FELICIDADE OU EUFORIA?

    Nós, ocidentais, somos educados, formados, e alimentamos o “vício”, de procurar pela felicidade, mas por caminhos equivocados. Talvez por isso, nós temos, na desilusão, no desânimo, no sofrimento, uma conseqüência quase inevitável.  Hoje em dia esta busca fica mais incessante já que incentivada pela mídia a dar exemplos e mais exemplos como se, ser feliz, seja alcançar tudo de material que possamos conseguir. Somar posses não sentimentos. Como estamos enganados e como temos sido mal orientados com relação a esta fortuna tão almejada. Até os dicionários o definem não só como contentamento, ventura, mas também como êxito, sucesso, etc. Alcançar a felicidade, amigos e amigas, é algo bem diferente do que uma simples perseguição de um objetivo como fazemos nós, ocidentais. Na sociedade consumista em que somos criados e na qual vivemos tendemos a levar muito mais em conta os valores materiais e por eles quase que somos capazes de tudo. Os exemplos estão aí a se disseminar cada dia mais, basta ver e ouvir os noticiários da mídia em geral. O problema é que muitos fogem de ver e ouvir a realidade a sua volta. Preferem “ser feliz” sem ver sem ouvir o que se passa diariamente a sua volta. As pessoas não só querem ter o melhor carro, se puderem ter, como a mais bonita casa, se puderem, claro, entre outras coisas. E se não puderem, parece que está virando “moda” matar-se para alcançar-se o intento. Matam-se mesmo sendo parentes, em família.  Quantos casos já foram noticiados de filhos que, pensando em “pegar” logo a herança e mostrando uma insanidade que atua junto com uma crueldade total, matam seus próprios pais ou contratam pessoas para fazer este serviço sujo? Depois posam de vítimas e “choram” diante das câmeras de TV. Quanto fingimento, jovens que foram criados numa sociedade consumista que costuma ensinar tudo errado. Infelizmente esses casos não são mais tão raros.  Quando tem dinheiro envolvido, principalmente em termos de riqueza, seja pela sorte (loteria), seja pelo trabalho honesto, ou nem tanto, como se diz vulgarmente, “sai de baixo”. Para muitos hoje em dia os fins costumam justificar os meios. E os meios vocês sabem que costumam ser os mais condenáveis possíveis.  Disputamos com afinco, e nem sempre com lealdade, um lugar mais alto na estrutura de trabalho. Isto não começou agora, nem ante ontem. Quando eu era funcionário do BB via muitos colegas serem alçados a vôos mais altos por mérito, esta era normalmente a regra. Porém eventualmente alguém acabava favorecido pelo tal do “quem indica” ou por ocasionalmente ter um diploma a mais que outros, mesmo reconhecidamente competentes, não o tinham. Um critério discutível que nem todos aprovavam. Alguns traíram amigos de muitos anos, para lograr alcançar seus objetivos carreiristas. Conheci alguns exemplos. Claro que me refiro aos que foram prejudicados em disputas desleais, até quando estava em jogo algum alto posto na Administração, geralmente traídos por quem eles conheciam e respeitavam até então.   A educação ou falta dela está na raiz disso tudo. Educação à moda ocidental, valorizando sempre o ter no lugar do ser. Hoje mais do que nunca. Triste é ver que pais são muitas das vezes responsáveis por uma orientação totalmente distorcida a crianças e jovens que acabam alimentando um sentimento deformado do que seja verdadeiramente desfrutar de uma felicidade plena.  Se eu perguntasse agora a todos vocês que me dão a honra de me ler se são felizes, se realmente se consideram felizes, com certeza muitos responderiam afirmativamente. Muito bom isso, pois sei que muitos dos meus amigos podem celebrar uma felicidade verdadeira, pois os conheço bem e às suas pessoas próximas. Não estariam mentindo. Outros, todavia, podem apenas estar confundindo o que um grande Mestre Oriental que eu ouvi outro dia em programa na rádio CBN, num sábado, definiu como euforia. Ele explanava sobre o tema felicidade e estabelecia comparações entre as visões, tanto ocidental, quanto oriental.  Em sua análise estava incluída a educação em família. A orientação recebida pelas crianças como fruto de um processo desenvolvido e ensinado há séculos, há inúmeras gerações. Uma forma de entender a vida bem diferente de como fazemos nós, os ocidentais.  Ele explicava que no nosso mundo muitos confundem uma sensação de bem-estar, uma alegria, digamos, expansiva, quase explosiva, como sendo felicidade. Não, não é isso, quando muito se pode dizer que se trata de um estado de euforia, nada mais. Deste pode-se, de repente, acordar para a realidade, momento em que a euforia desfalece e a depressão pode ser sua substituta.  Com muita maestria e palavras que eu não teria competência de repetir aqui e agora, ouvi com muita atenção e concordei com ele ao definir o verdadeiro estado de felicidade. Esta resiste a tudo. Ela pode sentir perdas que fazem parte da vida, porém jamais desistirá de latejar bem no âmago do ser de quem era e continuará a ser feliz por outros caminhos ou por outras motivações.  Felicidade é um estado de espírito, ou como dizem outros, são momentos felizes, que não estão à venda e jamais os conquistamos passando por cima da infelicidade de outros.  Francisco Simões.   (Março / 2012)               

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