Invejoso

    Certa feita, de forma surpreendentemente, Carlos Drumond de Andrade declarou que gostaria de ter sido Vinicius de Morais. Não recordo dos motivos que alegou, mas, também tenho inveja da maneira de como viveu o “poetinha”: foi namorado, noivo, marido e amante de inúmeras mulheres. Constitui famílias, teve filhos, mas vivia solteiro. Foi cidadão do mundo; gourmet; bom de copo; papo “cabeça”; cursou pós, mestrado e doutorado em boêmia; compôs e fez poesias como poucos; cultivou o ócio com maestria inigualável e, nas horas vagas, até trabalhou como diplomata. Como neste mais de meio século de vida já quis ter sido muita gente, as lembranças aí de cima surgiram depois de assistir aos desempenhos de um ator pelo qual nutro uma fiel inveja. Entretanto, como acontece em qualquer filme que se preze, vou manter o suspense e dizer o nome apenas no final do texto. Antes, em ordem cronológica, vou revelar as minhas mais marcantes ”invejas”, não sem confessar que esse sentimento só acontece porque insisto em contrariar o dito popular de que “ninguém vive de sonhos”, isso porque – diariamente, naqueles momentos em que já deitado, a gente fica de “bobeira” esperando o sono chegar, imagino acordado estar na “pele” dos meus personagens prediletos vivenciando incríveis aventuras. Sempre gostei de filmes e como meu pai adorava o gênero faroeste a melhor maneira de freqüentar cinemas era chamá-lo para assistir as performances dos “mocinhos”. Ele era fã do ator Rory Calhoun que apesar de nunca ter rivalizado com o John Wayne, acabou se transformado no meu primeiro invejado ídolo. Todo filme do sujeito começava com uma briga em que ele como xerife, com apenas um soco derrubava no mínimo dois oponentes. Além dos seus tiros nunca errarem a testa dos bandidos, no final, trocando beijos, sempre casava com a “mocinha” de boca carnuda e olhos azuis.Isso durou até assistir aos “Irmãos Karamozov” com Yul Brunner e Christine Kaufmann que, na vida real, casou-se com o Tony Curtis. Desta feita, não invejei o personagem, mas, sim o ator, por ter conquistado a mulher de rosto mais lindo que já vi. Tempos depois, uma tia me deu uns “trocados”, para que eu fosse assistir ao filme “O Satânico Dr. No”. Antes de dar as costas, observou: O ator principal é lindo! Não sei se o Sean Connery é tão bonito assim, mas, interpretando o famoso espião, certamente é o mais charmoso dos agentes. Saí do cinema elegendo-o como um novo semideus. O 007 do Sean Connery, era educado, elegante, requintado, galanteador, inteligente, virtuoso em armas e lutas e, principalmente, um “Don Juan” implacável: conquistava as amigas, e, as inimigas, primeiro “faturava”, depois dava um fim nelas. Um raro personagem nacional que sonhei em ter sido foi o Beto Rockfeller encarnado por Luiz Gustavo na finada TV Tupi. Beto era um lojista que, através de hábeis golpes e mentiras hilárias e inteligentes, conseguia se passar por socialite e deixar aos seus pés, a Débora Duarte com 25 anos, interpretando uma ricaça lindíssima e Bete Mendes fazendo uma remediada e eternamente maravilhosa Renata com quem se casa no fim do folhetim e por quem me apaixonei perdidamente durante muito tempo. Ultrapassada a fronteira dos “enta” achava que havia envelhecido a ponto de não mais ficar me imaginando na “pele” de personagens. Certeza que durou pouco. Em 1990 assisti a um filme do qual, até hoje não sei se passei a idolatrar o ator ou personagem. Geralmente ele encarna tipos bem afeitos ao que dizem que é na sua vida real: um bonito, polido, elegante, místico, rico, bem resolvido executivo de meia idade, habitual dos jatinhos particulares, das Ferraris, do Maxim’s, e da Bloomingdale’s, que, para conquistar a mulher amada – seja ela uma prostituta ou a sua própria esposa – “humilha-se” em surgir de simplórias escadas com um buquê de flores para ofertar às suas amadas da vez. Acabou o suspense! Refiro-me a Richard Gere! “Noves fora” seus predicados descritos acima, já fez cair aos seus pés, entre outras, a Julia Roberts, a Sharon Stone, a Helen Hunt; a Julia Ormond ,etc. E o que acaba com qualquer invejoso de “cintura dura” : tendo como par, nada mais nada menos, do que a Jennifer Lopes, ainda por cima comprovou no filme “Quer dançar comigo?”, que é um tremendo de um “pé de valsa”! .Fato que, por si só, já me “mataria de inveja!”

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