OS CULPADOS SOMOS NÓS

    Já que o reajuste de julho foi creditado, posso desabafar: quase todo dia, quando saio de casa para vir trabalhar, dois acontecimentos se repetem num intervalo de quinze minutos: de saída tomo um susto e, depois, passo a me considerar o cidadão mais alienado do país. O susto fica por conta do jornal que religiosamente encontra-se jogado no jardim da minha casa, cujas manchetes e chamadas da primeira página vou lendo enquanto desço à rua para pegar a condução. As razões da alienação é que, como não vejo TV ou ouço rádio pela manhã, ao contrário das pessoas com quem “travo” as primeiras conversas, não sei “as quantas anda” o trânsito, se a previsão do tempo informada na noite anterior se confirmou quem está disputando o “Jogo Duro” ou a “Fazenda” ou quem é o novo garotão que a Suzana Vieira está bancando.  Poderia deixar de passar por isso, mas como sou viciado em leitura e, no Rio, só O Globo pode ser considerado jornal, por absoluta falta de opção e fazendo uma força danada para conter os meus “instintos mais primitivos” (como diria o “ímpio” Roberto Jéferson) – leio o matutino da família Marinho que, comumente, promove “tiroteios” contra governo federal, a cidade do Rio e o funcionalismo público. Para as duas primeiras guerras – desprovidas de “mocinhos” – as “justificativas”, segundo as “más línguas’, são de que os ataques contra o governo federal decorrem da escolha do bilionário padrão digital brasileiro de TV e rádio, contrária aos interesses das Organizações Globo. Contra a cidade do Rio, o motivo era a presença do César Maia (a quem também abomino) na prefeitura. A torcida é para que agora, mesmo que o jornal fique contra o atual prefeito, se posicione a favor da cidade. No nosso caso, a “bronca” decorre dos fatos de recebermos salários dignos e possuirmos direitos, prerrogativas imperdoáveis para servidores públicos na visão do jornal. Sob o signo da “crise”, O Globo liderou uma batalha “sangrenta” pelo adiamento do reajuste de julho e, quem sabe, no melhor dos mundos para eles lá, pelo simples cancelamento. Enquanto isso, na TV Globo, Fausto Silva, renovou o contrato pela bagatela de cinco milhões mensais, com direito de vir ao Rio para gravar no jatinho da emissora.  Ainda bem que nos encadernados de O Globo circulam notícias aprazíveis. Nas revistas, nas páginas de esportes, nos quadrinhos e “nas sociais” que, não raro, leio em seguida às informações sobre o país, a cidade e a economia, é onde amenizo minhas primeiras sensações, de que o país está prestes a explodir, de que o Rio é a pior cidade do mundo, e de que os grandes culpados por todos os males brasileiros, “quiçá do mundo”, somos nós, os servidores públicos.

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