OS GARIS DA COMLURB

    Com pouco destaque na mídia, duas notícias, sobre um antigo e o prefeito em exercício de Friburgo, mostraram fatores que muito contribuíram para o drama da cidade.             A primeira, uma notinha na coluna do Góis, no Globo, informou que, nas duas gestões do ex-prefeito Paulo Azevedo – encontrado soterrado na sua casa, em Friburgo, semana passada – a favelização da cidade aumentou bastante. “Paulinho”, como preferia ser chamado, não tinha preocupação com a organização administrativa, social, econômica, ou com o futuro da cidade. Populista, freqüentava as encostas para aparecer na mídia beijando crianças ou abraçando senhoras idosas.   Tivemos uma diferença pessoal antes dele se tornar prefeito. E suas ações à frente da cidade aumentaram o asco que nutria por ele.             Outra notícia de O Globo deu conta de que o prefeito friburguense em exercício anunciou que as famílias que permanecerem nas áreas de risco serão removidas por ação policial, caso não apresentem ordem judicial em contrário. É aí que mora o perigo! Políticos, travestidos de líderes comunitários, orientados por adEvogados, conseguem, de juízes irresponsáveis, liminares que impedem as retiradas dos casebres e das mansões.             Na TV, as imagens da tragédia revelaram cenas emocionantes e diversos heróis.  Uma notícia que me tocou muito foi a de um morador de Friburgo que depositou, quem sabe, os seus únicos dois reais, na conta aberta para os donativos em dinheiro.                O que nenhum órgão de imprensa registrou foi a participação dos garis da Comlurb, que foram levados do Rio para Friburgo para ajudar na limpeza. O relato foi da minha irmã, habitante da cidade.             Os moradores da sua rua foram acordados logo cedo por um grande falatório: eram os garis do Rio que, com o melhor dos sorrisos e fazendo questão de cumprimentar cada morador, estavam tomando posição para realizar suas tarefas.             À tarde, as pessoas da rua, a maioria de classe média alta, se reuniram e resolveram oferecer-lhes um lanche. Sob a alegação de que naquelas circunstâncias os necessitados eram os habitantes da cidade, os trinta garis não queriam aceitar o agrado de jeito algum.             Numa manhã, os moradores ouviram alguns daqueles trabalhadores reclamações de que tinham sentido frio à noite. Investigaram e descobriram que eles dormiram nos próprios caminhões. Entregaram-lhes lençóis, colchas e cobertores.             Algumas adolescentes se reuniram para tirarem fotos do estado da rua. Os garis aproximaram-se e pediram para serem fotografados também. Fizeram orgulhosas poses da “guerra” que estavam travando, em pleno “front” da tragédia, e solicitaram que as fotos fossem divulgadas pelo Orkut para amigos, conhecidos e familiares.  Era a glória e a certeza de que, respeitadas as dimensões, realizavam tarefas tão importantes quanto os bombeiros, militares, etc.            O trabalho dos garis, absolutamente indispensável, não ganha arroubo de heroísmo e nem destaque da imprensa. São pessoas simples e ingênuas, mas com uma grandeza de alma definitivamente comovente, da mesma forma que a da pessoa que fez o depósito dos dois reais.

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