Vai Seguindo a Procissão

    Vamos caminhando para as eleições deste ano. O candidato Serra já se ajeitou com uma vice, a bonita Rita Camata. Para a concretização deste, digamos, “noivado”, houve um sururu dos grandes, um verdadeiro quebra-pau na “família” da noiva, o PMDB. Prós e contras se engalfinharam numa contenda digna da tragicomédia em que vem se transformando a política brasileira há algum tempo.   Se alguns descontentes mudaram de opinião, após “convincentes” argumentos tucanos, outros preferiram manter a coerência de ser contra aquela união. Claro que levaram a pior, pois neste universo da política nacional, atual, ética, coerência, decoro, honra, passam a muitas milhas de distância da realidade.   O Sr. Itamar pediu seu boné, que já estava na mão do porteiro, pois consta que foi a terceira vez que saiu do PMDB. Bom, se não foi a terceira foi a segunda. Quando voltará? Começaram as apostas.   O Lula, assim como o Ciro e o Garotinho andam de lanterna na mão à procura de alguém que forme o par ideal. É um tal de puxa para lá, puxa para cá, não me empurra, deixa eu pensar, que até parece darem tanta importância ao vice. Bem, o do Tancredo acabou sendo presidente, mas foi uma das raras exceções. Antes, porém, não tivesse sido.   O Garotinho, metido a fazer piadas, apregoou que estava procurando uma mulher, para vice, lógico. Repetiu algumas vezes e aquilo não deve ter ecoado bem sob o teto familiar e político do candidato. Agora parece que ele quer um homem mesmo. Para vice, repito, não me interpretem mal.   Lula parece que vai formar par com o ilustre empresário do PL. Quem diria, hein? Ah se Sérgio Porto estivesse vivo. Dizem que em política é assim mesmo. Eu digo: agora, porque houve tempo em que havia mais coerência, dignidade, seriedade e ideário político.   Mas, já que “hoje é assim mesmo” pressinto que nasce e cresce em mim uma forte ideofobia, pois sou alérgico a certas idéias “modernas” do pensar político, brasileiro e internacional. Ainda bem que estou ultrapassando a curva de chegada rumo à reta final. Triste seria ser jovem agora. Talvez nem lhes leguem o que mudar. Se pelo menos não lhes roubarem a esperança já será lucro.   O candidato Ciro Gomes já se ajeitou com um vice egresso da Força Sindical, que o apóia. Isto fez com que puxassem a orelha do Medeiros, fundador e ex presidente daquela Central Sindical. Poucos dias antes, este anunciara, em reunião com a cúpula do PT, que, pela primeira vez na vida iria apoiar o Lula, e o abraçou.   Ocorre que Medeiros é integrante do PL, que apóia Lula. Até aí vencia a coerência, apesar de tudo que ele antes dissera do PT e de seu candidato. Mas, porém, todavia, contudo se o vice de Ciro é da Força Sindical… bolas, estão querendo me fritar as idéias!   Bem, no final o Medeiros deve pôr o pé direito num estribo e o esquerdo no outro, claro. Assim conserta-se o que estava desequilibrado, harmoniza-se outra incompatibilidade, embora o dicionário, no sentido da lógica, diga o seguinte sobre incompatibilidade: “Disjunção que só é falsa quando são verdadeiras as duas disjuntivas”. Certamente ninguém vai achar que ele, Medeiros, perdeu as estribeiras, ou que eu estou perdendo o juízo! É a nossa política.   Mas, para além dos vices, os candidatos discursam, semeiam promessas, gastam pequenas ou grandes fortunas com propagandas no rádio, na TV, em cartazes, etc, além de viagens para todo lado, usando jatinhos, hotéis e tudo o mais. E tome despesas.   O jornalista Boris Casoy, excelente âncora do jornal da TV Record, quase toda noite cobra dos candidatos uma transparência total com a comprovação da origem de todo o dinheiro que estão financiando seus gastos de campanha. E ainda estamos bem longe das eleições, imaginem quando nos aproximarmos delas! O Sr. Boris clama, insiste, mas os “cavaleiros da esperança” nem se tocam. Ou melhor, vão tocando a procissão dos gastos na surdina das origens.   Já que ninguém, ninguém presta contas como deveria ser, e acaba ficando por isso mesmo, para nós, como povo e eleitores, sempre desrespeitados, inclusive no direito de conhecermos a origem da dinheirama que serve de combustível na campanha dos políticos, só nos resta vestir a eterna fantasia de palhaço, sair de casa e ir votar, e ainda bater palmas no dia da posse.   