NÃO TEM ESSES DIAS?

    Não tem esses dias que a gente acorda mal, após uma noitada?… Com hálito de múmia, gosto de guarda-chuva na boca, cheio de sono, “tiritando” de frio e, olhando lá fora o tempo chuvoso, automaticamente pensa no que daria para não trabalhar e voltar para a cama?Aqueles dias que, ao encarar o espelho, constata que está “arrasado”, mas que ao ligar o rádio, descobre que é sábado, corre de volta para a cama, puxa o cobertor até a cabeça para não ser incomodado por um nenhum feixe de luz e dorme até as dez?… Não tem?… Aqueles que, depois do banho “ressuscitante”, com uma fome de anteontem, a gente vai até a copa e encontra a mesa posta, com direito a broa de milho e bolo de aipim com coco?… Aqueles que, ao esparramar-se no sofá para ler os jornais, surge a neta que – com toda autoridade concedida – “ordena” que seja levada para brincar no playground?… Aqueles momentos em que se “morre” de orgulho de observá-la disputar espaço no “pula-pula” com outras crianças?… Aquelas oportunidades únicas, longe da mãe e da avó, para soltar os cabelos louros e rebeldes da menina para que possam dançar ao som do vento, como a gente adora?… Não tem esses dias?…”Àqueeeeles” em que se vai para frente do micro caseiro para ver mensagens, navegar na Internet e ler o friburguense “A voz da Serra On Line” como se fosse dia útil?… E que se constata estar tão intimamente ligado a essas “tarefas”, que não se imagina mais vivendo sem elas?… Não tem esses dias que, ao saber que está dispensado de ir ao shoping ou ao supermercado; finge contrariedade, enquanto, intimamente, exulta com a possibilidade de curtir sozinho as suas músicas?… E que ao tempo em que se surpreende, também se delicia ao ouvir Fafá de Belém, interpretando Chico Buarque?… E que, acompanhando as músicas em voz alta, algumas delas lhe tocam tão fundo que o fazem chorar compulsivamente?… Não tem aqueles dias que gente “mata” a vontade de comer banana “ouro” na comida, sem ser recriminado por causa da “indigesta” mistura?…Dias que, enquanto chupa tangerina – cospe o caroço para o alto, tenta aparar com a boca e joga a casca no chão?…  E que se assiste pela milésima vez à “Casablanca”, sem concluir – mais uma vez – qual seria o final ideal do filme?… Não tem?Não tem esses dias que você pode zapear pelos canais assistindo todos os telejornais sem que lhe peçam para ver a novela?… Não tem esses dias, que o controle remoto é todo seu?”Aqueeeeles” que, no silêncio do quarto, a temperatura do cônjuge faz despertar os sentidos?… E que confessa que andava em dúvida de quanto ainda são ardentes os corpos e beijos?… E que constata que o banho a dois é o final ideal do ato sexual?…  E que não passou de um sonho aquele tradicional cigarro que fumaram depois do sexo?… E o quanto foi bom o sábado? Não tem aquelas manhãs de domingo que, para exercer a satisfação de escrever a crônica da semana no ambiente ideal, a gente se tranca no quarto, amparado no dicionário aberto, e ao mesmo tempo, sintoniza o rádio no esporte, deixa a TV sem som e ouve um CD? Não tem?Aqueles em que percebe que está “autorizado” a fazer a macarronada à sua moda e sob suas condições: sorvendo a cerveja gelada, sem obrigação de lavar a louça, bagunçando tudo e livre dos palpites?…  E que pode dormir à tarde, conforme desejou a semana inteira? E que depois, na falta do Friburguense e desencantado com Vasco atual, vai para frente da televisão torcer fanaticamente pelo Santos de Robinho & Cia?…Não tem aqueles inícios de noites em que se retoma a mania da leitura de vários livros ao mesmo tempo? Aqueles em que é autorizado a exercitar os dotes de decorador de interiores? Não tem aqueles finais de domingo que, contrariando a corrente, ao ouvir a música do Fantástico convida o cônjuge para sair, “comer alguma coisa” e colocar os assuntos em dia?…Esses dias que só depois que todo mundo vai para a cama, é que, madrugada à dentro, “devora” os jornais e revistas, tendo como fundo sonoro as mesas redondas dominicais da TV?Aqueles dias em que, antes de dormir, fica pensando na sorte que tem em trabalhar no que gosta e em quais matérias comporão a próxima edição do BC Rio?  Não tem aquela segunda-feira em que acorda e decide que a primeira providência do dia será o envio de uma mensagem ao Roberto Vivas, agradecendo por tê-lo alertado e lembrado de que existe um sem-número de prazeres despercebidos que não cabem numa só crônica?…  Não tem esses dias?…  

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