TROCANDO DE CAMISA

    Li que uma das participantes de uma turma de meninas ponderou com as demais que não iria a uma festa chique, numa boate, porque não tinha camisa de time e não iria comprar, já que sequer sabia o nome de qualquer clube de futebol.Para mim a notícia continha duas novidades: a primeira, que haja alguém que desconheça alguns dos clubes do futebol brasileiro. Admito até que se deteste o esporte, mas ignorar a existência de pessoas vestidas com camisas do Vasco e Flamengo pelas ruas, ou é mentira ou a tal mora em Marte. A segunda, descobrir que camisas de clube estão tão na moda que se tornaram, entre os jovens, guarda-roupa apropriado para festas chiques.O meu primeiro sonho de consumo em matéria de roupa foi a calça “Far West”, de “Brim Coringa”, que passei a usar com a bainha dobrada para fora, inspirado no John Wayne.Contudo, logo depois, passei a namorar camisas; a primeira foi a de “Ban Lon”, uma espécie de malha, sucesso entre os adolescentes da época. A seguir, sugiram às camisas “Volta ao Mundo”, feitas de um tecido sintético que não precisavam ser passadas. Deixei de usá-las porque percebi que acentuavam o cheiro de suor. Com a explosão dos Beatles, pensei em adotar um terninho igual ao deles, mas faltou coragem para usar aquelas camisas de golas redondas. Mas, adotei calças boca de sino. Vendo as fotos daquela época, custo a acreditar se era eu mesmo.”Seguidinho”, surgiram as camisas quadriculadas compondo o novo guarda-roupa com as calças Lee e Lewis importadas que deveriam ser mantidas como novas. Por isso, tinha gente que  passava um ano sem lavar as calça. Mas, a explosão do movimento hippie “virou a casaca” do vestuário: o “must” era usá-las desbotadas com água sanitária.O estilo “Paz e Amor”, camisa de flanela decorada com florezinhas, calça desbotada ou listrada, bolsas a tiracolo e longos cabelos (o meu era pixaim – ainda tinha – não permitia que eu o deixasse crescer), foi o último estilo de moda que acompanhei. Mas se camisa de time está na onda, estou atualizado. Tenho várias: do Santos, do Vasco e do Friburguense. Detalhe, nenhuma delas exibe o nome ou o logotipo de patrocinadores. Não admito ficar igual aos torcedores do Fluminense que desfilam orgulhosos com camisas onde o nome da patrocinadora – UNIMED – se destaca em primeiro plano, deixando os símbolos e cores do clube com coadjuvantes.Para finalizar: caminhava vestindo uma camisa do Santos, onde havia, no peito, um enorme logotipo da “Bom Bril”, quando cruzei com outro transeunte, que também vestia a camisa do Santos, listrada e com a mesma publicidade. Passamos um pelo outro ele disse: “BOM BRIL!” Parei e respondi: “BOM BRIL? É O SANTOS PÔ!” Se já não gostava, depois disso, nunca mais usei uma camisa patrocinada. Só que até  hoje convivo com uma dúvida: e se ouvi mal e fui grosseiro ao responder uma simpática saudação de “Bom Dia”?.

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