num comentarista de estudada veemência. Primeiro lê o editorial do jornal em que escreve e só depois decide o que será conveniente pensar e publicar. Pode perfeitamente atuar como fazia um antigo editorialista do interior: escrevia contra o prefeito no jornal de oposição, atravessava a rua e escrevia outro texto, agora a favor, no jornal da situação.Pior do que cineastas que se acham gênios são os críticos metidos a intelectuais. Assistem a filmes de cineastas como Bergman e Antonioni, “bóiam” o tempo todo, mas, para não deixarem a “peteca cair”, definem as películas como uma “uma visão cognitiva e perpendicular do convexo subliminar”. Ou seja: não entenderam nada!No BC também existem os falsos brilhantes. Pose de intelectual e sorrisos de plástico, produzem rebuscados e inúteis relatórios que, entregues, são engavetados. Por seu “valor” não respeitam horários e exigem privacidade nas suas salas. Trajam-se solenemente de terno e gravata e carregam majestosas pastas de couro.Lá como cá, todos me fazem lembrar de um imponente chefe do BC, que transpirava brilhantismo e autoridade. Um dia, deixou cair sua inseparável e portentosa maleta 007 no hal dos elevadores no burburinho da entrada. Do interior da mala, em vez de surgirem secretos e importantes documentos, que, se caíssem em “mãos inimigas" – julgava-se com o poder colocar em risco a soberania nacional – esparramaram-se pelo chão uma escova e uma pasta de dentes e vários tubos das pastilhas “Garoto” de hortelã.    

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