“SUAS EXCELÊNCIAS”

    Há várias eleições que não voto para vereador, porque só ouço, leio e vejo as “suas excelências” distribuindo indiscriminadamente títulos de cidadão honorário das cidades e nomeando ou trocando nomes de ruas, praças e logradouros. Eles também podem aprovar o orçamento municipal e estabelecer leis orgânicas para os municípios. Deve ser a tal que autorizou o BC aumentar o gabarito do prédio do Mecir, no Rio. Se a escolha de novos nomes dos logradouros é quase sempre conduzida através de critérios tortuosos, a troca de nomes, é como diz o Ruy Castro: “Quando morre um ilustre, não faltam admiradores propondo o seu nome para uma rua. Não importa que a rua já tenha o nome de outro ilustre que, em seu tempo, também mereceu ser homenageado – mas cujas glórias esmaeceram tanto que, com os anos, não se sabe mais o que ele está fazendo naquela placa. Alguém então sugere trocá-lo pelo ilustre recém-morto”.Mesmo que não tenha sido a troca de um ilustre por outro, no Rio temos, pelo menos, três exemplos em que essas substituições “não pegaram”: o Estádio do Maracanã passou a ser “Mario Filho”. A Avenida Suburbana virou “Dom Helder Câmara” e a Automóvel Clube passou a ser a “Martin Luther King”. Essas novas denominações, contudo, acabaram restringindo-se à ata da sessão decisória da Câmara e das placas de identificação, passando longe da aprovação e do uso do povão.Ainda aqui no Rio, a moeda de troca mais valiosa é o "Tom Jobim". Em1994, a família do engenheiro Vieira Souto, barrou a ideia de se alterar o nome da avenida para “Antônio Carlos Jobim”. Mas, em 1999, o Galeão mudou para o quilométrico nome de “Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro/Galeão – Antônio Carlos Jobim”. No popular, continuou sendo apenas o Galeão.Semana passada, saiu na imprensa que um grupo de “intelectuais”, liderados pela Fernando Montenegro, foi até ao prefeito carioca reivindicar que o Millôr Fernandes batizasse um larguinho sem nome, também no Arpoador, reduto do frescobol, esporte que, dizem, foi ele quem inventou. O Largo do Millôr foi inaugurado na última sexta, dia 06 de julho.Conta Ruy Castro, que o humorista, que sabia que um dia seria nome de rua em Ipanema, contentava-se em designar um banco na calçada do Arpoador. A sua preocupação era a de não arredar ninguém do seu lugar. Contudo, em minha opinião, previdente como poucos, com essa preferência, provavelmente escaparia de ser desalojado no futuro. Designar nome de banco de praça não dá voto para ninguém.

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