MAIS UM NATAL!

    Gente amiga, quem me conhece há mais tempo sabe que não sou de escrever sobre a época natalina. Mesmo assim já divulguei, nesses 10 anos, uns 3 ou 4 textos abordando a temática do Natal. Em versos, costumo dizer que depois que escrevi o poema “É Natal”, em Dezembro/1998, sempre achei que minha visão sobre o assunto se esgotara ali. Aquela poesia mereceu alguns bons prêmios quando eu participava de Concursos Literários, e cada vez que a releio percebo que dificilmente escreverei algo novo, ou diferente, dentro do tema. Mesmo assim, em Dezembro/2005 ousei escrever o poema “O Natal Deles”. Expressei mais uma vez a minha visão social do Natal.  Não tem jeito, não consigo escrever palavras bonitas, cantar louvores, e mais, as músicas natalinas, confesso, de certa forma me deprimem, enquanto a outros alegram tanto. Nada tenho contra as comemorações, e até participo da que fazem aqui em casa, respeitando sempre os sentimentos de meus familiares.  Assim, peço vênia aos amigos e amigas para apresentar, a muitos que chegaram depois e não devem conhecer meu poema, os versos do “É Natal”. Nele falo de José, Maria e Jesus, porém como pessoas comuns, à margem de uma sociedade que finge não vê-los, que lhes vira as costas, ou que os evita.  Cristãos que, com certeza, ao ver, quem sabe, um novo Cristo andando pelas ruas, com as vestes de antes, e a pedir paz e justiça social, não hesitariam em chamar a polícia. A história se repetiria.                                        É  NATAL É Natal,Mas talvez nem todos saibam,Talvez porque não caibamNo Natal. Seu nome é José,Ele não tem MariaJá teve um diaHoje é só o Zé.O Zé lá da praçaQue fala sozinhoOu fala com os anjos,Que fala baixinhoE sorri pra meninaUm anjo que passaQue não fala com o Zé.Ninguém sabe quem é,As flores,  o vento,Os grãos de areiaEntendem José.Os pássaros também.A praça limita seus passosMas não seus pensamentos.Sua mente alceia, alceia,E passeia muito além.Ninguém conhece o José,José não conhece Belém.A árvore de Natal na praçaPara José não passaDe uma alegria iluminadaQue pisca e pisca pra ele,Que pisca e pisca, mais nada. Seu nome é MariaDa porta da igreja,Está ali todo dia,Talvez só Deus a veja.A igreja é de Deus.Ela ouviu a históriaDos bondosos Reis Magos.Eles  passam  pra  lá,Eles  passam  pra  cá,Sem mirra, incenso ou ouro.Para ela são Reis MagosQue não lhe dão afagos,Que não lhe dão presentes.Nada ouvem por mais que peçaPois, toda aquela genteLeva nos pés muita pressa.Sem pressa tocam os sinosO seu anúncio etéreo:”Nasceu oDeus Menino”.                                      Plantam-se ceias nas mesas,Ouvem-se coros, orquestras,Mas Maria não tem mesa,Maria nem tem janelaSó tem a porta da igrejaE uma natalina certezaDe que a noite que agora bocejaVai dormir sem lhe trazer festa. Seu nome é Jesus,Jesus, menino, 10 anos.Ele não tem segredosApenas certezas miúdasE muitas mágoas graúdasQue esmagam a criançaE constroem sua cruz.A boca gelada de silêncio,Silêncio que grita mais altoQue a voz das passeatas,Que esconde o seu medo.Escolaridade: mendicância.Ele povoa a cidadeEntre tantos Jesus,Entre tantos contrários,Sem mangedoura, sem berçário,Carregando sua fragilidadeSem cobrar o que a vidaHá muito lhe deve: a infância.Jesus, 10 anos, menino,Por ele passam os sonhosDe tantos que levam planosNa cabeça,  nos passos,No olhar,  no sobressalto.Nas mãos de Jesus uma lataOnde cabe o seu espaço,Onde fecha o seu destino. É NatalMas eles não sabem,Talvez porque não cabemNo nosso Feliz Natal.                  ………………………………..(Esta poesia ganhou o prêmio de Melhor Crítica Social na 4ª  e na 6ª  edições do Concurso “Expressão da Alma”, no Rio de Janeiro, além de diversos outros prêmios importantes em vários concursos literários)

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