LÓGICA DE TAXISTA

                    Escutei o cronista Ruy Castro dizer no rádio que anda muito de táxi no Rio e em São Paulo e que, por isso, tem muitas histórias para contar sobre os motoristas, mas que, evita  falar sobre o assunto porque pode ser reconhecido e passar por poucas e boas. Mas, não resistiu em narrar que ao pegar um táxi na capital paulista num calor sufocante, pediu para ligar o ar-condicionado. O profissional, contudo, recusou-se a atender ao pedido alegando que estava muito suado…              Mesmo não sendo usuário habitual da condução, tenho impressão de que os taxistas gostam de entabular conversa comigo, porque viajo na frente, ao lado deles, em igualdade de condições.  É a senha, para quebrarem o gelo.             Teve um que ao ver um veículo da Globo passando ao nosso lado contou ter possuído uma Kombi velha que colocou a serviço do jornal O DIA. Ganhou algum dinheiro e comprou uma van usada, em boas condições. Passou, então, a fazer serviços para a TV Globo. Em um dos seus afazeres, o de transportar figurinos para as gravações das externas, uniu-se ao controlador da emissora para passarem a contabilizar as viagens em dobro e dividirem o lucro. Descobertos, foram ambos demitidos. Vendeu a van e viveu desse dinheiro por uns tempos.            Fez uma pausa e continuou: “quando me mandaram embora, entrei numa depressão danada! Mas, não pelo dinheiro. É que sem o emprego, perdi a fama. Fiquei sem prestígio. Perto de onde moro, quando eu passava, todo mundo apontava para mim e dizia: tá vendo aquele lá? É ele que leva as roupas para o Toni Ramos, a Glória Pires gravarem a novela…”               Entrei no táxi e o motorista me sorriu com cara ironia. Deixou eu me ajeitar, prender o cinto e falou: “abra o porta-luvas que vai encontrar balas de todos os sabores. Compro para oferecer aos diabéticos.” Aí me perguntou: “você é diabético?” E sem me dar tempo para responder continuou: “Não deve ser não, se fosse já teria pegado uma”. E concluiu: “Eu sou diabético. Fico feliz da vida quando entra um aqui no carro e aceita uma balinha. Eu aproveito e chupo uma.. Como somos cúmplices de um mesmo crime, um perdoa o pecado do outro…”               De repente, o trânsito engarrafado em frente à Rodoviária Novo Rio, andou. Contudo, atrapalhando o fluxo dos carros, muita gente a pé atravessava a pista de uma calçada para outra. O motorista do táxi no qual eu viajava começou a buzinar e gritar: “ATROPELA! A-TRO-PE-LA!”. Protestei: “O que é isso!? Como é que se senhor pode mandar os motoristas atropelarem as pessoas!”. Sem me olhar e continuando a buzinar freneticamente ele respondeu: “Quem atravessa a pista tendo uma passarela em cima da cabeça, tem que ser A-TRO-PE-LA-DO! ATROPELADO!” E concluiu, sem direito a réplica: “Pedestre acha que passarela é para ele atravessar a rua na sombra”.              Uma por ouvir dizer e outra por intuição, aprendi que há duas “coisas” que não se deve contrariar: maluco e lógica de taxista.

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