Tenho eu cá a impressão de que na origem dessas “verbas de campanha” estão aquelas tais de “forças ocultas” do poder. Ou alguém acredita que quem “investe” não vai depois cobrar “dividendos”? Como diria o meu  bom amigo, vizinho,  síndico e português, o José Antônio: “Ora, pois, pois, caro Simões.” E não há exceção para nenhum dos candidatos, pois todos aceitam “sócios” de campanha que, ao final, acabam por se tornar “acionistas” do poder.    Enquanto segue a procissão  todos se transformam em “costureiras”. Haja propostas, acordos, alianças, pactos, na base do que dizia aquele personagem da Escolinha do Professor Raimundo, do Chico Anísio: “Fazemos qualquer negócio”. E fazem mesmo. Vejamos alguns rápidos exemplos.   A  bonita deputada Rita Camata vinha sendo crítica sagaz do governo FHC. Mas, aceitou ser vice, na chapa de Serra, o representante do governo que tem merecido dela duros julgamentos. O pior é a gente ter que aceitar como “normal” tanta incoerência, tanta contradição, tanta falta de lógica, e mais não digo em respeito à deputada que até admiro por suas posições, anteriores, bem entendido.   Nesta mesma aliança, no Rio de Janeiro, estendida ao PFL local, inserem-se os fatos a seguir que “pesquei” na coluna do excelente jornalista Élio Gáspari, em “O Globo” de 02.06.2002. Leiam essas pérolas do politicamente correto, segundo interpretações da incoerência absoluta: “…mas veja-se o que aconteceu na quinta-feira, quando Serra e o prefeito César Maia abraçaram-se afetuosamente no Rio de Janeiro. O prefeito disse que chegara a hora de “levantar o véu da hipocrisia” e proclamou: “Somos a continuação do governo Fernando Henrique Cardoso.”   Permito-me perguntar junto com o jornalista: “Hipocrisia de quem, grande chefe branco?” Esta indagação tem plena justificativa no que recorda Élio Gáspari, a seguir, na mesma matéria, sobre o fato de que há exatos dois meses, no dia 3/abril, César Maia disse o seguinte:   “O povo brasileiro não quer que o próximo presidente da República seja a cara do presidente Fernando Henrique Cardoso. (…) A candidatura de Serra, à medida que vai se transformando na cara de Fernando Henrique, vai se inviabilizando.” Aí faço eu: Shhhiiiiiiiiiii…   Mas, pensam que o prefeito se importará de ter sido apanhado em flagrante, digamos, “adultério-político-vocabular-adjetivado”? Não está nem aí. Assim são os políticos, pelo menos alguns. Aquela imensa cara de pau.   Ora, quem se lançou na política pelo PDT, pela mão do Sr. Leonel Brizola, atuando como Secretário de Fazenda no primeiro governo deste, no Rio de Janeiro, depois, com ambições políticas não compartilhadas por seu chefe, saiu do PDT e andou por  outros partidos, num rumo em direção à direita, não surpreende que tenha ido pousar logo no PFL. E ele fala em hipocrisia, agora? Oh!   Seguindo a procissão, continuemos ainda falando deste expoente da política brasileira: César Maia. No mês de maio deste ano, ele previu que o candidato Serra iria renunciar. Saiu em todos os jornais. Porém, como também diz Élio Gáspari: “Os astros quiseram que subisse em seu palanque antes que o mês (de maio) terminasse.”   E ele mesmo, o prefeito, recentemente andou atacando Lula com a crítica de que o candidato petista diz uma coisa na TV mas seu partido, age de forma bem diferente no Congresso. Ele até tem razão, mas, é o roto falando do remendado. Ou o PFL, do Sr. César Maia, no Congresso não vinha, até a pouco, procurando complicar a vida do governo do PSDB, do qual Serra é o legítimo representante? Oh vida, oh céus!!   Na procissão dos políticos rumo à “catedral” do planalto eis que Lula e Orestes Quércia são flagrados lendo o mesmo catecismo. Lula, mostrando que tem aprendido muito, desde que não mais selecionou suas companhias, mesmo sem ser sociólogo, só faltou afirmar: “Esqueçam tudo que eu disse antes sobre o Quércia.”   Seria uma forma “cardosiana” de Lula justificar a declaração que deu a seguir, tentando legitimar sua nova postura em relação ao ex governador de S. Paulo: “Bem, nunca se provou nada contra o Quércia quanto a denúncias de corrupção”. Chega, cansei por hoje. Paro, antes que tenha que ouvir o mesmo sobre Maluf.

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